“Não existe Greta Garbo. Não existe Marlene Dietrich. Existe apenas Louise Brooks”, declarou Henri Langlois, diretor da Cinemateque Française.
Ela não era misteriosa como suas contemporâneas Garbo e Dietrich. Entretanto, Louise Brooks é uma das mais memoráveis e espetaculares figuras do cinema. Seu corte de cabelo lançou moda entre as mulheres da década de 1920. Versátil, interpretou desde garotas imaculadasa prostitutas; seu estilo de atuação a distinguia dos demais atores e atrizes de seu tempo: atuava de maneira espontânea e despretensiosa, sem a dramaticidade teatral características do cinema mudo.
Namorou homens cobiçados, dentre eles, Charlie Chaplin. Irreverente, dizia o que queria e o que pensava. Tal atitude colocari um ponto final a sua meteórica carreira cinematográfica. Da comédia ao drama, relembre filmes inesquecíveis de Louise Brooks!
Amá-las e Deixá-las (1926) – A comédia romântica “Amá-las e Deixá-las” (Love’Em And Leave’Em), de Frank Tuttle, narra o cotidiano das irmãs Mame Walsh (Evelyn Brent) e Janie (Louise Brooks). A antiquada Mame sente-se responsável por Janie, flapper moderna e insubordinada. Certa ocasião, Mame viaja e, ao retornar, descobre que seu pretendente está apaixonado por Janie.
Risos e Tristezas (1926) – Na comédia “Risos e Tristezas” (It’s the Old Army Game!), dirigida por Edward Sutherland e estrelada pelo aclamado comediante norte-americano W.C Fields, Louise Brooks fez sua quarta aparição nas telas do cinema. O roteiro é baseado no número de revista “The Comic Supplement”, de Joseph P. McAvoy, e inclui sátiras de peças de W.C. Fields. O diretor Edward Sutherland e Louise Brooks casaram-se em junho do mesmo ano, e se divorciaram em 1928.
Mendigos da Vida (1928) – Nancy (Brooks) assassina seu padrasto, após ser violentada. Assustada, foge com um jovem vagabundo que passava pelas redondezas, Jim (Richard Arlen). Disfarçada como um homem, junta-se a um grupo de mendigos. Apaixonados, Nancy e Jim envolvem-se em aventuras para fugir da polícia e alcançar o Canadá. Considerado o melhor filme de Louise Brooks nos Estados Unidos, “Mendigos da Vida” (Beggars of Life) é um dos primeiros filmes mudos a possuir sequências faladas
Uma Noiva em Cada Porto (1928) – (A Girl In Every Port) foi dirigido por Howard Hawkes (diretor de “Bringing Up Baby”, com Cary Grant e Katharine Hepburn, e “Os Homens Preferem as Loiras”, com Marilyn Monroe). A comédia narra a rivalidade entre dois marinheiros, intensificada quando a bela e misteriosa Marie (Brooks) aparece em suas vidas.
Uma nova versão de uma “Uma Noiva em Cada Porto” foi filmada sob o título de “Goldie”, em 1931, estrelando Jean Harlow e Spencer Tracy.
A Caixa de Pandora (1929) – Dirigido por G.W. Pabst, o drama alemão “A Caixa de Pandora” (Die Büchse der Pandora) consagraria para sempre a imagem da atriz. Nele, Louise Brooks interpreta seu alter ego, a prostituta Lulu, mulher imoral, porém ingênua, que seduz à sua volta homens e mulheres, levando-os a perdição e loucura.
O roteiro, também escrito por Pabst, foi baseado em peças do dramaturgo Franz Wadekind, porém há quem afirme que as trágicas e tumultuadas experiências amorosas de Brooks teriam servido de inspiração para a narrativa.
“A Caixa de Pandora” é um dos primeiros filmes a fazer alusão explícita à homossexualidade, tendo sido alvo da severa censura do período. Quase nove décadas após seu lançamento, é considerado uma das obras-primas do cinema alemão e mundial.
Diário de Uma Garota Perdida (1929) – O segundo e último filme da parceria entre Louise Brooks e o cineasta G.W. Pabst, e não menos controverso que a obra anterior. Em “Diário de Uma Garota Perdida” (Tagebuch einer Verlonen), Brooks é Thymian, garota ingênua e comum. No dia de sua crisma, Thymian ganha de presente um diário, onde passa a relatar os acontecimentos de sua vida e suas perturbações de espírito. No mesmo dia, recebe a notícia da morte repentina de sua empregada.
O jovem Meinert (Fritz Rasp), assistente de seu pai nos negócios da família, promete consolá-la da trágica notícia. Oportunista, Meinert violenta Thymian, e a engravida. A garota dá à luz a criança ilegítima, porém se recusa a criá-la. Desonrada, é enviada pela família a um reformatório. Rebelde às severas regras do local, foge. Desolada, é forçada pelas circunstâncias da vida a sobreviver da prostituição.
O roteiro de “Diário de Uma Garota Perdida” é baseado no polêmico romance de mesmo nome, da autora Margaret Böhme, publicado no ano de 1905. Uma primeira versão da obra literária para o cinema foi filmada em 1918 por Richard Oswald, e atualmente encontra-se perdida.
O Drama de Uma Noite (1929) – Essa é a primeira aparição de Louise Brooks no cinema falado, e marca o fim de sua carreira cinematográfica. No suspense inspirado pelo romance policial de S.S. Van Dine, Louise Brooks é “o Canário”, showgirl e atriz do teatro de revista, obcecada pela ideia de casar-se com o jovem rico James Spotswoode (James Hall). Certa ocasião, “o Canário” é misteriosamente assassinado, e somente o renomado detetive Philo Vance (William Powell) será capaz de desvendar o mistério.
A película foi inicialmente filmada como um filme mudo e, posteriormente, dublada. Louise Brooks recusou a oferta de US$10.000 para dublar sua personagem, sob o pretexto de que não tinha obrigações com a Paramount, e retornou a Alemanha para trabalhar novamente com G.W. Pabst. Sua voz foi dublada pela atriz Margaret Livingston. O estúdio advertiu-a de que ela poderia jamais voltar a trabalhar em Hollywood novamente, ao que ela reagiu: “Quem quer trabalhar em Hollywood?”
A publicidade americana envolveu-a em escândalos. Impossibilitada de atuar na Alemanha devido à ascensão do nazismo, Brooks retornou aos EUA, porém foi rejeitada para papéis em Hollywood e não mais interpretou papéis relevantes.
Louise Brooks passou a sustentar-se de diversas maneiras, dentre elas, como florista. Faleceu em 1985, aos 78 anos, em Nova York.