Tina Turner nos deixou neste último dia 24 de maio devido a causas naturais. Considerada uma versão americana de Elza Soares, a Rainha do Rock’n roll morava na Suíça, tinha 83 anos e já passava por alguns problemas de saúde desde 2016.
Tal qual a Rainha do Samba, sua trajetória também foi bem sofrida, ao mesmo tempo em que sua carreira na música foi de grande sucesso. Para homenagear Tina, nós do UR decidimos contá-la para os leitores poderem relembrarem ou conhecerem, confira:
A trajetória de Tina Turner
Início
Nascida no Tennessee de 1939, a batizada Anna Mae Bullock passou a sua infância em meios rurais e já tinha uma vida sofrida. Como se não bastasse começar a trabalhar ainda criança em um campo de algodão junto com sua família, sua mãe era vítima de um relacionamento abusivo por parte de seu pai e, logo quando se separaram, cada um foi para um lado e deixaram suas filhas para seus avós maternos criarem. A talvez única coisa boa de sua infância era a sua participação no coral da Igreja Batista de Spring Hill de Nutbush.
Depois que se formou do ensino médio e começou a trabalhar como auxiliar de enfermagem, Anna passou a frequentar boates com sua irmã e, em uma delas, conheceu o já músico Ike Turner, que se apresentava com sua banda Kings of Rhythm. Ela ficou encantada e pediu para entrar no seu grupo como vocalista, aprovação esta que não foi de primeira, mas depois de uma segunda insistência, foi realizada.
Ike & Tina Turner
Sob o nome de Little Ann, a cantora passou a se destacar na banda de Ike, tendo sua primeira gravação o single Boxtop, em 1958. Já em 1960, Ike repaginou a sua imagem dando-a o pseudônimo de Tina Turner, assim como uma persona de palco inspirada na Sheena, Rainha da Selva. O músico registrou o novo nome e adicionou seu sobrenome para, caso Ann rompesse a parceria, ele pudesse substituí-la por outra “Tina Turner”.
Pela primeira vez com essa nova imagem e novo nome, Tina lançou o dueto com Ike A Fool in Love. Este single se tornou um sucesso, que levou Ike a criar o Ike & Tina Turner Revue, que incluía os Kings of Rhythm e o grupo feminino The Ikettes, como backing vocals e dançarinos. Se colocando em segundo plano, mas mantendo o seu posto de líder da banda, Ike adotou uma nova e rigorosa turnê de 90 dias seguidos por todo EUA.
Com essa rotina frenética de apresentações, a banda construiu a reputação de “um dos mais quentes, mais duráveis e potencialmente mais explosivos de todos os conjuntos R&B”, rivalizando com James Brown em termos de espetáculo. Além disso, por serem uma banda altamente lucrativa, eles puderam tocar para públicos não segregados em clubes e hotéis do sul. Além de Fool in Love, há outros sucessos da dupla, como It’s Gonna Work Out Fine, Tra-La-La-La-La e versões como a de Proud Mary, do Creedence, e de algumas músicas dos Beatles.
Esta parceria musical durou até 1976 e tanto ela em si como seu término tem uma forte ligação com a vida conjugal de Tina, que, ao contrário do que as aparências mostravam na época, não era nada gloriosa.
O casamento abusivo com Ike Turner
Ike e Tina tiveram uma amizade platônica nos primeiros anos em que se conheceram, de 1957 até 1960. Durante uma turnê com a banda, Tina teve que dormir no quarto de Ike porque um dos músicos ameaçou invadir o quarto da cantora, e foi lá que eles começaram a ter um caso, que gerou o filho Ronald “Ronnie” Renelle Turner.
Eles se casaram em 1962 e se mudaram para Los Angeles, mas esse casamento era extremamente abusivo. Tina sofria violência física, verbal e sexual por parte de Ike com muita frequência, fora que era artisticamente explorada, a ponto de ser forçada a fazer um show poucas horas depois de ter passado por um parto. A justificativa da cantora de ter continuado com o músico por anos era de que “ela realmente se importava com ele”, mas, mais tarde, revelou em sua autobiografia I, Tina que seu casamento levou ela a uma tentativa de suicídio em 1968.
Tina finalmente se separou de Ike em 1976 pedindo apenas a pensão alimentícia, a custódia de Ronald e o nome artístico, recomeçando sua carreira musical do zero.
Carreira Solo
Apesar de já ter lançado alguns álbuns solo enquanto ainda estava com Ike entre os anos de 1974 e 1975, Tina Turner só se tornou oficialmente uma cantora solo em 1976, mesmo ano em que a parceria musical e pessoal havia terminado. Seu primeiro álbum lançado nessa fase foi Rough, em 1978, que marcou sua liberdade criativa, assim como seu próprio comando nos palcos. Suas faixas eram compostas por músicas autorais e regravações de hits de nomes como Ray Charles e Elton John, mas o disco fracassou comercialmente. Seus próximos álbuns também não obteram o sucesso esperado.
Em 1979 sua carreira passou a ser gerenciada por Roger Davies, além de envolver participações em programas de televisão, entre eles o Luna Park, da emissora italiana TV Rete 1, e o Saturday Night Live, em 1981, o mesmo ano em que abriu um show para os Rolling Stones em uma turnê americana. Já em 1982, ela se tornou a primeira artista afro-americana a aparecer na então novata MTV.
A volta do sucesso entre os anos 80 e 2000
Tina Turner vê sua carreira musical deslanchar novamente em 1983 com o lançamento do álbum Private Dancer pelo selo da Capitol Records, no qual conta com hits como Let’s Stay Together e a faixa-título. Além disso, ela também faz parte da gravação do single beneficente We Are the World, escrito por Michael Jackson e Lionel Richie, e, em 1985, faz sucesso ao participar do filme Mad Max Beyond Thunderdome, tanto como atriz quanto na trilha sonora.
Em 1995, a cantora migra para a Suíça e aprende a falar alemão fluentemente, mas faz viagens frequentes para os EUA para continuar com seu trabalho. A partir daí ela mantém um sucesso moderado na terra do Tio Sam, apesar de ainda participar de especiais de TV ao lado de nomes famosos, e faz um sucesso maior pela Europa.
Já a partir dos anos 2000, Tina passa a gravar músicas para trilhas de filmes, como o Great Spirits para o animado da Disney O Irmão Urso, lançar coletâneas com seus hits mais antigos e receber homenagens, desde uma rua com seu nome artístico em sua cidade natal até shows com músicos famosos interpretando suas músicas.
Segundo casamento e problemas de saúde
Em 2013, Tina se naturaliza suíça e, no mesmo ano, se casa com o produtor e empresário alemão Erwin Bach, com quem tem um relacionamento desde 1986 e vive junto desde 1995. Seus últimos anos foram marcados por doenças graves, começando por três semanas depois de seu segundo casamento, quando sofreu um derrame e precisou aprender a andar novamente.
Já em 2016, ela foi diagnosticada com câncer no intestino, seguido de uma insuficiência renal. A insuficiência foi combatida quando Erwin doou um de seus rins para a cantora. Apesar de ter passado por um histórico pesado de doenças, Tina Turner morreu em sua casa na Suíça de causas naturais.