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A importância dos crossdressers do passado para um mundo mais tolerante nos dias de hoje

10 de abril de 2016, por Márcia Tirésias
Lifestyle
Crossdresser

O termo crossdresser tem ocupado destaque na mídia recentemente. Personagens de novela das oito, temas de documentários e algumas apresentadoras de talk shows (como Laerte Coutinho) são crossdressers. Basicamente, crossdresser é alguém que gosta de se vestir como uma pessoa do gênero oposto com frequência. O mais comum são homens que se vestem como mulheres.

Embora pareça uma novidade, o fato é que o costume é muito antigo, de vários séculos. A história nos oferece exemplos de diversas épocas. Mesmo nos Estados Unidos da década de 1950, marcada pela onda conservadora do McCarthismo, o crossdressing estava presente, ainda que às escondidas na maioria dos casos.

Fachada da Casa Susanna

Fachada da Casa Susanna. (Foto: New York Times)

Um exemplo era a Casa Susanna, localizada nos arredores de Nova Iorque, onde homens heterossexuais (boa parte casados) se encontravam eventualmente e conviviam como mulheres por alguns dias, normalmente em finais de semana e sob sigilo. As meninas se dedicavam a diversas atividades identificadas na época como “femininas”: limpar a casa, cuidar do jardim, organizar chás da tarde, jogar bridge e posar para fotos artísticas como modelos. As fotos eram guardadas na Casa e, por acidente, quarenta anos depois, boa parte delas foi encontrada em um mercado de pulgas de Manhattan.

A dona da propriedade, organizadora dos eventos e “matriarca” das crossdressers, Susanna Valenti, era uma das ensaístas de uma revista chamada Transvestia na década de 60, voltada para o público cross. Incrível pensar em um periódico como este e suas fotos de capa em tempos de costumes tão rígidos. Entretanto, os fortes preconceitos da época se faziam sentir mesmo naquele meio: a revista se definia como uma publicação voltada para homens “sexualmente normais” (ou seja, heterossexuais) que gostavam de se travestir.

Um exemplar da revista Travestia

Um exemplar da revista Travestia (Foto: Reprodução)

O sigilo era importante para garantir a reputação de quem ocupava altos cargos no governo. J. Edgar Hoover, o poderoso Diretor da FBI na década de 50, tinha consciência disso. Afinal, usar roupas do sexo oposto era considerado crime. Ele frequentemente perseguia os jornalistas e celebridades que em algum momento diziam tê-lo visto vestido de mulher e na companhia de jovens rapazes. Nunca se conseguiu provar que ele era realmente crossdresser e gay, embora existam diversos relatos a respeito.

Mais amigável e fora do armário era Ed Wood, o melhor diretor de filmes ruins de todos os tempos. Em vários de seus filmes, Ed aparece vestido com seu tecido favorito, o angorá, e sua inconfundível peruca loira. Sempre que ficava tenso, se travestia como forma de relaxar.

Durante a guerra, por exemplo, usava lingerie por baixo do uniforme. E nos momentos mais difíceis dirigia seus filmes como mulher. Também saía com naturalidade pela cidade sem se importar com a reação dos outros, e é interessante notar que nunca chegou a ser maltratado ou agredido por isso.

Ed chegou a fazer um filme dedicado ao tema, chamado Glen ou Glenda, de 1953. Hoje em dia é considerado cult, mas não por suas qualidades dramáticas. Também pudera: é um dos produtos que fizeram a fama de Ed Wood como diretor de filmes ruins e está no ranking de piores filmes de todos os tempos. Por conta disso, os admiradores do kitsch dos anos 50 adoram assisti-lo.

Ed Wood relaxando

Ed Wood relaxando (Foto: Divulgação)

Se hoje vivemos em tempos mais tolerantes, muito se deve à coragem de gente como ele, que não escondia sua personalidade e aceitava a si mesmo!

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13 Responses

  1. Carla Sofia

    Adorei o comentário sobre o mundo crossdresser, de fato é verdade tudo isso começou já a muito tempo atrás , onde os homens já vestiam como mulher, e porque existir tanto preconceito nos dias de hoje?
    Eu sou uma crossdresser assumida e adoro usar roupas femininas no dia a dia…e não importo o que as pessoas podem pensar a esse respeito sobre a minha pessoa….nunca usei cuecas na minha vida, somente uso calcinhas e sutiãs, e continuarei usando até fim da minha vida….e espero que um dia as roupas femininas comecem a fazer parte do vestuário masculino…se isso um dia acontecera mesmo….não é verdade???

      1. Carla Sofia

        olá Daise…eu adorava mostrar algumas fotos de como sou vestida de mulher no meu dia a dia….eu adoro e cada dia mais e mais…..comecei muito novinha como já disse…..e tudo por causa de usar no dia a dia calcinhas como as minhas irmãs e nunca mais parei de usar…..passando em adolescente usar saias e vestidos e todos acessórios femininos ……

  2. Sofia Almeida

    Olá …eu sou uma Crossdresser assumida e adoro ser mulher no dia a dia…..
    Comecei desde criança por obrigação e depois passou pela necessidade em ser mulher…
    Adorava ter amigas que sinta o mesmo que eu sinto….

    1. Márcia Tirésias

      Sofia Almeida,

      Existem grupos que organizam encontros de crossdressers no Brasil. O Facebook normalmente é a rede social preferida por eles para agendar estes encontros. Procure se informar e participe. Acho que valerá a pena!! :)

  3. carla sofia

    Olá boa tarde a todas meninas,
    eu vivo em Portugal e sou Crossdresser assumida….e adorava ter amizades com outras cdzinhas para curtir baladas e discutir idéias sobre o mundo feminino….onde posso encontrar essas meninas???
    bjs a todas

  4. Roberta Monique

    Estou achando o máximo. Sempre tive vontade de ser crossdresser, mas por questões do meu trabalho, vou ser apenas para minha esposa, em casa. Na hora de fazer amor sempre utilizei tanguinhas e roupas digamos, não tão masculinas, mas quero me montar toda para ficar feminina mais tempo, em casa. Quero comprar diversas roupas. Dicas serão super bem vindas, acreditem, ainda estou um tanto perdida. Amo o Universo Retrô, sempre leio diversas matérias, porque curto muito coisas antigas. Não sei se posso deixar email. Como fazer para ser contactada? Obrigado por incentivarem as outras crossdressers, é justamente do que eu estou precisando! Beijinhos!

    1. Marcia Tirésias

      Oi Roberta, agradeço seu comentário. Sim, muitas de nós gostam de Cultura Vintage, de moda de época. É relativamente comum. Fico feliz que meu artigo tenha servido de inspiração para você!

      Se quiser, você me acha fácil no Instagram: @marciatiresias

      Pode me mandar mensagem por lá, é bem fácil! :D

  5. Roberta Monique

    E em tempo; já vi o filme do Tim Burton sobre Ed Wood inúmeras vezes, é que sou cinéfila desde criança, e tenho o filme gravado em DVDR e um Box com produções originais de Ed Wood em DVDs. Acabo de completar 54 anos no último dia 3 de maio, e nesse período decidi mergulhar no mundo crossdresser. Márcia Tirésias, linda, como faço para falar com você?

  6. Roberta Monique

    Não sei se vão aprovar meus comentários, mas também quero aprender sobre o mundo crossdresser, informações sobre como me montar, onde comprar roupas femininas, porque sou uma moça de 1,87 m e 100 kg, bem distribuídos, e completamente leiga no assunto ainda. Beijinhos, por favor aprovem meus comentários.

  7. Roberta Monique Vermont

    Aqui estou eu novamente, em 2023, feliz por estar cada vez mais familiarizada com o mundo crossdresser. Participo até de um fórum e sigo muita gente na internet.

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