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Da arte ao lifestyle: As mudanças no universo das Pin-Ups ao longo dos anos

22 de agosto de 2017, por Mirella Fonzar
Lifestyle

Mulheres da cena rockabilly de Londres dos anos 1980 (Foto: Reprodução)

Apesar de ser um tema bastante abordado aqui no Universo Retrô – com reportagens e dicas sobre moda e lifestyle, entrevistas, produções de ensaios fotográficos, calendários, eventos, desfiles, concursos, e afins -, ainda não havíamos publicado uma matéria que explicasse exatamente o que é uma Pin-Up Girl.

No entanto, recentemente, sentimos a necessidade de desmistificar a máxima de que as Pin-Ups (termo que significa “pendurar”, em inglês) se resumem apenas às ilustrações ou fotografias de belas mulheres da década de 1940 e 1950, que os soldados penduravam em seus acampamentos na época da guerra – como muito se fala na grande imprensa.

Soldados em seus respetivos acampamentos (Fotos: Reprodução)

A origem da arte Pin-Up: Bem antes da guerra

É importante esclarecer que a história das Pin-Ups surge bem antes da Segunda Guerra Mundial e se estende aos dias de hoje, porém, de maneira um pouco diferente de seu propósito inicial. Um dos maiores equívocos quando se aborda o tema de forma superficial é, exatamente, achar que essa se resume apenas a uma arte do Mid-Century, que, em consequência, pode ser reproduzida hoje.

Segundo uma pesquisa realizada pelo site Moda de Subculturas, o termo “Pin-Up” foi documentado pela primeira vez em 1941, no entanto, este tipo de arte já aparecia em ilustrações diversas desde 1890; exemplos citados na reportagem são os artistas franceses Jules Chéret e Raphael Kirchner, que já traziam em suas pinturas mulheres em poses sensuais e com ar de ingenuidade.

Artes de Raphael Kirchner, Gil Elvgren e Alberto Vargas, respectivamente (Fotos: Reprodução)

Todavia, a era de ouro da arte Pin-Up acontece mesmo nas décadas de 1940 e 1950, nos Estados Unidos, com as icônicas ilustrações de artistas como Gil Elvgren e Alberto Vargas; fotografias de modelos como Betty Grable, Rita Hayworth e Marilyn Monroe (antes de se tornarem atrizes de Hollywood) para calendários, revistas e afins, ou até a mais subversiva delas, Bettie Page, considerada hoje a “Rainha das Pin-Ups”.

Todas retratando a beleza da época: mulheres voluptuosas, com penteados perfeitamente no lugar, batom vermelho e uma sensualidade quase que velada.

Marilyn Monroe, Rita Hayworth e Betty Grable (Fotos: Reprodução)

A transgressora Bettie Page (Foto: Reprodução)

As diferenças entre as Pin-Ups do passado e dos dias atuais

É importante ressaltar que ser uma Pin-Up nos dias atuais pode ir além das poses e do batom vermelho. Enquanto nas décadas passadas, as Pin-Ups tradicionais eram modelos que posavam para fotos sensuais, com certo ar de ingenuidade, pois era o que a época permitia, as Pin-Ups modernas não precisam ser exatamente modelos, tampouco estamparem fotografias para se pendurar nas paredes – apesar de muitas também posarem para ensaios temáticos ou atuarem como modelo alternativa / retrô.

Wild Women

Ensaio “Wild Women” do Universo Retrô com Pin-Ups da vida real (Foto: Reprodução)

O que nasceu como uma arte, ao longo do tempo foi se transformando num movimento de moda e – por que, não? – numa subcultura composta por mulheres de atitude ao redor do globo, que cultuam o passado (principalmente os anos 1940 e 1950; era de ouro da arte Pin-Up, como citamos) e vivem este lifestyle retrô, cada uma à sua maneira. E é exatamente o que pouco se fala quando o tema são as Pin-Ups atuais: como nasceu esse movimento cultural e por que ele ganha cada dia mais adeptas, inclusive, no Brasil.

Participantes do Pin-Ups On Attack em São Paulo (Foto: AdriManz)

O declínio do padrão de beleza das Pin-Ups

Com as mudanças comportamentais após a década de 1950, como o avanço dos movimentos feministas e a luta pelos direitos das mulheres (como o surgimento da pílula anticoncepcional), a figura da Pin-Up como um símbolo sexual passivo já não fazia mais tanto sentido para a sociedade da época. As pautas dos anos 1960 propunham a libertação do corpo, da sexualidade e o fim da moralidade das décadas passadas.

O padrão de beleza voluptuoso e recatado (como diz a expressão, “sexy sem ser vulgar”), que remetia, inclusive, ao máximo de erotismo que as mulheres da época poderiam chegar, já não fazia mais sentido na era dos Hippies e do “Flower Power”. Assim, até a década de 1980, o termo “Pin-Up” passou a ser algo do passado e a sensualidade e beleza das modelos em voga se tornou algo diferente.

Brigitte Bardot e Twiggy representam a beleza da década de 1960 (Fotos: Reprodução)

Nas décadas de 1960 e 1970, a beleza feminina encarava intensas mudanças. A referência de corpo perfeito passa, então, a ser mais magro e os cabelos usados de forma mais natural. Tanto o cinema europeu, como as revistas de moda exaltavam esse novo padrão; dois exemplos fortes de ícones de beleza desta época são Brigitte Bardot e Twiggy – uma com cabelo mais longo que as décadas anteriores e a outra com um corte mais curto, porém ambas com um ar menos “perfeito” do que as Pin-Ups transmitiam em suas imagens.

Outro grande fenômeno que ajudou no declínio do padrão de beleza dos anos 1950 foi a própria revista Playboy, que nasceu exatamente por conta das modelos Pin-Ups. Porém, com aceitação e crescimento da revista, a publicação passou a seguir as mudanças comportamentais da sociedade e reformulou a estética de suas fotografias ao longo dos anos, tornando o erotismo mais explícito e transformando a mulher em protagonista de suas revistas, ao invés de mero símbolo para contemplação masculina.

Marilyn Monroe

Foto do famoso pôster de Marilyn como “Sweetheart of Month”; a diva foi a primeira a posar nua para a Playboy nos anos 1950 (Foto: Reprodução)

Porém, apesar da influência dos movimentos femininos no início dessas mudanças, a exaltação da magreza por conta da popularização das revistas de moda e o crescimento da indústria da beleza, ao longo das décadas seguintes, colocaram a mulher num posto – novamente – objetificado. Cada vez mais em busca de um corpo perfeito, porém ainda mais irreal do que o padrão antes estabelecido pelas atrizes da Old Hollywood e as modelos Pin-up.

A relação do rockabilly na cultura Pin-Up

Então, as décadas de 1980 e 1990 se tornam o palco perfeito também para a contestação desses padrões, assim como a popularização de subculturas que ditavam sua própria moda, como o caso do Neo-Rockabilly. Com o resgate da música da década de 1950, o gênero ressurge também com a ideia de culto ao passado, que incluía a atitude e o estilo de se vestir como as pessoas da época.

Garotas da cena rockabilly dos anos 1980 (Foto: Reprodução Anitta Corbin)

E como o Neo-Rockabilly nasce com uma estética mais subversiva, cheio de influências do punk rock e dos Greasers (subcultura de rua dos anos 1950), com o passar do tempo as garotas da cena também começam a resgatar o estilo de ícones do underground, como a Pin-Up Bettie Page, que chocou a América por investir num estilo mais fetichista.

Uma das Pin-Ups mais famosas da atualidade, Bernie Dexter também aposta nas Bettie Bangs. Ela é casada com o músico Levi Dexter, um dos precursores do Neo Rockabilly nos anos 1980 (Foto: Reprodução)

Assim, muitas meninas do rockabilly passam a adotar a tão famosa Bettie Bangs (franja curta estilo Bettie Page), enquanto outras mulheres eram influenciadas pelas referências retrô do mainstream da época, como o visual das personagens do filme Grease (1978); das novelas Estúpido Cupido (1976) e Bambolê (1987), que chegavam de forma mais caricata; e o retorno da personagem pin-up Betty Boop em tirinhas ao lado do Gato Felix, também na década de 1980.

Personagens femininas de Grease (Foto: Reprodução)

Portanto, apesar de hoje em dia serem movimentos que andam com as próprias pernas, podemos dizer que o retorno das Pin-Ups tem ligação direta com o revival do rockabilly nos anos 1980 e o início de um movimento pós-moderno de resgate ao passado. Por isso que até hoje podemos notar a ligação entre a cultura musical e a moda retrô em eventos do gênero. Um dos exemplos dessa conexão é o festival Viva Las Vegas, que recebe anualmente, há 20 edições, amantes da cultura retrô; incluindo o rockabilly e o universo pin-up.

Pin-ups na festa na piscina do Viva Las Vegas

Pin-ups na festa na piscina do Viva Las Vegas (Foto: Reprodução)

As influências das divas da cultura Pop

Recentemente uma das responsáveis por trazer a estética Pin-Up de volta aos holofotes esteve presente no VLV: Dita Von Teese. A musa burlesca foi uma das primeiras a investir num visual retrô – inclusive a franjinha à la Bettie Page – e ganhar certa visibilidade tanto na grande mídia, como no underground.

Foi no final dos anos 1980 que Dita começou a se apaixonar pelo estilo das atrizes da Old Hollywood, das divas do burlesco e investir no visual Pin-Up. Porém, depois de fazer alguns trabalhos como modelo e dançarina, a revista Playboy a convidou para o ensaio que a fez ficar conhecida como a nova Rainha do Burlesco, em 1997.

Dita Von Teese

Dita Von Teese (Foto: Reprodução)

Dita Von Teese quando ainda usava as famosas Bettie Bangs em homenagem a Page (Foto Montagem: Blog Moda de Subculturas)

Na mesma época em que Dita abria as portas para esse resgate da beleza, feminilidade e sensualidade do passado, Gwen Stefani, vocalista da banda No Doubt, ganhava destaque na cultura Pop por misturar tendências em voga nos anos 1990 com referências estéticas da década de 1950, como o cabelo platinado e ondulado, sobrancelhas arqueadas, batom vermelho, delineador e topete; como podemos bem observar no clipe de Just a Girl (1995), abaixo.

Muitas outras divas do Pop também investiram na estética ao longo de suas carreiras; desde a precursora do gênero, Madonna, que durante muitos anos apostou no visual platinado à la Marilyn Monroe, até as cantoras mais recentes, como Christina Aguilera e Katy Perry, que são influência direta para a nova geração de Pin-Ups.

Enquanto Katy trouxe a franjinha Bettie Page novamente à tona no mainstream, misturando-a a cabelos coloridos, Christina apareceu por diversas vezes com a combinação loiro platinado, batom vermelho e penteados retrô. Exemplos podem ser vistos nos respectivos clipes de Vogue (1990), California Gurls (2010) e Candyman (2006).

Cantoras Pop, Madonna, Christina Aguillera e Katy Perry (Foto: Reprodução)

Mas, por que a estética Pin-Up conquistou tantas adeptas?

Depois da ditadura da magreza e da hipersexualização imperarem por anos, a estética Pin-Up acabou conquistando o público feminino exatamente por unir essa inocência e feminilidade do passado a uma moda inclusiva para todos os tipos de corpos e etnias; das gordinhas às mais magrinhas, de negras a orientais. Assim, a própria moda de massa se aproveitou desse gancho para retomar roupas, tendências de maquiagem, penteados e toda uma estética inspirada nas décadas de 1940 e 1950, às suas prateleiras nos últimos anos.

Em contrapartida, o avanço da internet ajudou também a popularizar o estilo retrô no underground, ao longo dos últimos 20 anos, e transformar o que se resumia apenas em arte datada numa cultura contemporânea cheia de adeptas ao redor do mundo. Composta por pessoas que trocam informações por meio da rede, marcam encontros, produzem conteúdo, comercializam produtos e realmente vivem um estilo de vida de culto ao passado, que inclui o resgate da moda dos anos 1940 e 1950, decoração, colecionismo e música de época.

Grupo americano Pin-Ups for Vets reunidas (Foto: Reprodução)

É importante ressaltar ainda que, apesar de retrô, a cultura das Pin-Ups não deixa de ser algo atual e que tem tudo a ver com essa corrente de empoderamento feminino que o mundo viu nascer na última década. Portanto, usa-se hoje a estética da época, mas os valores femininos se atualizaram.

Além da questão dos ensaios fotográficos que ressaltam a beleza feminina e que muitas vezes vão contra o padrão estético vigente, observa-se que existe uma certa liberdade em relação ao estilo a ser seguido, que pode variar conforme a personalidade de cada menina.

Entre góticas, mulheres com estilo mais romântico, tatuadas (ou não), modelos alternativas, meninas normais, drag queens, amantes do jazz, do Pop ou do rockabilly, o movimento das Pin-Ups está se tornando uma subcultura bastante democrática, que vai muito além do incrível status de arte retrô.

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7 Responses

  1. Jacqueline

    Uma pessoa que me influenciou muito nesse assunto no mundo vintage e retrô,mas não é muito óbvia é a Marisa Monte.
    Quem foi criança ou jovem nos anos 90,sabe disso,pois ela conseguiu misturar estilos.Cantava Cartola,Titãs e forró ao mesmo tempo.Era uma Neo Diva.
    Até o Nelson Motta já falou que a grande influência dela é Maria Callas.
    O visual dela também me influenciou,pois ela usava delineador,batom vermelho,junto com seu cabelo escuro e cacheado,com a pele branca,apesar de ser carioca.Me identifiquei desde criança,pois também tenho cabelo cacheado escuro e pele branca,sendo carioca.

  2. Rafael Carvalho

    Det odos os artigos que ja l, a respeito do assunto, achei o mais detalhado e esclarecedor. Parabenz pelo trabalho, certamente vou divulgar o testo e conteúdo do site.

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