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Biografia “Só Garotos”, ou como se apaixonar por Patti Smith em 280 páginas

4 de setembro de 2015, por Veronica Schneider
Música

Há algum tempo estava numa conversa literária com as amigas, mais especificamente sobre literatura biográfica, e entre um “biografia é o meu estilo preferido” e outro, eis que ouço: “eu adoro biografias, não importa muito se eu eu gosto da pessoa ou não, biografias costumam ser legais”. Diante disso, não tinha como não indicar o livro que vou indicar aqui hoje: Só Garotos (2010), a autobiografia de Patti Smith, que a fez ganhar o National Book Awards, um dos mais respeitados prêmios literários dos Estados Unidos.

Depois de tê-lo lido e considerado um dos livros da minha vida, posso dizer que Só Garotos é muito, muito, mais que uma biografia; está bem mais para uma viagem de volta ao cenário beat norte-americano, da década de 1970, à uma época onde a ideia era “respirar” arte. Me arrisco a dizer até que é um livro nostálgico – de um tempo que obviamente não vivi –, mas quando ouço músicas ou qualquer coisa ligada a esse período, sinto que Patti já me contou tudo o que havia de mais legal por lá.

Estou escrevendo essa resenha há mais de três semanas e nunca consigo achar as palavras exatas para descrever o quanto Só Garotos é encantador. No início do livro, Patti, que cresceu em Nova Jersey, conta sobre sua rotina bastante pacata na cidade, até chegar aos 20 anos e decidir ir à Nova Iorque em busca de uma nova vida. Na mala? Um livro de Rimbaud (poeta que ela tanto amava) e mais nenhum tostão furado.

Só Garotos, biografia de Patti Smith

Livro só garoto de Patti Smith é uma viagem de volta aos anos 70 (Foto: Reprodução)

Em Nova Iorque, ela passa por um período de maus bocados, até conhecer Robert Mapplethorpe, que muda sua trajetória para sempre e para quem Patti prometeu um dia escrever o livro com a história de suas vidas. Juntos, os dois vivem um grande amor, tanto de um pelo outro, quanto dos dois pela arte.

De forma cronológica, Patti conta como os dois eram realmente parceiros de vida. Um exemplo é como quando queriam conferir alguma exposição na cidade, então apenas um entrava no museu e contava para o outro como era tudo lá dentro. Em uma época muito difícil como essa, quando os dois realmente passavam fome, Mapplethorpe chegou a se prostituir para conseguir dinheiro e alimentá-los. Mas, as dificuldades eram pequenas, se comparadas ao sonho de serem grandes artistas, que sempre falou mais alto dentro de ambos.

Robert com a ideia fixa de se tornar um artista plástico respeitado e Patti com o objetivo de disseminar seus poemas pelo mundo. Eles também passam unidos por grandes mudanças, como quando Robert se assume gay e os dois passam a se ver apenas como amigos; ou como quando se mudam para o lendário Hotel Chelsea e convivem com artistas como Janis Joplin, Savador Dalí e Jimi Hendrix.

Patti Smith e Bob Dylan em Nova Iorque, em 1975

Patti Smith e Bob Dylan em Nova Iorque, em 1975 (Foto: Reprodução)

Eles ainda conseguem frequentar o círculo de amigos de Andy Warhol. E essa é uma das partes mais legais, interessantes e curiosas do livro. Patti e Robert passam um bom tempo tentando se inserir na tal távola redonda de Warhol. Depois de se incluírem socialmente, os dois – com talento de sobra – conseguem se destacar com suas formas artísticas, mas ainda sem serem mundialmente famosos.

Patti começa a fazer recitais de poesia, muitas vezes na companhia de Allen Ginsberg, e a transformar suas letras em canções. Já Mapplethorpe passa da carreira de artísta plástico à de fotografo e expressa sua arte através de imagens, em sua maioria de homens nus ou de cenas sadomasoquistas.

Patti e Robert Mapplethorpe, em 1969

Patti e Robert Mapplethorpe, em 1969 (Foto: Reprodução)

No período “pós-livro”, Mapplethorpe deixou sua marca no mundo das artes e se tornou um dos maiores ícones da fotografia. Assim como Patti Smith, considerada a precursora e a grande poetisa do Punk. Seu disco Horses (1975), que teve a capa fotografada por Robert, é um dos mais influentes da história do rock and roll. No entanto, o livro termina sem grandes exaltações, Patti não se vangloria de seus feitos, seu final se dá quando ela recebe por telefone a notícia da morte de Robert, vítima do vírus HIV.

É um livro sensacional! Só é possível entender sua grandeza lendo-o. E mesmo para quem não conhece o trabalho de Patti Smith ou Robert Mapplethorpe é uma grande experiência, de onde é impossível sair sem se tornar admirador de uma das maiores mulheres do rock.

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