A cena Psychobilly paulistana entra o mês de agosto com tudo. No mesmo sábado (15) em que a banda Kães Vadius comemora 30 anos de carreira em show no Inferno Club, às 18h, os curitibanos do Ovos Presley se apresentam, logo depois, no Spades Café, a partir das 23h. Ambas as casas ficam localizadas na Augusta, a rua mais underground da capital e queridinha da turma Psychobilly.
Abrindo os dois shows estão os “Voodoos”. Nos Kães, Voodoo Stompers reestreia depois de três anos fora dos palcos, ao lado também de Bad Luck Gamblers. Já nos Ovos, a abertura fica por conta do duo Voodoo Brothers, há cerca de um ano em atividade e que vem se destacando bastante na cena. Discotecagens dos DJs Márcio, Babu Zorch (ambas as casas) e Wagnão completam a noitada.
Como podemos notar, este final de semana promete bons momentos para quem gosta dessa mistura enérgica entre punk rock e rockabilly. Pensando nisso, fomos bater um papo com Rafael Mello, o Cidadão Rancor, batera dos Ovos Presley, sobre as expectativas para o retorno à capital paulista, as novidades do grupo e a cena Psycho em geral.
Como eles mesmos sugerem, a banda curitibana há 22 anos faz um PsychoPunk´a´BillyBoogie pra maloqueiro nenhum botar defeito. Com Ademir no comando dos vocais, Wallace na guitarra, Nei no baixo e Rancor na bateria, podemos esperar um show enérgico e pra lá de divertido, como de costume. Vem conferir essa deliciosa entrevista e programe-se!
Universo Retrô – Como está a expectativa para mais um show em São Paulo, já que não se apresentam na cidade desde ano passado? Como vocês enxergam o público paulistano?
Cidadão Rancor – A expectativa pra São Paulo é sempre muito grande, temos muitos amigos por aí e os rolês são sempre muito legais! Desta vez, ainda temos a sorte de compartilhar a Rua Augusta com os Kães Vadius, banda que faz parte de umas de nossas principais influências, nacionalmente falando a principal. Vamos todos chegar cedo pra prestigiar a festa de 30 anos dessa lenda do rock nacional, no Inferno Club. Vai ser demais! O público paulista sempre nos recebe muito bem e, como disse, temos muitos amigos mesmo! É uma sensação de festa sempre que tocamos em Sampa!
Universo Retrô – Vocês são de Curitiba e por lá existe uma cena super forte de Psychobilly, inclusive, há anos acontece o maior festival do Brasil, o Psycho Carnival. Por que vocês acham que o gênero construiu uma cena tão forte na capital paranaense?
Cidadão Rancor – Esse fortalecimento veio principalmente como resultado de muito trabalho e amizade da galera envolvida desde a década de 80, com as trocas de cartas, fanzines, programa de rádio, Forum Psychobilly, etc. Cada pequeno show organizado, cada banda nova se abraçando pra correr atrás. Depois veio o Psycho Fest, o Psycho Carnival.
Quando você tem uma estrutura assim trabalhando unida as coisas acontecem, as bandas aparecem e o público também. Mas, mesmo hoje, se você der folga para as pessoas que estão nessa correria (Alô, Vlad!), a cena murcha rapidinho. Claro que temos bandas novas surgindo, projetos andando, mas tudo isso depende sempre (e muito) de cada um envolvido. Essa é a beleza (e o preço) de uma cena independente, ela é feita de pessoas unidas por causas comuns. Se as pessoas se afastarem, a cena deixa de existir.
Universo Retrô – O Ovos Presley surgiu em 1994, ou seja, há mais de 20 anos. Vocês imaginariam que uma banda do underground teria essa longevidade toda? Qual o segredo?
Cidadão Rancor – O início é sempre um assunto a ser debatido. Como a memória alcoólica dos envolvidos diretos sempre falha, oficializamos 1993, pois o nome (vida longa ao Paulo Mattos que batizou a banda) já existia desde 1991 e, nessa época, o que exista mesmo eram tentativas de formar uma banda no conceito do que é a banda em questão, mas o nome estava ali o tempo todo! (risos)
Nem a pau alguém imaginava essa vida toda! A ideia da banda saiu basicamente de uma conversa de punks bêbados matando aula, pensando que, talvez, fosse legal criar uma banda Psycho “da galera” pra fazer parte da cena que ia nascendo. Segredo pra longevidade não tem não. O que a gente pode ver pelo histórico do Ovos é que a banda foi sempre formada por pessoas que realmente gostam de tocar. São sempre amigos reunidos pra brincar de Rock’n’Roll. Não existe a pressão de chegar em algum lugar ou ser alguma coisa, tudo que fazemos e que vivemos foi sempre natural.
Universo Retrô – Quais as mudanças que aconteceram na banda desde os anos 90? E na cena psychobilly, como vocês enxergam ela hoje?
Cidadão Rancor – O principal é que muita gente legal passou pela banda e que muitas amizades foram feitas nesse tempo. Parece papo de velho isso de ficar repetindo que fizemos amigos e blá blá blá, mas… Porra, a gente tá velho mesmo, deve ser isso! (risos) Mas, a banda teve fases, do êxtase inconsequente do início até a chance de dividir o palco com quase todas as bandas que fazem parte das nossas influências musicais! Nesse caminho foram muitas cagadas, discussões e brigas.
A cena Psycho hoje em Curitiba parece estar se renovando, temos visto umas caras novas correndo atrás e, a cada final de semana, podemos ver um pessoal diferente, tanto no público quanto no palco, e o Psycho Carnival é sempre um gancho muito forte pra galera se empolgar e começar a correr atrás de montar banda, organizar festas e fazer parte da cena. Não só a galera de Curitiba, mas de todo o País vem pra cá e, durante o festival, ouvimos sempre histórias animadas de alguém com um projeto novo ou contando da cena em sua cidade. Isso é importante e legal demais!
Universo Retrô – Nos shows, vocês usam um capacete de ovo e um jaleco. Faz tempo que se caracterizam assim para apresentações? Quem teve a ideia?
Cidadão Rancor – Nem todos… A ideia era manter as “cascas de ovo” na cabeça, mas elas são frágeis demais pra aguentar os shows e, atualmente, estamos sem esse nosso “EPI” (risos). Os jalecos também abandonamos depois de um show em que tiramos eles, imundos e suados, jogamos numa mochila e esquecemos lá por uns meses. Quando abrimos aquilo vimos que tinha dado perda total. Na verdade, o Ademir ainda usou e foi justo no último show em São Paulo, no dia 13 de dezembro (nunca esqueço a data!), e sem exagero, as pessoas sentiam o fedor só de chegar perto do palco!
Universo Retrô – Você acha que é importante o músico se tornar um personagem no palco? Ou atitude e maluquices de vocês nos palcos é apenas um reflexo de quem realmente são no dia a dia?
Cidadão Rancor – Não, não, isso de personagem é pra algumas bandas com pegada mais teatral, nunca foi nossa pegada. A questão é que a música, principalmente ao vivo, traz uma energia muito foda pra todo mundo e isso, às vezes, reflete num estado de êxtase durante o show. Você é tomado, é mais forte do que você, é uma energia correndo ali entre acordes, distorções e o público todo interagindo. É animal! Sobre maluquices além palco… Como dissemos, não tem muita separação pra nós, temos uma alma Punk/Faça-Você-Mesmo e a banda é uma extensão do nosso dia a dia e vice versa.
Universo Retrô – Os integrantes da banda tem projetos paralelos?
Cidadão Rancor – Temos sim! O Ademir volte e meia aparece com algum projeto, mas acho que, atualmente, só faz um “por fora” com o Wallace no “Dois Ovos Acústico”. O Wallace segue com o pé no Punk Rock com o “Extrema Agonia”. O Nei tá com uma banda foda de Surf chamada “Movie Star Trash” (o batera deles, Matheus, já fez parte do Ovos). E eu (Rancor) também sigo com um pé (ou dois) no punk com o “Faca Cega”.
Universo Retrô – As músicas de vocês são verdadeiros hinos do psycobilly nacional. Dá pra renovar o repertório ou as pessoas querem mesmo saber dos clássicos?
Cidadão Rancor – Dá sim! E isso é mérito do Ademir, essa desgraça tem a manha de fazer umas músicas muito boas. Claro que as antigas sempre estão presentes, mas se pensar hoje em “Apodrecer” e “Minha Prostituta Preferida”, são músicas “novas” que já somos obrigados a incluir sempre.
Universo Retrô – Estão preparando algum material novo? Turnê ou algo do tipo?”
Cidadão Rancor – No final de 2014 nós tivemos uma reunião de diretoria onde decidimos que o foco para o futuro era: SEM PLANOS, SEM FUTURO! Começamos 2015 sabendo apenas que iríamos participar do Psycho Carnival, o resto surgiu por acaso, mas nossa rotina pra esse ano mudou bastante, sem compromisso com ensaios, planos, projetos… Vamos manter assim mais um tempo.
Quase como uma folga mental (porque, na prática, os projetos nunca andavam mesmo e vamos existindo…!). Mas recentemente lançamos o EP split com o Psychors e ficou animal! Psychors é outra banda irmã, igualmente antiga, que já fez muita correria (e cagada) junto com a gente e esse projeto do vinilzinho amarelo foi foda (mas só andou porque eles correram com tudo).
Universo Retrô – Ademir compôs o sucesso “O Enxofre e a Cachaça”, para o Hillbily Rawhide. Isso é algo que vocês costumam fazer sempre? Trocar músicas com outras bandas amigas, etc? Que é o responsável pelas letras do Ovos?
Cidadão Rancor – Então, voltamos a falar do Ademir aqui, ele é um cara fora do comum! Essa música foi feita em parceria dele com o Coxinha, até chegamos a ensaiar mas ele achou que ficaria melhor com o Hillbilly Rawhide, e a gente acha que ele tinha toda razão! As letras são todas dele, com exceção de “Homens Azuis” que é do Marcos Prado, um poeta maloqueiro aqui de Curitiba. E tem muita música que ele chega com a ideia toda pronta, base de guitarra, bateria… Mas não é comum esse intercâmbio de músicas. Apesar que eu sou muito favorável e acho que deveria rolar mais sim!
Universo Retrô – O que esperar do show de sábado no Spades Café? Deixe um recado para os fãs do Universo Retrô! :)
Cidadão Rancor – Olha, primeiro queremos dizer que todos tem a obrigação de comparecer ao show histórico dos 30 anos de Kães, esses caras são os culpados de tudo! Sobre o show no Spades, estamos realmente animados, estaremos realmente alcoolizados e esperamos que todos se divirtam muito mesmo, pois nós vamos, então, esperamos que vocês também! E vida longa ao Universo Retrô! Agradecemos pelo espaço aqui, mandamos um abraço pra todo mundo que perdeu tempo precioso lendo a gente e esperamos vocês todos no show, em Curitiba, no próximo Psycho Carnival.
SERVIÇO
Ovos Presley e Voodoo Brothers
DJ Babu Zorch
Spades Café – Rua Augusta, 339 – São Paulo SP
Sábado, 15 de agosto, à partir das 23h
Entrada: R$ 20
Psycho Attack #6
Kães Vadios, Bad Luck Gamblers e Voodoo Stompers
DJs Márcio, Babu Zorch e Wagnão
Inferno Club – Rua Augusta, 501 – São Paulo SP
Sábado, 15 de agosto, à partir das 18h
Entrada: R$ 15 (lista) ou R$ 20 (porta)
Lista: psychoattacksp@gmail.com