Na pesquisa “Quem é a Pin-Up Brasileira” realizada pelo Universo Retrô em outubro do último ano e publicada em maio deste ano, entre 258 respondentes, apenas 5% se declararam pretas. Com esse pequeno número, surge a pergunta: onde estão as mulheres pretas da cena vintage brasileira?
Onde estão as mulheres pretas da cena vintage?
Em 2016, o Universo Retrô publicou a matéria “Conheça 12 Pin-Ups negras para seguir no Instagram e se inspirar”. Entretanto, entre 12 nomes, apenas 2 indicações eram brasileiras. Eram elas, Paula Renata, também conhecida como Miss Black Divine, até então Miss Pin-Up The Sailor 2015, e Cherry Cris, entusiasta da cultura vintage negra desde a era dos blogs.
Olhando em retrospectiva, é notável a falta de representatividade de mulheres negras nessa comunidade no Brasil nessa época. Apesar de lá fora ter diversas representantes negras, entre elas, Angelique Noire, uma das principais modelos pin-ups modernas, no Brasil a representatividade negra ainda era pouco notável.
Esse é o reflexo da falta de referências, e pode ser notado, inclusive, nos mais diversos concursos de Miss Pin-Up realizado pelo país na última década, em que pouco se viu participação de mulheres pretas na disputa.
Conceito e Segregação: Reflexo dos anos 50
A verdade é que, quando se fala em pin-up, logo vem à mente o estereótipo da imagem de mulheres brancas, com lábios vermelhos e corpo curvilíneo. Isso se dá pelo fato de que essa era, em sua maioria, a representação nas ilustrações da estética pin-up anos 40 e 50.
Apesar de existir muitas artistas pretas, que são referências vintage atualmente, como as cantoras Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Nina Simone, e dançarinas como Josephine Baker, por exemplo, pouco se via a mulher negra representada nas ilustrações, maior referencial quando se fala em pin-ups.
Como já mencionado na matéria A publicidade como impulsionadora da arte pin-up, grandes empresas como Coca-Cola apoiavam os ilustradores, que precisavam criar a figura da pin-up e da perfeita família americana.
Como conceito de perfeição americana, em um período de segregação racial, eram retratadas mulheres e famílias brancas nessas ilustrações. Por isso, hoje em dia, é difícil encontrar referências ilustrativas não brancas dessa época. Refletindo em uma dificuldade de referencial de pessoas negras daquela época nos dias de hoje. Faça uma pesquisa rápida no Google e verá.
Black Pinups Magazine
Percebendo a falta de referência e para amplificar a voz das mulheres negras na comunidade vintage americana, Candace Michelle criou o perfil no Instagram Black PinUps e também a revista Black Pin-ups Magazine, extinta no último ano devido a inviabilização do projeto, mas que abriu espaço para que fosse possível conhecer outras mulheres negras adeptas ao estilo vintage.
Na 22º edição, Miss Black Divine ilustrou a capa, sendo a primeira e única brasileira a estampar a revista, com um ensaio fotográfico inspirado na cantora e dançarina Josephine Baker, clicado pelo projeto Pinup Maker. A Pin-Up também está na final do maior concurso de Pin-Up, o Miss Viva Las Vegas Pinup Contest, mas que foi adiado devido a pandemia.
Pin-Ups Pretas BR
No Brasil, em agosto de 2020, foi criado o projeto Pin-Ups Pretas BR para falar sobre beleza, resistência e ancestralidade das pin-ups negras, afro latinas e de países de língua portuguesa. Idealizado por Paula Renata e administrado por Amanda Luna, ambas do grupo de pin-ups pretas brasileiras, o perfil do Instagram ficou parado por um tempo após a sua criação, mas tem voltado à ativa para divulgar as mulheres pretas adeptas ao estilo vintage.
Conheça 13 Pin-ups pretas brasileiras para seguir no Instagram
Como podemos notar, de 2016 para cá, 5 anos depois da matéria publicada pelo Universo Retrô, muita coisa mudou. Entre eles, o movimento de mulheres pretas dentro da cena vintage, que, com a luta de algumas garotas para conseguir seu espaço, vem atraindo, crescendo e fazendo surgir novas adeptas negras ao estilo.
Em papo com Jess Pink e Paula Renata, ambas representantes do projeto Pin-Ups Pretas, resolvemos atualizar a lista feita há 5 anos, e trazer novos nomes para serem contemplados dentro da comunidade vintage brasileira, com garotas que têm feito a diferença criando projetos, produzindo conteúdo e se envolvendo com a cena vintage de alguma maneira. Confira:
Jessica Pink
Uma das precursoras do movimento negro na cultura vintage, ao lado de Paula Renata (Miss Black Divine), Lady Black Bird e Cherry Cris. Jess Pink, como é conhecida, é cabeleireira, maquiadora, especialista em texturas e Bi Campeã na Categoria Penteado do Soho Internacional.
Além de adepta ao estilo retrô, também trabalha com beleza em projetos fotográficos transformando outras mulheres em pin-up. Jess foi também uma das influenciadoras do projeto #MeuCabeloRetro do Universo Retrô feito em parceria com a Rebeel Professional.
Instagram: @jessicapinkmua
Lady Black Bird
Uma das primeiras garotas pretas a aderir à estética pin-up, quando havia pouca representatividade na comunidade, Talita Cardoso, de codinome Lady Black Bird, sempre mostrou seu amor pela cultura e também pela fotografia, realizando não só ensaios vintage, mas também de teor artístico. Entre seus gostos musicais, é uma grande fã de Capital Inicial.
Instagram: @ladyblackbird_
Frau Santiago
Cristina Santiago, ou Frau Santiago no Instagram, descobriu sua paixão pela estética vintage e tem investido em lindos ensaios fotográficos, parte deles feitos com o projeto Be a Bombshell. Entre os destaques, Frau já foi ilustração da Pinartz Magazine e também do The Cara Palida, além de ser uma das participantes do ensaio de natal do Universo Retrô.
Instagram: @frausantiago
Adorable Mya
Além de Pin-Up, Adorable Mya é também modelo alternativa. Em 2018, ganhou a faixa de Miss Pin-Up Pink October 2018, em um evento promovido pelo projeto Pink Ladies, e também foi uma das modelos da Viral Retrô, atual marca de lingeries Paty Galves.
Adorable Mya também esteve ao lado de Miss Black Divine em um editorial feito para a edição especial da revista do blog Moda de Subculturas sobre Pin-Ups Negras, ambas com suas faixas de misses.
Instagram: @adorablemya
Juliana Feitosa
Juliana Feitosa, também conhecida como The Glamourtrix, é uma mulher preta trans apaixonada pela cultura vintage e que vem ganhando bastante destaque pela sua representatividade no meio, sendo, inclusive, Pin-Up do Mês do Universo Retrô. Apaixonada pela cantora Rihana, The Glamourtrix se envolve com toda a sedução e fetichismo da cultura vintage.
Instagram: @badgaljuliana
Samara Rocha
Pin-Up e também grande fã de tatuagens, Samara carrega a faixa de 2° Lugar Miss Hot Rods Brasil 2018, concurso promovido no Hot Rods Brasil, evento de carros da região do ABC, Grande São Paulo. Em 2019, também foi uma das convidadas do projeto Retro Talks do Universo Retrô, para falar sobre diversidade feminina no estilo pin-up, também no Hot Rods Brasil.
Instagram: @21_samararocha
Renata Aylla
Saindo do eixo São Paulo, Renata Aylla é uma grande representante da cultura vintage no norte do país. Renata é uma das fundadoras do Pin-Ups Belém, grupo de garotas pin-ups de Belém, no Pará, que busca movimentar e fomentar a cena na cidade, e que já foi destaque em matéria do Universo Retrô.
Instagram: @renataaylla
Gabriela Pinto
Ao lado de Renata, está Gabriela Pinto, também integrante do grupo Pin-Ups Belém. Sua paixão pelo vintage também está em seu projeto Brechó da Gabi, que tem peças selecionadas com curadoria da própria Gabriela.
Instagram: @gabrielapinnto
Amanda Luna
Também entusiasta do estilo pin-up, Amanda ou Tchomply no Instagram, é criadora do Sentimental Brechó e também administradora do perfil Pin-Ups Pretas BR, ao lado de Miss Black Divine. O perfil nasceu com a proposta de divulgar pin-ups negras afro latinas e também de países de língua portuguesa.
Instagram: @tchomply
Michele e Franciele
As gêmeas de Curitiba (PR) também são apaixonadas pelo estilo Pin-Up e moda vintage. Enquanto, Michele Roxadelli se conecta mais com os anos 50, Franciele gosta de compartilhar sua paixão pelos anos 80.
Instagram: @mi.erra e @negahfran
Adriéle Bowl
Amante do vintage e também do metal, Adriele faz uma ótima mescla entre os dois estilos, muitas vezes trocando o coturno por um sapatinho retrô, mas sempre ornando dentro da essência vintage.
Instagram: @adriele_owl
Cantora Dyone
Além de admiradora da estética pin-up, Dyone é também cantora. Com seu talento, já participou do quadro de calouros 10 ou 1000, do Programa do Ratinho, no SBT.
Instagram: @cantoradyone
Madame Black Fortune
Amante da cultura vintage, Bruna também é vegana, proprietária do Brechó Mambô X e amante de viagens, magia e natureza. Atualmente, em seu Instagram é possível encontrar sua paixão por todas essas referências
Instagram: @madameblackfortune
Extra
Para a nossa lista, selecionamos também dois nomes que estão atrelados à cultura retrô, mas não necessariamente com a estética pin-up. São elas:
Josy
Destaque do Radar Retrô, projeto editorial do Universo Retrô feito em parceria com a marca de calçados Sapato Retrô, Josy tem como essência o Cottagecore, estilo estilo inspirado nas regiões de campo. Essa é sua principal influência na moda, que reflete no seu modo de viver e vestir.
Instagram: oliv_jo
Afroditews
Conhecida no Instagram como @afroditews ou Zacimba, a criadora do Brasilis Brechó e Afronimato, atualmente com seu cabelo em formato Black Power, se aproveita desse detalhe para compor toda uma atmosfera inspirada nos anos 70. Além de referências estéticas e políticas que são compartilhadas em seu Instagram, a música também se faz presente, principalmente, por se dedicar ao baixo.
Instagram: @afroditews
A Frau é a mais lindaaaa!!