Atualmente muito se usa o termo rockabilly para qualquer coisa relacionada à cultura dos anos 50 e começo dos anos 60. É um tal de “carro rockabilly”, “dança rockabilly”, “roupa rockabilly”, aquela “música rockabilly do Chuck Berry”. Sim, amigos, por mais absurdo que isso possa parecer para os já iniciados nessa cultura, isso realmente acontece. No entanto, antes de sairmos endemonizando a tudo e a todos, devemos buscar entender de onde surgiu o hábito de usar o termo “rockabilly”, mesmo quando não se tem nada a ver com Rockabilly Music.
Creio que grande parte das pessoas tenha noção de que o rockabilly é uma vertente do rock ‘n roll cinquentista bem peculiar, originária da região sul dos Estados Unidos e que tem características musicais e performáticas próprias, mas que em nada tem haver com carros, cabelos, danças, etc. Mas, assim como qualquer outro estilo musical, está sujeito às influências mercadológicas.
Não só a rockabilly music, mas também o rock ‘n roll 50’s; ambas vertentes acabaram por se tornar obsoletas para a indústria fonográfica, com o decorrer dos anos. Principalmente depois da invasão britânica, os artistas dessa fase primal do rock ‘n roll foram perdendo espaço na mídia, o que fez com que alguns deles mudassem de estilo musical, rendendo-se às novas tendências, enquanto muitos outros fossem se apresentar em outros países, buscando assim um “novo” público.
Diante dessa nova realidade, a Europa tornou-se um terreno fértil para os antigos nomes da primeira fase do rock ‘n roll americano. Diante desse cenário, com o decorrer dos anos, isso também foi mudando, chegando ao ponto em que qualquer grupo musical, mesmo que fugindo totalmente do estilo clássico do rock ‘n roll cinquentista, fosse também intitulado de maneira semelhante.
Ou seja, tudo acabava sendo chamado de rock ‘n roll, até que o produtor e fundador da revista musical e do selo Rollin’ Rock, Ronnie Weiser, no inicio dos anos 70, teve a brilhante ideia de buscar um termo específico para diferenciar esse rock ‘n roll clássico das demais musicalidades, que também eram chamadas de rock ‘n roll naquele período, mesmo que soassem bem diferente do verdadeiro rock produzido nos anos 50 e inicio dos 60.
Mas que termo seria forte o suficiente para nos remeter totalmente à cultura musical cinquentista? A resposta foi quase que imediata: ROCKABILLY, afinal de contas, qual outra vertente do rock ‘n roll teve seu surgimento, auge e declínio dentro desse período de ouro do rock ‘n roll cinquentista? Além, é claro, das fortes ligações musicais com pioneiros como Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Burnette, entre outros.
Sendo assim, ficou decidido que adotariam o termo rockabilly em sua revista musical, a Rollin’ Rock, a princípio somente por uma questão mercadológica, justamente para diferenciar o rock ‘n roll de origem 50’s dos demais estilos de rock produzidos naquele período. Porém, outras revistas de maior circulação, como a Rolling Stone Magazine e a Phonograph Magazine, acabaram também por adotar o termo rockabilly e a realizar o mesmo tipo de divisão que a realizada pela revista Rollin’ Rock, para se referir ao rock ‘n roll 50’s.
Ou seja, quando se falava de rockabilly nessas revistas, na verdade, não era somente ou exatamente sobre a rockabilly music que estavam se referindo e, sim, sobre todos os estilos daquele período, como rhythm ‘n blues, western bop, rock ‘n roll, doowop e também, por consequência, o mesmo ocorria com os cantores desses estilos, como Charlie Feathers, Chuck Berry, Ritchie Valens, Ray Campi, etc.
Então, justamente em meados dos anos 70 e início dos anos 80, houve uma espécie de revival musical e cultural dos anos 50, onde muitos filmes e seriados televisivos voltaram a retratar a juventude americana dos anos 50 e inicio dos 60, o que acarretou no retorno de muitos cantores deste período e no surgimento de uma série de novas bandas voltadas para este gênero musical (como Stray Cats; foto ao lado) e, claro, um novo público jovem para esse estilo, que, por consequência, era tratado de maneira genérica por parte da mídia, como rockabilly, mesmo quando não era de rockabilly music que estava falando.
Esse fenômeno se espalhou pelo mundo todo e foi tão forte que não se restringiu somente à musica. Acabou, por final, migrando para todas as outras vertentes da cultura 50’s, como vestuário, carros, memorabília e demais itens relacionados àquele período. E assim foi durante muitos anos, atá que com o advento da internet, em meados dos anos 90, um mundo de informações se abriu diante de nós e podemos, assim, ter acesso a elas e discernir “alhos” de “bugalhos”. E finalmente começarmos a entender melhor que nem tudo o que provém da década de cinquenta é ROCKABILLY.
Keep on rockin, guys and kittens!