O mundo parou (visto que teve uma grande repercussão internacional) nesta segunda-feira, dia 8, quando Rita Lee faleceu. A nossa eterna rainha do rock nacional tinha 75 anos e lutava contra um câncer de pulmão desde 2021. Portanto, vamos prestar uma homenagem à ela relembrando sua trajetória na música, seu envolvimento com o tropicalismo e seu ativismo pela liberdade feminina e pelos animais.
Início na carreira musical
Nascida na véspera de ano novo de 1947 no bairro paulistano da Vila Mariana, Rita Lee começou a ter aulas de piano ainda criança, apesar de, nessa época, não pensar em seguir carreira na música, mas sim como atriz de cinema, veterinária ou dentista. Seu interesse musical só começou durante a adolescência nos anos 50 e 60, e, como toda jovem da época, tinha Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, assim como nomes da Bossa Nova, como Maysa e João Gilberto, como suas inspirações.
Além disso, foi ainda nesta fase que ela começou a compor suas músicas e formar seu primeiro grupo musical em 1963, as Teenage Singers, que, formado por três garotas (incluindo Rita), fazia pequenos shows em festas colegiais. No ano seguinte, o trio conheceu o trio masculino Wooden Faces e ambos formaram o grupo O’Seis, que chegaram a gravar um disco compacto.
Os Mutantes e o envolvimento na Tropicália
Depois que três integrantes saíram do grupo em 1966, os que sobraram, no caso Rita e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, formaram Os Mutantes. A cantora permaneceu na banda por seis anos não apenas no vocal, como também tocando flauta, percussão, sintetizador e utilizando objetos aleatórios para fazer efeitos sonoros, como um gravador portátil (como na música Caminhante Noturno) e uma bomba de dedetização (como em Le Premier Bonheur du Jour).
Já em 1967 o grupo passou a fazer parte do movimento da Tropicália acompanhando Gilberto Gil no III Festival da MPB, da TV Record, com a música Domingo no Parque. Depois de alcançarem a fama com essa aparição, o grupo gravou o primeiro de seus seis álbuns, dando origem a hits como Ando Meio Desligado e Balada do Louco, em 1968, o mesmo ano em que Rita casou com seu parceiro de banda Arnaldo, aliás, casamento este que durou até 1972.
Discos solo e fim dos Mutantes
Ainda nos Mutantes, Rita gravou dois discos solo, Build Up, lançado em 1970 com algumas músicas feitas com Arnaldo, e Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida, de 1972, que foi gravado com a banda, mas, por conta de alguns termos do contrato com a gravadora, foi lançado apenas com o nome e os créditos da cantora.
O fim do casamento com Arnaldo, bem como as discordâncias envolvendo os rumos da banda, fizeram Rita Lee ser expulsa dos Mutantes pelo próprio ex-marido. A desculpa dada para a cantora foi que os demais integrantes queriam mudar o gênero do grupo para o rock progressivo e ela “não era virtuosa o suficiente para este estilo musical”.
Tutti Frutti e o título de Rainha do Rock Brasileiro
Fora dos Mutantes, Rita se juntou com a amiga guitarrista Lucinha Turnbull e, ao lado de Luis Sérgio Carlini e Lee Marcucci, formou a banda Tutti Frutti em 1973. Nesta banda, a cantora passou, além de cantar, a tocar piano, sintetizador, gaita e violão. O grupo assinou contrato com a gravadora Philips, que exigiu que a banda se chamasse Rita Lee & Tutti Frutti.
O primeiro álbum de estúdio deles é Atrás do Porto tem uma Cidade, lançado em 1974, mas Rita se consagrou mesmo com o segundo álbum Fruto Proibido, lançado em 1975 pela Som Livre. Este disco, que carrega os hits Agora Só Falta Você e Ovelha Negra, se tornou um clássico do rock nacional e deu a ela o título de Rainha do Rock Brasileiro.
Parceria musical e pessoal com Roberto de Carvalho
Em 1976 Rita Lee conheceu o músico carioca Roberto de Carvalho, juntos, formaram uma bela parceria não só musical, como também pessoal, durando até hoje. Logo no mesmo ano os dois passaram a morar juntos e, em 1977, tiveram o primeiro filho, o hoje músico Beto Lee. Mais tarde, eles tiveram João e Antônio, em 1979 e 1981, respectivamente.
Quanto a parceria musical, Roberto entrou para a Tutti Frutti no ano em que ele e Rita se conheceram, mas os dois tiveram efetivamente essa parceria em 1979, após o fim da banda. Manifestando para o público desde 1977 que não se considerava uma rockeira radical, ela e o marido entraram em uma fase mais pop produzindo discos e shows juntos, o que teve uma boa repercussão popular.
O primeiro álbum enquanto dupla foi Rita Lee, lançado no mesmo ano em que começaram a parceria, e foi daí que vieram mais hits, como Mania de Você e Doce Vampiro. Logo durante a década de 80 vieram outros hits do mesmo naipe, como Baila Comigo e Lança Perfume, além do retorno aos palcos, entre eles o da primeira edição do Rock in Rio.
A parceria profissional durou até 1990, mas só a profissional, visto que houve uma participação de Roberto em uma turnê de Rita em 1995 e a oficialização do casamento deles em 1996. Depois desse fim de parceria, a cantora passou a seguir carreira solo, mas gerando o mesmo sucesso.
Aposentadoria dos shows
Em 2012, Rita Lee anunciou sua aposentadoria nos palcos durante um show no Rio de Janeiro por conta de sua fragilidade física, mas avisou que nunca iria se aposentar da música. Nessa nova fase, ela lançou o álbum Reza depois de quase dez anos sem lançar um disco de estúdio e participou de alguns eventos como o desfile da Águia de Ouro no carnaval daquele ano, cujo tema foi a Tropicália, e a comemoração dos 459 anos da cidade de São Paulo, realizado em 2013.
De 2014 para cá, Rita Lee recebeu diversas homenagens, incluindo o teatro musical Rita Lee Mora ao Lado, estrelado por Mel Lisboa, e fez alguns lançamentos especiais, como uma coletânea com 20 álbuns de sua discografia e um CD com raridades e duas autobiografias, sendo esta última detalhando seu tratamento contra o câncer de pulmão.
Rita Lee morreu na sua casa em São Paulo e cercada pela família. Seu velório foi aberto ao público e aconteceu neste dia 10 no Planetário do Ibirapuera, em São Paulo.