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Doo-Wop: O gênero de quase um século de harmonia vocal

29 de janeiro de 2016, por Luiz Teddy
Música
The Platters

The Platters (Foto: Reprodução)

Entre os diversos gêneros musicais genuinamente negros, o primeiro a ser aceito pela sociedade branca, sem restrições e na sua forma original, foi o Doo-Wop, que no início era conhecido apenas como “grupos de harmonia vocal”. Hoje, o termo é bastante popular entre aqueles que estão inseridos na cena vintage cinquentista, no entanto, só foi surgir, de fato, anos depois da invenção do gênero.

O termo “Doo-Wop” apareceu pela primeira vez em 1961, no jornal Chicago Defender, quando fãs inventaram a expressão durante uma ressurgência vocal de harmonia, e parou de ser usado em 1964, trazendo a oportunidade para os Beatles criarem um novo cenário para sua música. Foi nessa época que algumas lojas interessadas em vender o velho Doo-Wop, o categorizaram com o termo “Old Town Music”.

O som da palavra (Doo-Wop) representa um dos efeitos vocais mais comuns empregados por esses grupos, portanto a expressão vem justamente da ginástica das vozes. Como não tinham dinheiro para comprar instrumentos musicais, a maior parte dos grupos cantava a cappella, ou seja, sem a inclusão de instrumentos musicais, apenas com vozes. Alguns dos intérpretes, inclusive, imitavam instrumentos em perfeita harmonia. Um exemplo é “Count Every Star”, do The Ravens, em 1950, com vocais que imitam o “doomph”, o arranque de um contrabaixo.

Há confusão sobre qual teria sido a primeira canção a receber a designação de Doo-Wop. Aceita-se como marco o ano de 1955, quando foi lançada a música “When You Dance”, do The Turbans. A canção possui em seu refrão as palavras doo wop, porém a mais antiga a utilizar o estilo é a música “My Prayer”, do Ink Spots, de 1939.

O gênero teve suas raízes nos anos 30 e na música dos anos 40, e evoluiu dos grupos que cantavam o gospel nas igrejas e em áreas urbanas. Conjuntos de quatro ou cinco vozes compunham uma presença pesada de harmonias com alma. Era muito comum os grupos se encontrarem em entradas das estações de metrô, pois, além de se protegerem do frio, as paredes eram azulejadas e garantiam excelente acústica.

Assim, foi no gospel que o Doo-Wop começou de verdade e, posteriormente, as influências de blues foram adicionadas, garantindo à música sua própria identidade. Com o tempo, incluíram instrumentação mínima para cobrir as sofisticadas vocalizações, verdadeiras acrobacias harmônicas que não podiam ser copiadas. Geralmente incluíam os instrumentos nas versões gravadas.

Entre os grupos vocais mais populares estavam The Ink Spots e Mills Brothers. Mais tarde, The Orioles, colaborando no desenvolvimento do gênero com os sucessos “It’s Too Soon to Know”, de 1948, e “Crying in the Chapel”, de 1953. Sem esquecer de The Marcels, The Coasters, The Drifters, The Moonglows, Clovers, Little Anthony and The Imperials, The “5” Royales, The Flamingos, The Dells, The Cadillacs, The Midnighters, The Platters e tantos outros.

O Doo-Wop chegou ao gosto popular em 1951, com músicas de rhythm and blues, como “My Reverie”, do The Larks, “Where Are You?”, do The Mello-Moods, “Glory of Love”, do The Five Keys, “Shouldn’t I Know” do The Cardinals, “I Will Wait”, do The Four Buddies, e “Will You Be Mine”, do The Swallows.

O número de grupos em atividade nos Estados Unidos, em meados dos 50, chegou a cerca de 5 mil, e quase todas as canções utilizavam-se da mesma fórmula. Em 1953, o Doo-Wop era mais popular em Cleveland, Ohio, onde o DJ Alan Freed começou a introduzir grupos negros em plateias brancas, tais como: The Spaniels, The Coronets, The Moonglows e The Flamingos, cuja canção “Golden Teardrops” é um clássico do gênero até hoje.

O Doo-Wop formou também um importante subgênero, o “White Doo-Wop”, filhos de imigrantes de todos os tipos passaram a cantar o gênero, misturado ao estilo dos grupos vocais de música pop branca. Portanto, os brancos também tiveram sua participação e destaque no desenvolvimento do gênero, sendo o mais importante deles Dion & The Belmonts, secundado pelo The Skyliners (Since I Don’t Have You).

O gênero teve um papel significativo na era do rock ‘n roll com duas grandes músicas,”Gee”, do The Crows, e “Sh-Boom”, do The Chords. O sucesso dessas canções foi tão rápido que outros grupos começaram a incorporá-lo em 1955, o ano da descoberta do rock e, por isso, começaram a ser compostas por batidas mais rápidas, uma forma de atrair um público mais novo, composto por adolescentes.

Nesta época, o Doo-Wop estava a ponto de se transformar em um fenômeno nacional nos Estados Unidos, embora muitas canções serem apenas ouvidas em estações de rádio perto das áreas urbanas como Nova Iorque. Muitos países não ouviam o estilo ainda. O primeiro hit pop foi em 1956, com “The Great Pretender”, do The Platters, que conseguiu levar o gênero para o resto do mundo, ainda que sem a necessária identificação.

Fora dos Estados Unidos, não contou com grandes simpatias, apesar do esforço de determinados artistas locais, talvez pela sua raiz essencialmente negra e tipicamente americana. Em Liverpool, Inglaterra, por exemplo, no início dos anos 60, haviam poucos grupos de Doo-Wop, como o The Chants, lembrado nas coletâneas da revista Merseybeat.

Com a ascensão de novos estilos de rock and roll, especialmente da Invasão Britânica, o Doo-wop começou a entrar em declínio. Grupos brancos como Beach Boys, influenciados pelo jazz-vocal (The Four Freshmen, entre outros) mantiveram o estilo com bastante sucesso nos anos de 60, modernizando-o com a surf music vocal e, pouco depois, com o pop sofisticado e a música psicodélica, com vocais cada vez mais trabalhados e complexos.

Vale lembrar também que o Doo-Wop foi de grande importância na construção da Soul Music, sobretudo na gravadora Motown de Jackson Five e The Supremes, nos anos 60 e 70. Alem disso, bandas como Sha Na Na, grupo cômico de rock apresentou versões de sucessos doo-wop, interpretando a cultura urbana daquela época em seus shows, inclusive, se apresentou no festival Woodstock, na efervescência da cultura hippie e do psicodelismo.

Outros grupos como os Darts, Showaddywaddy, Big Daddy, Huey Lewis and the News e Rockapella inovaram e recriaram clássicos do Doo-Wop em versões pops das décadas seguintes, além de criar arranjos interessantes, misturando a letra de uma música com a melodia de outra. Anos depois, o americano The Manhattam Transfer tratou de perpetuar a escola tradicional, enquanto, na Alemanha, o grupo jovem e branco The Chaperals produziu em 1991 o álbum “Another Show”, um fantástico revival do gênero.

No Brasil, o estilo foi representado por grupos como Golden Boys e também teve seu destaque com o The Snakes, liderado pelo, então futuro, Tremendão da Jovem Guarda, Erasmo Carlos, que lançou seu único disco em 1961, contendo um cover para “She-Boom”.

Passados mais de setenta anos, o Doo-Wop ainda segue influenciando as novas gerações, agora integrado a todos os gêneros musicais que ainda valorizam as harmonias vocais.

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1 Response

  1. Mitch Mckenna (Miss HoneyPie)

    Curte Doo-Wop negro, ítalo e tudo junto e misturado?

    So, Let`s Doo-Wop, baby!

    Grupo vocal paulista continua com testes para novos integrantes. Necessário: conhecer e amar Doo_Wop , ser afinado, saber cantar em harmonia, backing vocals e etc.

    No momento fazemos sobre os sons instrumentais originais, ou com violão.

    Estamos realizando testes para grupo instrumental de acompanhamento: baixo rabecão, piano/guitarra e bateria/percussão, ou seja, um power trio será bem aceito.

    Sabemos tocar, mas queremos manter a magia dos Grupos Doo_wop.

    So, Let`s Doo-Wop!

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