Uma das apresentadoras do programa Drag Me As A Queen (E!), Rita Von Hunty, drag queen que tem ganhado bastante notoriedade, principalmente devido aos seus vídeos do canal Tempero Drag, hoje com mais de 140 mil inscritos no YouTube e mais de 117 mil curtidas no Facebook, tem trazido ótimas reflexões do mundo pós-moderno com uma linguagem mais acessível.
Personagem de Guilherme Terreri, também professor, ator e escritor, Rita é uma drag com estilo pin-up, que inclusive, já apareceu aqui no site ilustrando a coleção retrô da marca Bruna Pepper. O reconhecimento do seu trabalho tem sido refletido também em campanhas publicitárias, cursos e palestras em empresas.
Para entender um pouco mais sobre suas influências vintage e seu vínculo com o passado, tanto na estética, quanto em seu discurso, falamos com essa figura, que nos trouxe um pouco mais do seu ponto de vista. Confira
Universo Retrô – Por que você abraçou o estilo mais pin-up para sua figura como Rita?
Guilherme Terreri – Acho a figura da pin-up extremamente subversiva. Em uma época, e uma sociedade de repressão moral e sexual, a pin-up aflora como uma expressão irrefreável da sensualidade e da beleza feminina. Há também o fato de que a pin-up é libertadora: não há tamanho, etnia ou classe social que a restrinja; ela pode ser tudo.
UR – Sabemos que o nome Rita von Hunty veio da associação de duas mulheres que são grandes ícones para as garotas pin-ups. A Rita, figura pin-up mais clássica, e Dita, como uma figura mais moderna. O que essas mulheres representam para você? Porque elas te inspiram em relação a tantas outras figuras femininas desse meio?
GT – Sinto que estas duas mulheres transformaram suas vidas para serem o que queriam ser, sem perderem suas essências. Rita era mexicana, e encantava por sua energia e espontaneidade tão diferentes para os norte americanos caucasianos de Hollywood.
Dita era loira e sonhava em ser uma nova Betty Page, gostava de balé, mas não era uma exímia bailarina; trabalhava vendendo lingerie e queria ser uma artista burlesca. Ela soube unir tudo o que tinha para construir um sonho que não era possível para quem ela era. Eu gosto de pessoas que conseguiram ser quem queriam, sendo apenas quem eram.
UR – Você dá aula de história, tem um estilo retrô e adora as divas do cinema. Porque essa relação com o passado?
GT – Porque quem não conhece seu passado não conhece nada. Quando a gente não sabe de onde as coisas vieram, nunca saberemos para onde elas vão.
UR – No programa Drag me as a Queen, vocês transformam mulheres em lindas drags. As garotas pin-ups costumam ser vistas por estarem sempre muito montadas e também costumam criar um codinome. Acredita que as garotas com estilo pin-ups são verdadeiras drag quens?
GT – Sem dúvida! Drag é sobre construir uma persona que nos dá poder para fazer coisas que não acreditávamos poder antes.
UR – Como você enxerga o boom das Drags no mainstream?
GT – É uma resposta a um crescente conservadorismo. É um movimento identitário e auto-afirmativo. É uma contra cultura do machismo/misoginia estruturais. É um caminho artístico sobre a diluição dos conceitos e performances de gênero.
UR – Além de você, quais outras drags brasileiras com inspiração no estilo retrô pin-up você gostaria de indicar para que nossos leitores também possam conhecer?
GT – Dacotta Monteiro, Vlada Vitrova, Malonna, Deenjers e Karen Noleto.