O escritor George Orwell ficou mundialmente conhecido após o lançamento das obras literárias Revolução dos Bichos, publicado pela primeira vez em 1945 e 1984, lançado em 1949. O primeiro, focado em mostrar as diferenças das classes sociais por meio de alegorias, usando a imagem dos animais para dar um sentindo mais que literal à história, e o segundo mostrando um mundo distópico, dominado por um sistema opressor e autoritário.
O que poucos sabem é que além dessas suas obras marcantes que o colocaram em um grande grau de importância na literatura estrangeira, Erich Arthur Blair – seu nome de nascimento – também contribuiu com a imprensa britânica, escrevendo artigos e resenhas para veículos como New Leader, Tribune e Time and Tide, apenas para citar alguns. Em seus textos que traziam sempre pensamos políticos, Orwell dava ao jornalismo o tom da literatura, transformando um texto que em tese deveria ser racional em obra de arte.
Em O Que é Fascismo? E Outros Ensaios, temos uma seleção dessas obras escolhidas por Sérgio Augusto – jornalista e escritor brasileiro -, que conta com 24 textos inéditos, escritos nos jornais citados acima, no período de 1930 a 1940, unindo uma década dos pensamos de George Orwell.
O livro é o terceiro volume da Companhia das Letras, editora parceira do Universo Retrô, que já publicou outras obras de Orwell, como Dentro da Baleia e Outros Ensaios (2005), uma outra coletânea com uma visão mais panorâmica sobre os textos do ensaista e Como Morrem Os Pobres (2011) com resenhas que retratam os dilemas sociais.
O nome que dá titulo ao livro, O Que é Fascismo?, foi publicado no jornal Tribune na coluna As I Please em 1944, e tenta explicar realmente o que é esse “movimento político”. Em um dos trechos, o autor fala que, mesmo que o fascismo esteja atrelado a algo cruel, inescrupuloso e arrogante é difícil defini-lo. Apesar da palavra estar muito associada aos regimes alemão de Hitler e italiano de Mussolini nos anos 40, essa ainda seria uma definição insatisfatória, pois o termo está além disso.
O autor ainda defende que o termo é usada para definir muitos grupos sociais, como: conservadores, socialista, comunistas, trotskistas, católicos, nacionalista, entre outros grupos, e afirma que da forma como a palavra é usada, inclusive como “palavrão” ou “ofensa”, acaba sendo desprovida de algum significado. Entretanto, o livro não está envolto apenas sobre O que é Fascismo?. Cheio de resenhas, a obra nos trás além de reflexões políticas, críticas sobre livros, filmes e outras personalidades da época, como em O Grande Ditador, uma análise sobre a obra de Charles Chaplin e resenhas sobre obras de outros artistas, inclusive de Oscar Wilde.
Apesar do período em que os textos foram escritos, suas reflexões continuam bem vivas e atuais, fazendo com que e o livro seja uma obra bem contemporânea. Seus pensamentos são bem compatíveis ao momento de tensão política que estamos vivendo no país em que podemos fazer analogias com o momento presente. “O homem comum, desprovido de intelecto, que tem apenas instinto e tradição, sabe que isso não está certo”, é um dos trechos descritos no livro e que faz total conexão com a nossa atual realidade.
Para quem gosta de livros com teor mais político, este livro é ideal. A linguagem simples, direta e objetiva era um dos pontos fortes de Orwell, que consegue trazer reflexões com facilidade para o leitor, que compreende com clareza a mensagem proposta pelo autor.