Sabe aquela sensação, quando se abre um álbum de fotos dos anos 70, de que todos os dias naquela época eram ensolarados e calmos e as pessoas alegres e dançantes? A estética do filme Dois Caras Legais, que estreia 21 de julho nos cinemas do país, traz exatamente essa paz, apesar das cenas sangrentas e de nudez. Fomos assistir à pré-estreia para a imprensa e contamos um pouquinho dessa comédia cheia de ação a seguir.
O detetive particular Holland March (Ryan Gosling), a pedido de uma senhora, investiga se sua sobrinha (uma estrela pornô, recentemente morta em um acidente), continua viva, e acaba por chegar à Amelia (Margaret Qualley), que, por sua vez, contrata Jackson Healy (Russell Crowe) para dar uma surra (extremamente engraçada) no estranho perseguidor. Assim, os caminhos dos dois detetives se cruzam e acabam por fecharem uma parceria para esclarecer a ligação dos casos.
Holland é um viúvo inconsequente, alcoólatra e infeliz, porém muito divertido, que cria sua filha de 13 anos, Holly (Angourie Rice), de maneira irresponsável, inclusive, permitindo que ela dirija seu carro com a maior naturalidade do mundo. A atuação de Ryan Gosling é muito rica, a comédia inteligente, contida muitas vezes apenas no olhar e gestos sem necessidade de textos, as pausas também se mostram essenciais para dar o tom do filme.
Enquanto Healy é um sujeito durão, sangue frio, e destemido, por vezes sem paciência para as gracinhas do parceiro, tem uma essência solitária e demonstra a insatisfação de ser herói por dinheiro e, em uma crise de consciência, poupa a vida de um dos bandidos por querer fazer a coisa certa. Já Holly é honesta, esperta e acaba se mostrando essencial na equipe, conseguindo com seu carisma infantil, informações que os dois caras legais não conseguem!
O filme tem como pano de fundo a indústria pornográfica que teve seu auge nos anos 70, além de muitas cenas coreografadas de luta, que nos fazem querer levantar da cadeira do cinema. A história é interessante e aborda protestos hippies da época, preocupação com o meio ambiente, corrupção, desentendimentos familiares, porém a atuação dos atores acaba chamando mais atenção do que o enredo em si.
A nostalgia é parte estratégica da produção, colocando em alguns pontos elementos como o vídeo game “primitivo” Telejogo, anúncio com Gato Félix, e referências constantes ao seriado de sucesso dos anos 70 The Waltons e seu icônico John Boy.
A moda também é bem representada em seus figurinos repletos de calças boca de sino, jeans largos, cabelos ondulados e médios nas moças e o melhor estilo figurão nos rapazes. A decoração dos ambientes é algumas vezes baseada em animal print, sucesso da era Disco e as festas de arromba cheias de atrações inusitadas como devem ser. Carros como Kombi, Fusca, Opala e Chevette Tubarão podem ser vistos constantemente estacionados ou andando pelas ruas.
A iniciativa dos produtores de ambientar a trama na década de 70 é muito positiva, pois poucos filmes atuais possuem essa temática, sendo mais usais as décadas de 40 e 50, a estética é muito rica e fiel. Um ponto intrigante é ver em boa parte da produção, todos os personagens disputarem ferozmente a única cópia de um filme gravado em um rolo de cinema, que nos dias de hoje poderia ter sido salva facilmente em um vários pen drives por aí.