No dia 30 de setembro, Rodrigo José subirá no palco do Teatro Bradesco SP para o show de lançamento de seu primeiro DVD. Natural da Americana, no interior de São Paulo, o cantor passou por muita coisa antes de fazer sucesso com seu “novo som à moda antiga”, como ele próprio define.
A perda do pai, a dor de levar um pé na bunda e o sonho de viver da música foram apenas algumas das forças que moveram esse rapaz de quase 2 metros de altura a deixar a carreira de engenheiro para atrás e se trancar no porão da casa de sua mãe para fazer um disco.
Assumidamente brega, Rodrigo José trouxe para o século XXI o gênero musical que consagrou Odair José, Evaldo Braga, Reginaldo Rossi e tantos outros cantores que fazem parte da história da música brasileira. Confira o bate-papo!
Universo Retrô – Qual é a principal característica da sua música que agrada tanto as pessoas? Você sempre quis cantar?
Rodrigo José – Minha história como músico começa quando eu tinha 12 anos. Encontrei uma caixa de discos de artistas bregas no porão da minha mãe e passei dois dias ouvindo. E graças aos descendentes de pessoas que emigraram dos Estados Unidos para a cidade de Americana, conheci o blues, o rock e do soul… Então, acho que consegui aliar essas influências quando comecei a escrever minhas próprias canções: o ritmo das músicas americanas misturada com a música popular.
Universo Retrô – Quando você começou a compor?
Rodrigo José – Ah, foi depois de uma desilusão amorosa… Ela me traiu e foi aquela dor (risos). Nessa época, descobri que eu era compositor. Como ouvia os clássicos populares, acabei, de certa forma, copiando esse estilo. Esses artistas clássicos da música cafona, como era chamada na época, eram pessoas do povo. Não tinham formação escolar nem musical, mas tinham o sonho de fazer música e de contar suas histórias…
Eu gostava porque as letras eram sinceras, nada de conto de fadas. Falavam do que realmente acontecia, como o cara que conheceu a mulher no puteiro e quer tirar ela de lá (Eu vou tirar você desse lugar – Odair José). Aí esta a magia do estilo e, claro, com isso vem um preconceito.
Universo Retrô – O público jovem tem um certo pudor de ouvir suas músicas por serem consideradas bregas? O preconceito existe por que para falar de amor exige uma certa maturidade?
Rodrigo José – Eu realmente sinto uma lacuna no meu público de jovens na faixa de 15 anos até 25 anos… Acho que tem a ver com maturidade, sim. Eles não viveram tantos relacionamentos tanto assim, creio… Indiretamente, eu trato desse assunto no show quando canto Fogo e Paixão, do Wando, como uma brincadeira.
Quero mostrar que se você pegar uma música americana e traduzir para o português, ela vai virar brega, pois fala sobre paixão, traição, desilusão. Tento tirar um pouco do preconceito que existe com a própria língua…. Também faço o contrário: passou uma música do português para o inglês para ver se fica chique (risos).
Universo Retrô – Você faz parte do time de músicos que estouraram graças as redes sociais. Como vê a internet nessa relação entre artistas e fãs?
Rodrigo José – Acho que graças a esse fenômenos que é a internet, o ‘filtro cultural’ que existia antigamente está cada vez mais restrito aos meios de comunicação antigos, como jornais e revistas. Na internet, o papel do crítico é diferente. Você mesmo decide se gosta ou não daquilo… A pessoas não precisa ter um conhecimento prévio, nem informações ou qualquer tipo de pré-aprovação. Gosta e pronto.
Universo Retrô – Você acha que falta autenticidade nos artistas hoje?
Rodrigo José – Tudo que é levado ao extremo corre o risco de se tornar descartável. Nasce um artista por mês, que não tem ideologia, filosofia e faz música com duplo sentido só pra ganhar simpatia imediata… Hoje, a gente vê muito oportunismo. O cara pensa ‘O que está dando dinheiro? Ah, é tal coisa? OK! Então, vamos fazer!’ Eu não acho isso legal… Sou admirador da musica sertaneja de raiz, por exemplo, gente que viveu a música que canta. Artistas verdadeiros respeitam isso e mantêm a essência, não ficam fazendo musiquinha.
Universo Retrô – Se você não tivesse levado um fora nem perdido seu pai, acha que teria se tornado músico?
Rodrigo José – É difícil dizer. Eu trabalhava como engenheiro e quando meu casamento acabou e quando perdi meu pai, entrei em depressão, questionando o que eu estava fazendo com a minha vida. Após isso, decidi que queria ser músico mesmo. Eu já tocava na noite, sempre tive banda, mas só depois de tudo isso foi que eu me dediquei mesmo. Antes, claro, precisei me planejar.
Continuei trabalhando por um tempo depois do falecimento do meu pai e juntei dinheiro para poder ficar um ano sem trabalhar. Mas a vida não acontece como a gente imagina, né? A produção do CD acabou durando três anos e eu até precisei vender meu carro. Enfim, passei esse tempo todo trancado no porão da casa da minha mãe, aprendendo a gravar, produzir, dirigindo o disco mesmo… Após gravar meu hit, Desapareça, vi que meu sonho está virando realidade. Foi mágico.
Universo Retrô – O que mais mudou na sua vida?
Rodrigo José – Quando vivi minha crise existencial, também questionei os padrões impostos pela sociedade: ter carro do ano, uma casa, vida em família… Me revoltei contra tudo isso. Eu também buscava status, mas percebi que não iria trazer felicidade. A certa altura, questionei: ‘Vale a pena passar por tudo isso?’.
Acho que isso tem muito a ver com a música brega, mas com o punk também – aquela molecada que tinha vontade de tocar, mas só sabia três acordes… Eles faziam a música que conseguiam, mas que era sincera. Eu mesmo componho nas duas cordas de cima do violão e pronto. Nada de melodias elaboradas ou acordes dissonantes. O que eu quero fazer é uma música simples e sincera.
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SERVIÇO
Quem: Rodrigo José
Onde: Teatro Bradesco – Rua Palestra Itália, 500 – Perdizes – São Paulo
Quando: Sábado, 30 de setembro de 2017 – 21:00 horas
Quanto: R$ 55,00 à R$ 190,00
https://www.ingressorapido.com.br/compra/?id=59437#!/tickets