Entre os amantes da matemática, a obra de Srinivasa Ramanujan é venerada. Já entre os leigos, alguns mais atentos devem lembrar-se da breve referência feita a ele em “Gênio Indomável” (1997). Ainda assim, para aqueles que estão fora do âmbito acadêmico, o nome de Ramanujan não evoca nada particularmente especial.
O filme O Homem que Viu o Infinito, que chega nessa quinta-feira (15) aos cinemas, surge justamente para apresentar-nos o gênio que tanto contribuiu para a história das ciências exatas. Baseado no livro biográfico de Robert Kanigel, The Man Who Knew Infinity: A Life of the Genius Ramanujan (sem tradução no Brasil), publicado em 1991, “O Homem que Viu o Infinito” narra a incrível história do matemático indiano Srinivasa Ramanujan.
Nascido em 1887, em uma vila rural da cidade de Madras (hoje chamada Chennai), ainda criança demonstrou extrema habilidade com números. Aos 15 anos passou a empreender pesquisas autodidatas nos campos da geometria e aritmética e descobriu soluções de polinômios de terceiro e quarto graus.
O filme utiliza sua vida adulta como ponto de partida da narrativa: em uma Índia devastada pelo imperialismo britânico, o jovem Ramanujan (interpretado por Dev Patel, aclamado por sua performance em “Quem Quer Ser Um Milionário?”) é um espírito devotado à matemática, ao mesmo tempo em que procura emprego para prover melhores condições a ele e sua esposa, Janaki (Devika Bhise).
Consegue, enfim, um trabalho como contador e é incentivado por pessoas próximas a publicar suas teorias. Ramanujan, então, envia uma carta à Universidade de Cambridge e chama a atenção do notável professor Godfrey Harold Hardy (Jeremy Irons, Oscar de Melhor Ator por “O Reverso da Fortuna”).
Convidado por Hardy, Ramanujan deixa sua esposa e sua mãe em Madras e parte para a Inglaterra, sendo admitido na Universidade de Cambridge, pouco antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial. Seu talento impressiona os britânicos, que, contudo, são irredutíveis em aceitar que um jovem indiano, oriundo da pobreza e sem qualquer formação acadêmica, possa apresentar as soluções para problemas matemáticos considerados, até então, insolúveis.
Neste, que é seu segundo longa-metragem como diretor, Matthew Brown buscou fidelidade à biografia escrita por Robert Kanigel. O filme poderia centrar-se na investigação minuciosa dos complexos teoremas desenvolvidos por Ramanaju. Mas, ao invés disso, Brown escolheu abordar a vida do matemático sob seu aspecto romântico, enfatizando seus intensos conflitos interiores.
“O Homem que Viu o Infinito” é, especialmente, sobre a amizade entre Ramanaju e G.H. Hardy: rígido, Hardy, como outros acadêmicos tradicionais, revela-se cético quanto às teorias apresentadas por Ramanaju. Mas a humildade do indiano, seu sofrimento, inteligência e destino trágico, comovem o professor inglês.
Hardy foi responsável por imortalizar Ramanaju, difundindo suas teorias entre os acadêmicos britânicos, que reconheceram no menino um caso de genialidade sem precedentes na história e elegeram-no membro da Sociedade Real de Londres. Hardy descreveu Ramanaju como sua maior contribuição a matemática e “o único incidente romântico de sua vida”.
Estudiosos da vida e obra de Ramanaju não explicam claramente de que maneira o jovem de origem humilde teria adquirido o conhecimento para a realização de descobertas substanciais para as ciências exatas, dentre elas, as funções que hoje auxiliam no estudo e compreensão dos buracos negros.
O filme, certamente, não busca responder a esta questão, o que reforça o aspecto místico da narrativa: Ramanaju atribuía seus conhecimentos a razões divinas, alegando que, ao rezar, a deusa hindu Namagiri punha fórmulas em seus lábios, ou mesmo as mostrava em sonhos. Para ele, “uma equação não tem significado a menos que expresse um pensamento de Deus”.
Dev Patel e Jeremy Irons, – respectivamente, o gênio incompreendido e o intelectual rigoroso que rejeita teorias metafísicas, – encarnam seus papéis com maestria e sensibilidade. O elenco coadjuvante, composto, entre outros, por Toby Jones, Stephen Fry e a estreante Devika Bhise, também não deixa a desejar. Embora a direção de arte não seja particularmente espetacular, os figurinos de Ann Maskrey (figurinista de “Thunderpants”, “O Hobbit” e “Malévola”) reconstituem a estética da década de 1910 com precisão histórica.
Confira abaixo o trailer oficial:
“O Homem que Viu o Infinito” é um filme sobre amizade, tradição, choques culturais, fé e espiritualidade; desnuda o elitismo e o conservadorismo presentes nas Academias; sobrepuja a noção de meritocracia, demonstrando que talentos necessitam de incentivo. É, acima de tudo, um filme sincero que alcança seu objetivo de emocionar e servir de introdução a uma das mais intrigantes figuras da história da matemática do século 20.