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Entenda o que é Psychobilly e como tudo começou

9 de maio de 2018, por Marcial Balbás
Música
Psychobilly

Rocka-rocka-rockabilly psychosis!

Sendo simples e direto, o psychobilly é a mistura do rockabilly dos anos 1950 com o punk rock de meados dos anos de 1970. Elementos musicais e visuais de ambos estilos estão lá, do contrabaixo acústico tocado com a técnica slap (puxar de cordas com o dedo indicador e do meio para a obter sons percussivos); a bateria simplificada, muitas vezes tocada em pé aos moldes da década de 50; porém, com guitarras por vezes mais distorcidas, vocais ora mais gritados.

Mas, isso não é regra geral! Também classificar como um rockabilly up-tempo é uma boa forma de definir o som das primeiras gerações do estilo, que é de fato uma amálgama, podendo pender tanto mais para um lado, quanto para o outro, entre o som das duas mais rebeldes subculturas juvenis.

Lógico que nada disso se deu da noite para o dia, e para entender melhor como se sucedeu, vamos voltar para o fim dos anos 1970, no Reino Unido.

Banda Polecats

Banda britânica The Polecats (Foto: Reprodução)

PSYCHOBILLY BRITÂNICO

A primeira onda do punk rock de 1976 e 1977 já perdia a força e a juventude britânica procurava algo novo, ou talvez, ressuscitar algo velho em uma nova roupagem.

Bandas como Polecats, Blue Cats, Restless e Deltas apareceram nesta época, influenciados principalmente pela forma mais primitiva de rock’n’roll. Mas, devido a época, já com alguma influência externa, principalmente no caso do Polecats, com alguns elementos do punk rock e da new wave em seu som. O visual também mudara, topetes maiores, descoloridos, mais cores nas roupas e suéteres de lã.

Polecats e Restless

Polecats e Restless, dois dos maiores nomes do neo-rockabilly britânico. As cores e a moda new wave misturadas com o look rockabilly são elementos marcantes da época (Foto: Reprodução)

A cena britânica crescia e chamava atenção até fora do país, tanto que os americanos do Stray Cats, talvez o maior nome do rockabilly dos anos 1980, se mudaram para o Reino Unido nessa época para tentarem pegar alguma carona nesse tal neo-rockabilly.

Podemos dizer que o neo-rockabilly é o verdadeiro irmão mais velho do psychobilly e uma linha tênue separa os estilos em seus primeiros anos de existência.

Legendary Raw Deal

Legendary Raw Deal – O embrião que daria origem ao The Meteors, no centro, de branco, P. Paul Fenech, e atrás, de preto, Nigel Lewis – inventores do psychobilly (Foto: Reprodução)

Uma dessas bandas que surgiu na explosão do rockabilly britânico foi um quarteto chamado Legendary Raw Deal, que posteriormente virariam os percursores do psychobilly, The Meteors. P. Paul Fenech, vocalista e guitarrista de ambas as bandas, era um garoto genial, e descontente com a cena musical da época, queria algo novo.

Ao se juntar com Nigel Lewis (também vindo do Legendary Raw Deal) e o baterista Mark Robertson, criaram o The Meteors. A proposta era simples, porém, inovadora: tocar rockabilly mais rápido, com letras com boas doses de terror, psicose, referências a filmes B e quadrinhos.

Enquanto as bandas de neo-rockabilly cantavam sobre carros antigos, amores colegiais e milkshakes, o The Meteors chocava ao misturar temas sinistros com seu rockabilly psicótico. Em 1981 veio o disco debut da banda, In Heaven, nascia aí o psychobilly!

The Meteors

O The Meteors em sua primeira formação, responsável pela gravação do álbum “In Heaven”.
Da dir, para a esq. – Mark Robertson, Paul Fenech e Nigel Lewis (Foto: Reprodução)

Entre 1980 e 1984 diversas bandas por todo Reino Unido apareceram sob o rótulo psychobilly. Havia uma grande diferença de estilo musical entre as bandas, já que não havia, até então, uma fórmula muito concreta de como se fazer psychobilly. Então, grande parte foi englobada no rótulo por estética, como, King Kurt, The Sharks, Ricochets, The Vibes, Guana Batz, Frenzy, Stingrays…

A influência, além do clássico rockabilly americano e punk rock, era o Teddy Boy rock e rock’n’roll inglês dos anos 60 e 70 de bandas e artistas como Crazy Cavan and The Rhythm Rockers, Riot Rockers, Matchbox, Freddie Fingers Lee, Screamin’ Lord Sutch, Johnny Kid and the Pirates e garage rock, como The Cramps, The Mummies, The Sonics…

O incrível "Wreckin' Crew"

O incrível “Wreckin’ Crew” do The Meteors criou novos parâmetros de como se fazer psychobilly (Foto: Reprodução)

O grande divisor de águas foi o segundo disco do The Meteors Wreckin’ Crew, de 1983. Reformulando totalmente a banda, sobrando apenas Paul Fenech nos vocais e guitarra, optaram pelo baixo elétrico ao invés do acústico, e com um som muito mais agressivo, a banda firmara nossos preceitos de como se fazer psychobilly.

Daí em diante houve uma padronização no estilo e um distanciamento maior ao rockabilly. Uma nova geração de bandas, essas já influenciadas primordialmente pelo som psychobilly, estava surgindo, não só no Reino Unido como por toda Europa; e não muito tempo depois, Estados Unidos e Brasil.

Já sobre uma segunda fase do psychobilly, a partir do meio dos anos 1980 até o meio dos anos 1990 falaremos mais a respeito em uma matéria futura.

KLUB FOOT

Torment

Torment – Uma das mais conceituais bandas da era Klub Foot do psychobilly. (Foto: Reprodução)

Aberto em 1982, o Klub Foot foi o principal clube londrino de música psychobilly, com shows regulares das principais bandas da cena. Foi o berço do psychobilly de 1982 até 1988, quando o clube foi demolido para dar espaço à uma estrada.

Por lá passaram bandas chave das primeiras gerações do psychobilly como The Meteors, Guana Batz, King Kurt, Pharaohs, Klingonz, Highliners, Batmobile (Holanda), Torment, Skitzo, Tall Boys, Frenzy e muitas outras… grande parte dessas bandas estão em atividade até hoje!

Klub Foot

Coletânea ‘Stomping At The Klub Foot ‘ Volume 5 (Foto: Reprodução)

Há também um ótimo registro, essencial para todos aqueles que querem conhecer um pouco mais da cena da época, que é a coletânea Stomping At The Klub Foot (ABC Records – de 1984 até 1987), uma coleção em 5 discos com performances ao vivo de muitas bandas psycho, neo-rockabillies e garage rock. Também lançada em VHS e posteriormente em DVD com vídeos das bandas. É um item primordial para apreciadores do psychobilly!

O VISUAL

Igualmente como a música psychobilly, o visual de um psycho é uma mescla entre o punk e o rockabilly. O topete dos rockabillies, ícone visual dos anos 50, foram incorporados, porém, raspado dos lados, como um moicano punk. Topetes desproporcionais, enormes, coloridos ou descoloridos também formam o visual.

The Ricochets

The Ricochets – Da primeira leva de bandas psychobillies dos anos 1980. Pontuam muito bem o visual dos primeiros psychos (Foto: Reprodução)

Quanto a vestimenta, é interessante pontuar em épocas; diferentemente de outras subculturas o dress code do psychobilly foi mudando gradualmente ao passar das décadas e anos.

Nos primeiros suspiros do psychobilly, nos anos 1980, reinavam as camisetas brancas (normalmente de bandas), camisas xadrezes sem manga, macacões estilo jardineira também eram bem populares, calças jeans claras manchadas e botas altas. Para o frio suéteres de lã coloridos, jaquetas de couro, bomber ou college. Não havia muita diferenciação do visual masculino e feminino.

Visual Psychobilly

Camisetas brancas, camisas de flanela, botas, calças manchadas. O dress code do psychobilly 80’s (Foto: Reprodução)

Já do final dos anos 80 aos anos 90/2000 o visual foi ficando mais escuro e carregado, mais próximo ao punk, mais camisetas pretas, coletes jeans com patches e bottons de bandas favoritas, muita estampa de onça ou tigre nos detalhes do visual, nos pés botas ou creepers, e topetes muito maiores.

Visual Psychobilly nos anos 90

Mais preto e carregado, o visual psychobilly dos anos 90 em diante (Foto: Reprodução)

Hoje em dia podemos dizer que o visual ficou em parte mais comportado, topetes menores (o flat top – o corte militar alto – é bem comum também), ou cabelo lambido para trás (o chamado slick back), uso de boina, blusas de moletom de bandas e jaquetas estilo Harrington são bem comuns para o frio. Já as meninas adotaram mais o visual pin-up (às vezes com toques de horror) do que os tradicionais topetes raspados do lado.

The Cramps X The Meteors – Quem são os verdadeiros progenitores do psychobilly?

The Cramps e The Meteors

(Foto: Reprodução)

Afinal, quem criou o psychobilly? Esse é um tema de muita discussão e confusão até mesmo entre alguns apreciadores do estilo. Teriam sido os americanos do The Cramps ou os ingleses do The Meteors?

O termo psychobilly foi usado pela primeira vez em 1976 na música One Piece of Time de Johnny Cash; o casal por trás do The Cramps, Poison Ivy e Lux Interior, provavelmente fãs do Man in Black, gostaram do termo e batizaram a sua música de psychobilly.

Fato é, os Cramps eram grandes fãs de música rockabilly, de filmes de terror, quadrinhos e de toda bagagem cultural presente no que posteriormente seria “aquele” psychobilly europeu, mas ao contrário dos Meteors, eles não criaram nenhuma subcultura.

O The Meteors apareceu já com uma identidade visual fortíssima, a mescla sonora e estética do rockabilly com o punk e influenciaram todo um nicho de pessoas e outras bandas que se diziam “psychobillies” também!

Também é bom pontuar que, o som do Cramps, apesar de ótimo, era um garage rock com “alguma influência a mais” de rockabilly, não tão furioso quanto o rockabilly punk do Meteors, que viraria o estandarte do psychobilly, e de todo um modismo musical e estético.

Deixamos a cabo de vocês decidirem! Aqueles que criaram o termo OU aqueles que criaram a mitologia em volta do nome? É um assunto a se pensar!

PSYCHOBILLY NO SPOTIFY DO UNIVERSO RETRÔ

Na playlist As origens do Psychobilly, escolhemos músicas e autores do que seria um pré-psychobilly até os primeiros anos do mais topetudo das subculturas. Da sinistra Gravedigger Rock do Polecats ao violento psychobilly do Meteors, apenas artistas britânicos entre o neo-rockabilly e o psychobilly, para que você possa entender um pouco mais como tudo começou!

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