Apesar de estarmos chegando na época primavera/verão neste ano de 2022, o estado de São Paulo está sendo tomado por uma frente fria que dá a sensação de que o inverno está chegando agora. Para os amantes do retrô e da moda, nada mais natural lembrar da temporada outono/inverno de 1965 neste frio, pois foi a que mais revolucionou a história do universo fashion, principalmente com a chegada da icônica coleção de Yves Saint Laurent.
Apoiando toda a revolução cultural que acontecia naquela época, principalmente em Londres com os Beatles e a Swinging Sixties, e que trazia um conceito novo de modernismo com um estilo minimalista, formas geométricas e cores vibrantes, o estilista francês lançou uma série de vestidos inspirada na mais famosa pintura de Piet Mondrian. O pintor holandês era cubista e seu auge foi bem no início do século XX, mas sua estética combinava bem com o novo modernismo dos anos 60. Aliás, o próprio modernismo tem influências do cubismo desde os seus primórdios na década de 1910.
Um pouco do trabalho de Piet Mondrian
Piet Mondrian começou sua carreira como pintor em 1892 retratando mulheres, paisagens e, principalmente, igrejas em suas obras. De início ele seguia o estilo da Escola de Haia e do Impressionismo de Amsterdam, mas não resistia em dar formas geométricas para os objetos e personagens que ilustrava em suas pinturas. Com o tempo, seu estilo foi se tornando mais abstrato até se tornar apenas traços básicos.
Encantado com o movimento cubista que havia chegado em 1907, Mondrian foi para Paris em 1911 e manteve contato com os fundadores do movimento, Pablo Picasso e Georges Braque. Já durante a Primeira Guerra Mundial, o pintor voltou para a Holanda e conheceu Theo van Doesburg, um dos fundadores do movimento local De Stijl (O Estilo, em tradução livre), que também trabalhava com formas geométricas abstratas. Apesar de todo o abstracionismo em suas pinturas, itens como flores, pessoas e imóveis de qualquer tipo, por exemplo, ainda eram notáveis em suas obras.
Aquele seu estilo radical e clássico, resumidos por linhas pretas na horizontal e vertical, só surgiu nos anos 30, quando ele tinha quase 50 anos de idade e já não fazia mais parte do De Stijl. Foi nessa época também que sua paleta de cores se limitou apenas a tons primários, o que pode ser notado na sua icônica tela Composição II em Vermelho, Azul e Amarelo. Já em 1940, ele se mudou para Nova York e passou a ouvir jazz e boogie-woogie, a partir daí suas obras com seus traços abstratos, passaram a ter influências do urbanismo e da agitação desses ritmos.
Na alta costura de Yves Saint Laurent e na era contemporânea
A famosa peça de Yves Saint Laurent apareceu em público pela primeira vez em 1965 no desfile Haute Couture outono/inverno, cujo tema era Homenagem a Mondrian, e causou surpresa entre seus espectadores por quebrar os padrões da época, onde os vestidos tinham a cintura marcada e, em sua maioria, um pouco abaixo dos joelhos. As peças do estilista apresentadas no evento tinham cortes retos, com efeito color-block, cores marcantes e acima dos joelhos. Era uma verdadeira obra de arte que causou espanto no público, mas um espanto positivo que arrancou aplausos logo naquele dia.
Piet Mondrian, que até então não era tão conhecido pelo público, se tornou símbolo da cultura pop e teve suas obras virando estampa não só nos vestidos de Yves Saint Laurent, como também em itens de decoração, como vitrais de janela e papéis de parede, e até mesmo em séries como na Família Dó-Ré-Mi.
Os “vestidos Mondrian”, como é popularmente chamado, é até hoje reinterpretado pelos estilistas atuais. As peças de hoje vêm nos mais variados formatos, desde os tradicionais de cintura marcada até os mais contemporâneos, mas há os mais entusiastas pela década de 60 que copiam os moldes de Yves Saint Laurent. Além da variação dos moldes, hoje também é possível ver outras combinações de cores que vão além das clássicas primárias. Quanto ao vestido original, este está exposto no Museu Yves Saint Laurent, em Paris.