Elvis no Havaí, Ilha da Fantasia, Hula Hula, drinks exóticos super decorados servidos em canecas estranhas, flor de hibisco adornando penteados, camisas havaianas e por aí vai. Todos aqueles que apreciam a cultura vintage ou retrô, em algum momento já depararam-se com alguma dessas referências citadas, ou mesmo já leram ou escutaram falar sobre a tal Cultura Tiki ou simplesmente Tiki.
Afinal, o que tudo isso significa, onde e como surgiu? Iniciaremos a elucidação desse intrigante mistério. O termo “tiki” é originário da Oceania, mais precisamente das ilhas que constituem a Polinésia. Tiki é o nome dado a um Deus ou a sua representação física. Geralmente essa representação física aparece na forma de totens esculpidos em madeira ou pedra.
Tiki foi o nome escolhido para batizar esse segmento cultural nascido no ocidente e que tem como fonte de inspiração a cultura polinésia. A cultura Tiki no ocidente teve sua origem nos Estados Unidos durante a década de 20. Foi bastante popular no período compreendido entre os anos 20 e 60, tendo entrado em descenso a partir do anos 70, e então o Tiki passa a figurar como um capítulo da estética Kitsch.
Nos Estados Unidos, o movimento Tiki guarda uma forte relação com o Havaí. Em 1900 o arquipélago havaiano passou a ser oficialmente território norte americano no entanto, somente durante a década de 20 os norte-americanos passam a ser inspirados pela cultura proveniente dessas ilhas.
Para ter ideia do tamanho dessa preponderância havaiana, 1\4 da produção musical norte americana desse período se encontrava classificada dentro da categoria “Hawaiian” e foram abertas 1200 escolas com o objetivo de ensinar a tocar ukulele — o típico violão havaiano.
A cultura havaiana causou um frisson inédito na sociedade puritana dos Estados Unidos dos anos 20. O imaginário ocidental a viu hipnotizado por aquelas imagens das vahines (garotas havaianas) com suas saias de palha e tops de coco, sempre alegres a mover os quadris ao som de ukes e tambores, acompanhadas muitas vezes por rapazes seminus e bronzeados que dançavam e realizavam acrobacias com suas tochas de fogo.
O Havaí e seus encantos passaram a povoar o imaginário norte americano contribuindo para a formação da fantasia de um paraíso acessível, o devaneio de noites de verão sem fim adornadas por belas dançarinas de hula, balançar de folhas de coqueiro, o perfume dos colares de flores, tudo arejado pela brisa fresca do Pacífico.
Com essa visão arrebatadora de um paraíso ideal, todos os problemas da vida cotidiana desapareciam como que levados pelas ondas para as profundezas do Pacífico. Tudo isso se tornava muito sedutor aos olhos ocidentais. Essa onda paradisíaca tomou conta da música e também do cinema nesse período. Várias produções cinematográficas se renderam a influência dos encantos havaianos e várias fitas foram gravadas no melhor estilo Tiki.
A primeira produção foi “White shadow in The South Seas” data de 1928 e outras se seguiram, como por exemplo, “Honolulu” (1939), onde estrelava a formidável dançarina de sapateado Eleanor Powell. A mistura de Hula com sapateado encenada por Powell é uma das pérolas da cultura Tiki feitas pelo cinema da época.
Outra influência polinésia importante apareceu na decoração de ambientes. Em 1934 outro acontecimento viria a se tornar um março importante para a consolidação da cultura Tiki nos Estados Unidos, Ernest Raymond Beaumont – Gantt, um jovem de Lousiana que havia navegado por todo Pacífico Sul, inaugura em Hollywood um bar e restaurante temático “Don The Beachcomber”. No bar eram servidos coquetéis exóticos e possuía uma decoração de tochas de fogo, móveis de vime e exuberantes quadros carregados de imagens retratando o exoticismo polinésio.
Don The Beachcomber deu início ao extravagante segmento dos tiki bares e sua alucinante coquetelaria. Em 1937, Victor Bergeron, mais conhecido como Trader Vic, adotou o estilo para seu restaurante em Oakland, que com o tempo cresceu até converter-se em uma rede com filiais em vários países.
Grande parte do sucesso desses Bates foi possível graças aos exóticos coquetéis, que tinham como ingrediente principal o rum e eram servidos em copos em formato de totens polinésios, os famosos tiki mugs. Dessa maneira, o Tiki foi de tornando cada vez mais presente na cultura ocidental, ganhando status de uma cultura própria.
Com o passar dos anos, mais artistas se influenciaram pelo tiki e o incluíram em seus trabalhos. O Tiki cresceu e rompeu as fronteiras norte americanas conquistando outros países.
O Tiki ganhou seu lugar na música, dança, arte, cinema, moda, decoração, micologia e costumes. Desde seu surgimento até nossos dias, a Cultura Tiki se expandiu e ganhou novos adeptos, sempre encantando por seu caráter exótico e multicultural.