O Quebra-Nozes: tudo sobre o ballet tradicional de fim de ano

Difícil chegar dezembro e não se lembrar da história de O Quebra-Nozes ou, pelo menos, daquele boneco de madeira em forma de soldado, um item típico da cultura popular alemã e peça-chave de todo o enredo. Muito famoso no universo do ballet, o espetáculo russo tem mais de cem anos, mas segue encantando gerações ao redor do mundo. 

O Quebra-Nozes é um dos três ballets compostos por Tchaikovsky e teve a sua estreia no dia 18 de dezembro de 1892 no Teatro Mariinski, em São Petersburgo, capital da antiga Rússia Imperial. Hoje é possível não apenas ver o ballet nos palcos de todo o mundo, como também ver sua história sendo contada em filmes e desenhos animados. 

Antes de se tornar ballet

Tudo começa em 1816 na Alemanha quando Ernest Hoffman publicou o conto infantil O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos. Algumas décadas depois, em 1844, Alexandre Dumas o adapta para o francês, versão esta que foi transformada em ballet por Tchaikovsky na Rússia em 1892, com coreografia original assinada por Lev Ivanov.

De início, Tchaikovsky não gostou muito da proposta de transformar um conto infantil em espetáculo de ballet. Só aceitou por poder lançá-la em conjunto com a ópera Yolanta, escrita pelo seu irmão Modest Tchaikovsky, e, assim, os dois projetos foram lançados no mesmo dia e mesmo local. 

O ilustre compositor faleceu um ano depois, em 1893, e não chegou a presenciar a inesperada e grandiosa repercussão de sua obra. O motivo é que a receptividade positiva por parte dos críticos só veio um tempo depois. Mas, mesmo assim, o espetáculo marcou o nome de Tchaikovsky na história.  

O enredo

A história de O Quebra-Nozes se passa em uma noite de Natal na Alemanha do final do século XIX. O prefeito de uma cidade alemã e também respeitado médico Jans Stahlbaum promove uma bela festa de natal para seus amigos e familiares em sua casa. Seus filhos pequenos, Clara e Fritz estão ansiosos pelos presentes que irão receber de Herr Drosselmeyer, relojoeiro e padrinho de Clara.

Drosselmeyer chega um pouco atrasado, deixando as crianças ainda mais ansiosas, mas distribui presentes para todos, além de um especial para Clara – um boneco quebra-nozes em forma de soldado. A garota fica encantada, mas chama a atenção de Fritz, que o toma da irmã e, acidentalmente, o quebra. Clara fica tão desolada que nem o ar mágico da neve daquela noite é capaz de consolá-la. O padrinho diz a ela que tudo será resolvido e a festa termina. 

Na hora de dormir, Clara percebe que seu boneco ganha vida própria, ao mesmo tempo que surge ratos terríveis liderados pelo Rei dos Ratos. O brinquedo luta contra esse exército para defender a menina e os ratos vão embora derrotados e com o Rei ferido. Logo em seguida, o boneco vira um príncipe e leva a menina para uma aventura mágica na Terra da Neve, onde conhecem os flocos de neve dançantes, e, em seguida, na Terra dos Doces, onde encontra a Fada Açucarada e vários doces dançantes. 

A história termina com Clara despertando e se dando conta que toda essa aventura foi um sonho que permanecerá para sempre em sua memória. 

O Ballet Quebra-Nozes e suas versões

Por fazer sucesso em todo o mundo por quase 130 anos, é inevitável que O Quebra-Nozes ganhe versões. Há muitas delas, mas cinco foram as que mais ganharam destaque. Em 1984, o coreógrafo Peter Wright, junto com a Royal Ballet, do Reino Unido, manteve a história original, mas tratou a relação entre Clara e o Quebra-Nozes como uma história de primeiro amor. 

Já Christopher Wheeldon, ao lado da cia americana Joffrey Ballet, manteve sua história 100% original a fim de mostrá-la para os imigrantes em 1893. Enquanto que a Joburg Ballet inseriu todo o enredo às culturas africanas, em que Clara é apresentada à beleza e aos encantos da África, e o Quebra-Nozes sendo transformado em um curandeiro sul-africano. 

A China também não ficou de fora com a versão da Ballet Nacional da China, onde Fritz é Tuantuan e Clara, Yuanyuan. No lugar da festa de natal, os personagens celebraram o Ano Novo Chinês, além dos ratos serem substituídos por tigres e dragões. E, por fim, a Ópera de Paris, sob a coreografia de Nureyev, lançou uma versão sem a Fada Açucarada e a Terra dos Doces, aliás, apenas poucos detalhes do começo do espetáculo foram preservados, além de que Drosselmeyer e o Príncipe são a mesma pessoa. 

A primeira-bailarina

Todo espetáculo de ballet tem uma bailarina principal, na qual é chamada de “primeira-bailarina”, é como se fosse a rainha da bateria nas escolas de samba. Embora Clara seja a personagem principal da história, o posto de primeira-bailarina em O Quebra-Nozes, tradicionalmente, fica para aquela que interpreta a Fada Açucarada. 

Na estreia mundial em 1892, quem teve essa honra foi a bailarina italiana Antonieta Dell’Era. Já aqui no Brasil, O Quebra-Nozes só foi apresentado pela primeira vez em 1957 no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, sob a montagem de Eugenia Feodorova e estrelando a brasileira Dalal Achcar como a Fada Açucarada.