Home > Destaque > As candidaturas do ex-líder do Dead Kennedys, Jello Biafra, a cargos políticos nos EUA

As candidaturas do ex-líder do Dead Kennedys, Jello Biafra, a cargos políticos nos EUA

20 de outubro de 2016, por Norberto Liberator Neto
Lifestyle

Que este é ano de eleição aqui e nos Estados Unidos, não é novidade pra ninguém. Temos sido bombardeados por essa informação, mesmo que tentemos fugir dela. E por falar em pleitos municipais e presidenciais, trazemos hoje duas ocasiões em que um dos caras mais punks do mundo levou seu ativismo político às últimas consequências, no maior estilo “Som sujo, ficha limpa!”.

Estamos falando de Jello Biafra e suas candidaturas a prefeito de São Francisco, Califórnia, e a presidente dos EUA. Comecemos pela primeira empreitada. Em 1979, o polêmico líder do Dead Kennedys tinha apenas 21 anos de idade e escandalizava a burguesia californiana com a alta dosagem de ironia de suas letras que falavam, entre outras coisas, sobre matar pobres e crianças.

A banda era o terror de quaisquer pais conservadores, que viam nas mensagens sarcásticas e na postura dos membros uma ameça ao nada bom, mas muito velho “American Way of Life”. E pra ser mais ameaçador, Jello decidiu se lançar candidato à prefeitura de sua cidade. San Francisco, à época, tinha cerca de 675 mil habitantes e era um dos centros da contracultura que efervescia no país todo, principalmente na Califórnia, com o surgimento das primeiras bandas definidas como hardcore punk, dentre as quais os Kennedys se destacavam.

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

O vocalista foi candidato de forma independente, sem ligação com partidos. Suas propostas incluíam obrigar políticos e executivos a andar com nariz de palhaço, promover eleições diretas de policiais pela população e fazer leilões de cargos oficiais em praça pública. A candidatura teve grande repercussão – sobretudo negativa – na imprensa e opinião pública. Confrontado por um repórter que questionou a seriedade de sua campanha, o prefeitável respondeu: “sou mais sério do que qualquer outro candidato”. Com cerca de 3% dos votos, ficou em quarto lugar entre 10 candidatos.

Depois de 21 anos, em 2000, Biafra voltou a concorrer a um cargo público. Desta vez, com um objetivo ainda mais audacioso: o de ser presidente da nação mais poderosa do mundo. Ele aceitou o pedido do Green Party (o partido verde de lá, que, ao contrário do brasileiro, é de fato ligado a causas ecológicas e de esquerda) para ser pré-candidato e escolheu o ex-líder dos Panteras Negras, Mumia Abu Jamal, como vice.

jellomayor

Foto: Reprodução

Para o cargo de chefe do Executivo nacional (e do mundo), Jello trazia propostas ultrarradicais, mas não estapafúrdias como as de duas décadas antes. Entre elas, estavam as seguintes medidas:

– Acabar com o investimento em armamentos, desmantelar o programa nuclear e utilizar o orçamento destinado à Defesa para limpar sujeira tóxica;

– Criar um fundo para reconstrução de cidades (importante levar em conta que os EUA costumam enfrentar desastres naturais) e auxílio a países do terceiro mundo;

– Acabar com o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e com a Organização Mundial do Comércio;

– Descriminalizar todas as drogas;

– Extinguir a pena de morte;

– Sentenciar fabricantes de armas a indenizar todas as vítimas e/ou familiares pelos incidentes que causarem, além de reconstruir locais destruídos por guerras;

– Promover uma reforma educacional para tornar o ensino mais democrático;

– Estabelecer eleições diretas para policiais com gestões de quatro anos.

Como se pode ver, Jello amadureceu suas ideias, embora tenha se mantido ideologicamente à extrema esquerda do espectro político. Ele conseguiu apoio considerável dentro do partido, mas não conseguiu vencer Ralph Nader nas prévias. O final das eleições de 2000, já sabemos: em um dos processos mais escandalosos já vistos na história, o caipirão de extrema-direita George W. Bush (republicano) venceu Al Gore (democrata) que, embora seja visto como um ambientalista radical, não chega nem perto do grau de militância de Jello.

jello_for_mayor

O saldo foi milhares de mortos no Oriente Médio e a conta do Estado Islâmico aí pra humanidade pagar, graças às aventuras intervencionistas do político que é um orgulho pro papai Bush. O ex-vocalista do Dead Kennedys não se candidatou mais, mas continuou engajado na política. Este ano, apoiou o pré-candidato democrata Bernie Sanders, mas depois da derrota do “vovô socialista” nas prévias do partido, não se manifestou mais sobre a eleição, limitando-se a algumas críticas ao pitoresquíssimo Donald Trump.

Com suas ideias que, à primeira vista, podem parecer malucas, Biafra simboliza a essência do que o punk e o próprio Rock ‘n Roll representam: a luta pela liberdade total de todos os seres e contra a caretice. Com sua sagacidade, ele eleva esse ideal ao patamar máximo para que, mesmo sem jamais alcançarmos integralmente, busquemos fazer do mundo o melhor lugar possível. Jello para Presidente!

Matérias Relacionadas
O Último dos Moicanos - Asteroides Trio
O Último dos Moicanos, da Asteroides Trio, ganha videoclipe animado contemplado pela lei Paulo Gustavo
As Verdades Vão Dizer - Supla
As Verdades Vão Dizer: Supla lança clipe de mais uma faixa de Transa Amarrada
Cólera
“O que é ser punk?”: Veja uma reflexão sobre o termo
Gus Tomb
Psycho Carnival acontece neste mês de fevereiro de 2023

1 Response

  1. serjo

    Legal a matéria.
    Os dead kennedys são umas das bandas mais criativas do rock and roll, com letras sarcásticas, de teor distópico e com toques de humor negro. Me lembro que quando ouvi os kennedys pela primeira vez, acho que foi too drunk to fuck, me pareceu som de perseguição policial de trilha sonora de filme. O Winston Smith é genial com suas colagens e ilustrações (fiquei tão de cara com a arte da capa do álbum Bed Time for Democracy, que a reproduzi num papel A2). Por viver numa sociedade civil já bastante aperfeiçoada e rica tecnologicamente , Jello se sente mais à vontade para explorar seu lado artístico, bem como de ativista, mas duvido de suas boas intenções como defensor de causas esquerdistas, pois já vi foto dele com camiseta estampando a logo da entidade EARTH FIRST….o ecofascismo pode ocorrer e justificará a morte de muitas pessoas nesse planeta por meio de um tribunal marcial apoiado na constituição da entidade GAIA.

Deixe um comentário