Cada geração conhece um Eric Clapton diferente. Nos anos 60, o power-trio Cream enfeitiçava o público pelo virtuosismo; nos anos 70, o Blind Faith mantinha aceso o amor de Clapton pelo blues e rock’n’roll; nos anos 80, após mais uma internação para se tratar do vício em drogas, o guitarrista reinventa-se e divide a opinião de público e crítica e, nos anos 90, grava seu disco de maior sucesso (MTV acústico).
Na autobiografia, lançada em 2007 pela editora Planeta do Brasil, conhecemos todos esses Claptons. E o que é ainda melhor, através das palavras do próprio Eric. O livro é um desabafo, um acerto de contas e até mesmo uma celebração do músico com sua vida e sua carreira sem igual.
Eric escreve bem, é direto e sabe exatamente quando se alongar num determinado assunto ou apenas citá-lo de passagem. Os primeiros capítulos narram sua infância problemática (ele conheceu a mãe só quando tinha 9 anos de idade e nunca conheceu o pai) e os primeiros anos da adolescência.
Em seguida, Clapton titula os capítulos dos livros com seus projetos musicais: The Yardbirds, John Mayall, Derek and the Dominos, Crossroads…Ufa! Para dar conta de tanto, ele precisou de 400 páginas. Também pudera, imagine que histórias tem para contar o homem que foi a maior causa de Jimi Hendrix aceitar o convite para ir à Inglaterra?
– Hey, Hendrix. Você precisa ir pra terra da Rainha!
– OK, mas com uma condição: quero conhecer Clapton.
Uma delas partiria cedo demais. A primeira vez que viu Hendrix ao vivo, quando conheceu B.B King, qual foi sua primeira guitarra e a primeira grande noitada de sua vida são contadas com o bom humor e a honestidade de um homem que já passou pelo céu e o inferno diversas vezes.
Sobre a pichação ‘Clapton is God’ ele relata: “Eu fiquei meio atordoado com aquele grafiti, e uma parte de mim queria distância daquilo. Eu não queria aquele tipo de notoriedade. Eu sabia que teria problemas. Outra parte de mim gostou muito da ideia. Depois de todos aqueles anos, finalmente estava sendo reconhecido”.
Clapton também reflete bastante sobre anos de alcoolismo, uso de drogas, problemas de relacionamento e a perda do filho. Eric chega a afirmar que na turnê do disco 461 Ocean Boulevard fez 49 shows pelo mundo em estádios enormes e “a maior parte desse tempo é um enorme blackout”.
Quando o disco Eric Clapton Acústico MTV saiu, ele conta que foi o álbum para o qual ele menos se preparou, mas é categórico em afirmar: “Se você quer saber o quanto realmente me custou, vá até Ripley e visite a cova do meu filho (Conor tinha 4 anos quando caiu da janela do 49º andar do prédio em que morava com a mãe, em Nova York)”. Com certeza, é a história mais triste da vida no guitarrista, narrada com emoção e em detalhes de arrepiar.
O grande barato do livro é lê-lo enquanto ouvimos os sucessos e os discos de Clapton. Ao som de Presence of the Lord, descobrimos qual banda impulsionou o músico a fundar o Blind Faith. Enquanto rola, While my guitar gently weeps (Opa! Essa é dos Beatles! Sim, mas Eric foi convidado por George Harrison para fazer o solo), lemos sobre a dor e a angústia de se apaixonar pela mulher de seu melhor amigo.
Enfim, um livro que é uma viagem através do tempo pelos olhos de quem fez história com uma guitarra na mão e muitas ideias na cabeça, para cantar e contar sobre o amor, as alegrias, as tristeza e, claro, sobre a música.