Todos nós já conhecemos aquele filme de 2004 com Nicole Kidman, Mulheres Perfeitas, afinal, já esteve em cartaz no cinema, passou para as locadoras, teve suas idas e vindas na Netflix e agora integra o catálogo do Prime Video. Quem não se atenta muito com o cinema cult mal sabe que essa comédia blockbuster, na verdade, é um remake de um suspense de peso lançado em 1975, intitulado aqui no Brasil com a tradução de seu título original, As Esposas de Stepford.
Ambos os filmes carregam a mesma sinopse e tentam passar a mesma crítica em relação ao machismo, principalmente o sofrido por moças casadas. O enredo gira em torno da profissionalmente bem sucedida Joanne (Kidman/Katherine Ross), que se muda para a pequena e pacata cidade de Stepford, no estado americano de Connecticut, com o marido e seu casal de filhos. Conforme vai conhecendo o lugar e as pessoas de lá, principalmente as mulheres, ela vai percebendo que há algo de muito estranho e tóxico naquela região.
1975 X 2004
Mas é claro que todo remake mostra algumas diferenças de seu filme original. No caso de Mulheres Perfeitas e As Esposas de Stepford, os detalhes que passaram por mudanças foram o perfil da personagem principal (de dona de casa que aspira uma carreira na fotografia para uma grande executiva frustrada com sua recente demissão), a estética (de uma cidade de aparência comum, mas com esposas hipersensualizadas para uma comunidade luxuosa, hi-tech, mas ao mesmo tempo com padrão interiorano e esposas no estilo “ladylike”) e, principalmente, o tom que foi dado ao contar toda a história.
Enquanto que As Esposas de Stepford tinha uma narrativa mais voltada para o terror e cenas chocantes, Mulheres Perfeitas, com cenas mais leves, já criticava a sociedade patriarcal com um tom de sátira. Com isso não é preciso nem dizer (ou melhor, escrever) que o desfecho do remake é mais feliz que o do filme original. O UR não tolera spoilers, portanto, detalhes sobre os finais não serão abordados por aqui, o jeito é assistir as duas versões e conferir por conta própria.
Repercussão
As Esposas de Stepford foi elogiado pela crítica por conta de seu roteiro e da atuação de Katherine Ross, além de receber premiações, como a de melhor atriz principal na Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films, e ser indicado como melhor filme pelo mesmo prêmio. Foi um filme inovador para a época, onde a bandeira feminista estava, desde o fim dos anos 60, sendo levantada com força, e hoje é considerado um cult, bem como um filme indispensável na cinemateca das atuais feministas.
Entretanto, Mulheres Perfeitas, apesar de tentar passar a mesma mensagem de empoderamento feminino, não agradou nem os críticos, nem o público, nem as bilheterias e até mesmo nem o próprio elenco. Quanto a premiações, apenas o seu trailer recebeu três, mas o próprio filme, nenhum.
Falhas do remake
A repercussão negativa por cima do filme de 2004 tem boas razões, a começar pelos bastidores. Houve muita tensão no set de filmagens entre o diretor Frank Oz e o elenco principal, tensão esta que foi muitas vezes divulgada pela imprensa. Ainda, havia muita pressão comercial de transformar um filme de suspense que abordava um assunto importante para o público refletir em uma comédia blockbuster, cheia de clichês e com um final que tinha, mas porque tinha que ser feliz.
Quanto a mensagem sobre o feminismo, que era o principal do filme, este foi passado na tentativa de fazer o público refletir, assim como foi feito na versão original, mas foi de forma um tanto equivocada e acabou passando despercebido pelo público no meio de toda a comédia espalhada pelo enredo. Este remake é bom apenas para se distrair, mas se quer ver algo que faz uma crítica ao machismo de verdade, As Esposas de Stepford, que está de graça, em boa qualidade, completo e legendado no Youtube, é a melhor escolha.
