Há 20 anos um dos melhores e mais engraçados capítulos do rock nacional terminava de forma trágica. Os Mamonas Assassinas sofrem um trágico acidente de avião e deixa o Brasil órfão de um dos grupos mais queridos da história da nossa música. Foram mais de 3 milhões de discos vendidos e apenas um álbum lançado durante os 7 meses de carreira, alcançando um sucesso sem precedentes e conquistando uma legião de fãs que jamais parou de cantar suas músicas. Quem nunca ouviu falar da “Brasília Amarela” ou não cantou “sabão crá-crá” na escola (mesmo não sabendo a que estava se referindo)?
O Universo Retrô decidiu fazer sua homenagem ao Mamonas dando voz aos seus fãs. Acompanhe nos relatos o porque do grupo ter feito tanto sucesso e dos motivos que os levaram, mesmo 20 anos depois, ainda serem uma das bandas mais amadas do Brasil.
Jessica Maciel, estudante, 21 anos – Conheci os Mamonas Assassinas ainda criança, através do meu irmão (14 anos mais velho do que eu) que ouvia muito a banda, já que não presenciei o período de atividade deles, pois quando morreram eu tinha apenas 1 ano e 4 meses. Mas comecei a ouvir as músicas deles já no início da minha adolescência, aos 11 anos, depois de uma viagem à Santa Catarina, onde minha prima e eu passamos horas conversando ao som de Mamonas Assassinas.
A partir daí, comecei a ouvir uma música, depois outra, e outras, até me convencer de que a banda era boa mesmo, fugia do normal, do chato, faziam o que queriam, sem medo de julgamentos, sem frescuras, e que era exatamente isso o que me fazia (e me faz) gostar deles. Minha música preferida (e provavelmente a primeira que eu ouvi) talvez seja a mais conhecida deles, “Vira-Vira”. Até hoje, nos churrascos de família, eu, meu irmão e primos nos reunimos (às vezes acompanhados de um violão) para cantar Mamonas. Não há tristeza em um lugar onde esteja tocando Mamonas Assassinas.
Bárbara Quatrin, servidora pública, 28 anos – Eu era criança quando eles fizeram sucesso, tinha 7 anos, então o que mais me atraiu foi a musicalidade e as performances dos músicos. Eles tinham uma energia que contagiava e colocava todo mundo pra dançar. Conheci em um programa de TV, não lembro ao certo se foi Faustão ou Gugu, lembro de vê-los com a família e todos gostarem de primeira. Certa vez eu e meus primos ensaiamos uma coreografia do Vira pra apresentar pra família numa festa de final de ano.
Hoje a gente ri muito, pois éramos crianças dançando inocentemente uma música que falava de uma grande suruba! Acredito que eles deixaram um sentimento de leveza e felicidade, de apesar das dificuldades que o país enfrentava e continua enfrentando, devemos manter a alegria e o bom humor. Além disso, deixaram um legado de dúvida, pois todo mundo que curtia mamonas deve já ter pensado em como seria se eles não tivessem morrido… se teriam feito mais sucesso ou cairiam no esquecimento logo? O que mais teriam produzido?
Marcelo Somrisal, músico, 51 anos – Conhecemos os Mamonas em um show na Vila Matilde (Zona Leste de São Paulo). Nossos amigos comuns Rita Brandão e Dinho Brandão eram os presidentes do fã clube Somrisal. Eles falaram da gente para a banda. Meses depois, o fã clube virou a banda cover. Nos tornamos a primeira banda cover a tocar Mamonas com eles em vida. O nome vem de “som, ouvir e risada = somrisal”. Mamonas Cover Somrisal, nome que foi dado pelos próprios Mamonas. Estávamos na batalha do reconhecimento musical com nosso trabalho próprio na mesma linha dos Mamonas, mas infelizmente após o acidente tudo foi arquivado.
Um ano depois veio a primeira homenagem aos Mamonas e, indicados pelas famílias deles, fomos para o Domingão do Faustão. Daí começou mesmo nossa história, fazendo homenagens em vários programas de tv e rádios. Estamos promovendo o tributo 20 anos de saudades com varias atrações, como exposição de pertences dos integrantes da banda original. Os integrantes da banda cover são: Junior Maninho (Dinho), Marcelo (Sergio), Leonardo (Beto), Giba (Samuel), Leonardo (Bento) e Marcos Yan (Julio Rasec). Nos shows procuramos usar roupas idênticas, fazendo tudo ao vivo e a guitarra é a original do Bento, que foi cedida pela família Hinoto. Nosso lema é “quem não viu ter uma ideia de como era, e quem viu relembrar”.
Felipe Souza, designer, 27 anos – Lembro que conheci a banda em um show que eles fizeram no Domingão do Faustão na época (em 1994 creio eu, no auge do sucesso da banda). Meu irmão mais velho percebeu que eu me diverti muito vendo a performance de “Pelados em Santos” e me deu o icônico CD da banda. Desde então não parei mais de escutar. A característica principal e mais marcante da banda para mim era o bom humor e a originalidade do estilo musical que misturava, às vezes, rock com forró em uma letra muito irreverente.
Com certeza foi uma perda muito grande e o que me marcou foi justamente isso. Sempre me perguntei como algo que fazia tão bem para todos, trazia alegria a todos poderia ter um fim tão trágico. De vez em quando escuto alguma música deles para me alegrar e esquecer os problemas, e imagino que o legado deles seja esse, o da alegria. Sempre tentar encarar a vida de uma forma mais alegre, apesar de todos os problemas que ela nos mande, uma boa risada pode transformar o copo que antes era meio vazio em meio cheio.
Laís Marques, estudante, 20 anos – Na minha percepção fica muito clara a mensagem que a banda queria deixar. A questão do quanto eles se divertiam com o trabalho deles e o quanto eles queriam passar isso pro público, se despindo da coisa “certinha”. E se você parar para pensar na questão do público deles…era muito abrangente, pois eles escreviam as canções na linguagem popular. A sociedade não estava pronto para este tipo de banda (diferente do convencional). Diferente das músicas e bandas de hoje, os Mamonas (assim como Raul e Cazuza) serão lembrados daqui a muito tempo!