O recifense Victor Maristane, “Maris”, é o único brasileiro entre os ilustradores de cartas colecionáveis de Mars Attacks!. A coleção retrofuturista da Topps sobre marcianos invadindo a Terra começou em 1962 e inspirou o filme de 1996. Victor assina 5 ilustrações oficiais do conjunto mais recente, Mars Attacks: Uprising.
Seu estilo fortemente inspirado em nomes como Gil Elvgren e Earl Norem também está presente no jogo de tabuleiro Horrified: American Monsters, criado pela produtora alemã Ravensburguer e lançado em outubro do último ano.
Em 2019, sua série de ilustrações “Pin-ups do Apocalipse” e outros trabalhos pessoais “retrô” atraíram a atenção da empresa Iron GM Games, que o contratou para criar alguns pôsteres promocionais para o projeto Grimmerspace, ambientação e conjunto de aventuras de RPG criado pelos premiados Lou Agresta e Rone Barton, além de Sean Astin – sim, o Sam de Senhor dos Anéis. Desde então, essa vertente vintage tem sido sua principal área de trabalho e atraído clientes de vários continentes.
Para o mercado nacional, curiosamente, tem feito muitos trabalhos fora desse estilo, como a capa do aclamado RPG Kalymba. Entre suas principais inspirações brasileiras, estão os ilustradores Benício, que faleceu recentemente, e Manoel Vítor Filho.
O começo da carreira de ilustrador
Victor largou seu emprego anterior em 2017 e passou a se dedicar aos estudos de desenho e pintura, conseguindo meu primeiro emprego em um estúdio de jogos, Manifesto Games, no final de 2018, e se mudando para outro estúdio em 2020, PUGA.
Ao fazer mais e mais projetos como freelancer. Entre eles estão algumas ilustrações para Grimmerspace, Mars Attacks: Uprising e RPGs de mesa brasileiros como Kalymba (que começou a fazer crowdfunding para uma versão em inglês há alguns dias). Até que esses “projetos paralelos” começaram a aparecer com frequência suficiente para se sustentar. Desde então, o artista trabalha de forma 100% autônoma.
Inspirações
O primeiro material de desenho de Victor foi uma compilação de páginas dos livros de Andrew Loomis, onde passou muito tempo praticando seu estilo. Já os primeiros quadrinhos, que não eram para crianças, lidos pelo artista, foram as revistas da edição brasileira de The Savage Sword of Conan, que seu pai colecionou.
Gostava bastante dos desenhos de John Buscema e das capas de Earl Norem. E, como muitos brasileiros, teve contato com várias obras de Benício e Manoel Victor Filho. Embora tenha nascido nos anos 90, Victor cresceu inspirado nas ilustrações por volta dos anos 40 aos 70.
Nascimento das ideias
Em entrevista para o site espanhol Juegos con Arte Victor diz:
“Muita gente me pergunta como tenho minhas ideias, mas a verdade é que o difícil para mim é parar de ter ideias. Estou sempre pensando nas coisas e anotando-as. Quando tenho tempo para o trabalho pessoal, olho para a lista e vejo a ideia com a qual estou mais animado e executo. Para que uma ideia me inspire, tem que ser sobre coisas que eu quero aprender, comunicar ou experimentar agora. É por isso que alguns de meus trabalhos trazem críticas políticas, enquanto outros são coisas como “e se eu tentar pintar nesse outro estilo?”.
Personagens Pin-Ups e cenas apocalípticas
A série de ilustrações “Pin-ups do Apocalipse” tem uma longa história para resumir aqui, mas são um bom exemplo de como as coisas fluem em seu trabalho pessoal.
Começaram como um “experimento de estilo”, depois alguns começaram a trazer crítica social, hoje, Maris já tem mais 7 ilustrações para completar 12 e lançar uma espécie de livro de arte + calendário.
“Muitas vezes minhas ideias evoluem e adquirem camadas e outros propósitos, e gosto disso. A parte central do meu processo é dar muito espaço para que as coisas mudem um pouco ao longo do caminho. Gosto bastante do ato de planejar, mas na prática não gosto de seguir os planos à risca. Sem um certo espaço de improvisação me sinto um robô e fico preso, a coisa perde a magia e a diversão para mim.”, afirma o artista.