Sim, Senhoras e Senhores, se o rock ‘n roll cinquentista tem um nome, no qual a rebeldia se mistura entre vida real e musical, esse nome é Jerry Lee Lewis. Nascido em 29 de setembro de 1935 em Ferriday, Louisiana, esse eterno anti-herói completa, nesta terça-feira, 80 anos de idade e de muitos serviços prestados para o mundo da música.
Lewis e sua família parecem personagens saídos dos livros de William Cuthbert (Ex. Uma Fábula e Os Desgarrados), oriundos de um mundo cheio de relações incestuosas, bebidas clandestinas, conflitos com a justiça e com a religião. Já aos 8 anos, Jerry Lee se revelava um talentoso músico, inclusive, reza a lenda, que seus pais hipotecaram a casa onde moravam para comprar-lhe um piano e, claro, acabaram por perder a casa, pois não pagaram a tal hipoteca.
Quando adolescente, estudou para ser ministro de uma famosa instituição protestante, no Texas, porém acabou sendo desligado da Igreja, pois, ao invés de se dedicar completamente a ela, passava a noite nos inferninhos da cidade, ouvindo música e fazendo outras “coisitas” mais. Certamente Lewis esteve muito perto da total delinquência juvenil, porém, por mais incrível que possa parecer, a música foi o que o salvou.
Ele se mandou para Memphis em meados dos anos 50, atrás de Sam Phillips, proprietário da Sun Records e, obviamente, acabou o impressionando com sua incrível habilidade diferenciada de tocar piano, mesclando ritmos tidos como negros e músicas tradicionais destinadas ao público branco. A primeira canção que gravou foi um cover de Ray Price, Crazy Arms, em dezembro de 1956, que teve até um certo sucesso regional, porém, foi somente com outra versão, bem ousada por sinal, que conseguiria o alcançar o estrelato; isso em 1957, com Whole Lotta Shakin’ Goin’ On.
No entanto, sua carreira somente foi para as alturas quando gravou Great Balls Of Fire. Essa música foi feita especialmente para ele pela dupla, Otis Blackwell e Jack Hammers – os mesmos autores de All Shook Up, canção que ajudou a projetar Elvis Presley. Great Balls of Fire chegou ao primeiro lugar das paradas nos Estados Unidos e Inglaterra… até que nosso anti-herói se apaixonou por sua prima e aí, ao invés de colocar o pessoal para dançar, quem dançou foi ele.
A esta altura, com 22 anos, ele já tinha sido casado duas vezes (cometeu, então, bigamia) e partia para um terceiro casamento; só que dessa vez seria com sua prima Myra Gale Brown. O problema é que a moça tinha apenas 13 anos e isso acabou por chocar parte da sociedade da época. O casamento, em dezembro de 1957, passou praticamente despercebido até que Jerry Lee embarcou com a esposa e sua banda para uma turnê na Grã-Bretanha, em maio de 1958, quando, aí sim, veio à tona esse casamento.
Sem dúvida alguma esse fato se tornaria manchete e estamparia as capas de vários jornais, provocando grande rejeição por parte da sociedade, além de inflamados debates no parlamento Inglês e, por fim, levando ao cancelamento da excursão. Com este golpe, a carreira de Jerry Lee foi do céu ao inferno. Desse conturbado casamento nasceu um filho, que veio a falecer dois anos depois, afogado na piscina do casal.
Sem dúvida a vida de Jerry Lee é cercada por situações trágicas e muitas vezes não esclarecidas. Fatos como a morte de seu filho Jerry Lee Lewis Jr., de 19 anos, que faleceu em um acidente autobilístico em 1973, a sua quarta esposa morreu também afogada em uma piscina, sob circunstâncias suspeitas e um pouco mais de um ano depois, sua quinta esposa seria encontrada morta de overdose de metadona.
Drogas, alcoolismo, problemas com a agressividade repelida pela América WASP (Branca, Anglo-Saxã e Protestante) o tiraram de cena, onde voltaria nos anos 60, com algumas apresentações, nas quais, além de seus hits, tocava alguns sucessos de cantores da época. Já nos anos 70 voltaria a fazer mais shows, só que, dessa vez, com uma temática mais voltada a country music, onde acabou não sendo muito bem aceito pelos fãs, tão somente por ser considerado um traidor do estilo ao tocar rock ‘n roll lá nos anos 50, mesmo que esse rock tenha sido muitas vezes um rock bem acaipirado.
Lewis é ídolo de muita gente até hoje. Além do escritor Nick Tosches, que escreveu um livro sobre sua vida em 1982, chamado Hellfire, o cineasta Jim McBride é um dos mais notórios fãs do artista. Em Breathless (A força de um desejo), seu filme anterior a Great Balls of fire, de 1989, cujo título também provém de uma música gravada por Jerry Lee Lewis, Richard Gere fez o papel de um marginal de Los Angeles que foge da polícia sempre ouvindo as músicas do “The Killer” (o matador; apelido de Jerry Lee) em seu carro.
Lewis esteve no Brasil por duas vezes; a primeira foi no ano de 1993, onde realizou uma série de shows e, como o de costume, bastante polêmicos. Ele realizou também uma apresentação bem peculiar no programa do humorista e apresentador Jô Soares, quando o mesmo ainda mantinha seu programa “Jô Onze e Meia” no SBT.
Certamente essa vinda do Jerry Lee Lewis foi um marco para a chamada cena rocker brasileira, que, no ano de 1993, já havia recebido a visita de outros grandes nomes, como, Chuck Berry, Little Richards e Bo Diddley.
Já em sua segunda visita, no ano de 2009, ele parecia muito mais debilitado, sendo em muitos shows levado de cadeira de rodas até o piano, porém quando o músico começava a tocar, os anos, cheios de excessos, pareciam não terem causado tantos estragos assim. A incrível habilidade de manusear as teclas e incendiar a plateia parecia não o abandonar jamais.
OTIMA MATERIA ! PARABENS ! AE SIM !