*Este texto contém spoilers
Um dos dramas de maior sucesso na história de Hollywood, Uma Rua Chamada Pecado (1951) foi responsável por revigorar o cinema nos anos 50, trazendo uma trama com conflitos de classes e ideologias. O filme dirigido por Elia Kazan tem roteiro baseado na peça clássica Um bonde chamado Desejo (1947), da Broadway, escrita pelo dramaturgo Tennessee Williams.
A personagem Blanche Dubois (Vivien Leigh) é uma professora requintada, fina e elegante, que vai morar na casa da irmã Stella Kowalski (Kim Hunter), casada com o polonês arrogante, beberrão e mal educado, Stanley Kowalski (Marlon Brando).
Infelizmente, o título do filme A Streetcar Named Desire (Um bonde chamado Desejo) foi traduzido para o português como Uma Rua chamada Pecado, o que acabou mudando um pouco o sentido da trama. No contexto original, Blanche, logo no início, pega um bonde chamado “Desejo” com destino à casa de Stella no subúrbio.
Assim que chega, Blanche fica impressionada com a simples residência que a irmã mora, a maneira como Stanley se comporta e os costumes do bairro. Enquanto ela ainda sente que é da elite (da qual não pertence mais) tem que conviver com Stanley da classe trabalhadora e a luta cotidiana pela sobrevivência.
Diálogos são postos a prova quando ela tenta convencer Stella que existe progresso, pois a sua aversão ao cunhado é evidente. Ela, que aprecia arte, acha um disparate a irmã continuar com alguém tão ordinário, que gosta de jogar cartas e boliche. A competição entre os dois pelos sentimentos de Stella é notável e ela demonstra, muitas vezes, indecisão.
Um fator importante para o sucesso do filme foi a atuação de Marlon Brando no papel do emblemático Stanley, um personagem bruto e agressivo, porém que exala virilidade e sensualidade. A atuação solidificou Brando como novo galã de Hollywood e foi com esse personagem que o ator teve sua primeira indicação ao Oscar; mesmo sendo um dos favoritos, perdeu para Humphrey Bogart, em Uma Aventura na África.
Detalhes marcantes
Sem deixar de mencionar a caracterização de Brando com uma simples camiseta que fez toda a diferença. Para não exagerar, dizendo que a peça era também um personagem, por chamar grande atenção no filme, podemos considerá-la quase que uma segunda pele. O que não dá para negar é que a peça serviu como uma luva para transmitir a mensagem que o personagem precisava comunicar; às vezes ele aparecia com ela suja e manchada, em outras limpa e passada, e em certas ocasiões rasgada.
Atualmente, um dos itens mais populares do vestuário masculino, antes do filme, a camiseta era usada apenas como roupa de baixo ou por esportistas. Na época, Brando disse que o uso da camiseta justa lhe renderia muito mais dinheiro do que sua atuação em questão.
Além desses pequenos detalhes, o filme possui cenas memoráveis que transmitem o lirismo na angústia e matéria social, que o autor Tennessee Williams possui em suas obras. Os códigos de censura que prevaleciam na época retiraram algumas cenas, como o tema da homossexualidade, quando Blanche explica sobre o rapaz com quem foi casada, e o estupro que ficou implícito apenas no momento em que um espelho se quebra.
A importância do clássico
Martin Scorcese aponta Elia Kazan como um cineasta iconoclasta que revigorou a saturada forma de cinema padrão de Hollywood na década de 50 através da ousada temática do filme.
Uma Rua Chamada Pecado venceu 4 categorias das 12 no qual foi indicado ao Oscar. Melhor atriz para Vivien Leigh (Blanche Dubois), melhor ator coadjuvante para Karl Malden (Mitch), melhor atriz coadjuvante para Kim Hunter (Stella Dubois) e melhor direção de arte em preto-e-branco.
Um clássico com atuações brilhantes, o fato é que os dois vestiram as camisas dos personagens, Blanche é a mágica da alma e Stanley é a realidade do suor.
No final do filme nos ocorre a indagação, será que a vítima é manipuladora ou sonhadora?