Conhecer a obra de Chico Buarque de Hollanda é inevitável a qualquer pessoa que se proponha a saber, o mínimo, da história da Música Popular Brasileira. No último domingo (19), o gênio musical, teatral e literário completou 72 anos e, para homenageá-lo, o Universo Retrô conta um pouquinho de sua trajetória.
Filho de Sergio Buarque de Hollanda – o maior historiador brasileiro –, Chico nasceu no Rio de Janeiro, mas também morou em São Paulo, quando seu pai foi chamado para dirigir o museu do Ipiranga. Fora do Brasil, viveu na Itália durante a infância, quando Sergio lecionava na Universidade de Roma. Foi nessa época que compôs suas primeiras marchinhas de Carnaval.
Quando criança, Chico teve contato com grandes personalidades da cultura brasileira, que, pela amizade com seu pai, frequentavam a casa da família. Grandes nomes da Bossa Nova, como Vinícius de Moraes, que mais tarde tornou-se seu parceiro, e os violonistas Baden Powell e João Gilberto. Chico também foi influenciado por sua mãe Maria Amélia Cesário Alvim, que tocava piano, e por sua irmã Miúcha, que mais tarde se tornaria um grande ícone da Bossa Nova.
Ao retornar de Roma, Chico começou a publicar suas primeiras crônicas no jornal por ele batizado de Verbâmidas, do Colégio Santa Cruz. Ele sonhava em vê-las publicadas nas grandes revistas semanais, ao lado de cronistas consagrados. No entanto, sua primeira aparição na imprensa não foi na seção de cronistas, mas, sim, nas páginas policiais do jornal Última Hora, de São Paulo.
Chico e um amigo roubaram um carro para dar umas voltas pela madrugada paulista, o que, até então, era comum na época. Mas a brincadeira acabou na cadeia. A manchete, com a foto dos dois menores com os olhos cobertos por tarjas pretas, destacava: “Pivetes furtaram um carro: presos”. A pena imposta pelo juiz dizia que até que completasse 18 anos Chico não poderia sair sozinho à noite.
Em 1963 Chico ingressou na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), mas acabou abandonando o curso três anos depois. Um dos motivos que influenciaram em sua decisão era o clima de repressão que tomava conta das universidades após o Golpe Militar de 1964.
No ano seguinte, começou a se apresentar em shows de colégios e festivais e gravou pela RGE o primeiro compacto, com canções como Pedro Pedreiro e Sonho de um Carnaval. Desde então, não parou mais de compor e se apresentar, participando de festivais internacionais de música, atuando no programa O Fino da Bossa, da TV Record.
Ainda em 1965, conheceu Gilberto Gil em um bar que era reduto paulista da Bossa Nova na época. E, em um show estudantil, conheceu Caetano Veloso, que se entusiasmou ao ouvir Chico cantando “Olê, olá”.
Com o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, o músico tornou-se conhecido no Brasil inteiro por sua música “A Banda”, interpretada por Nara Leão, que conseguiu o primeiro lugar em um empate com “Disparada”, de Geraldo Vandré.
A partir daí, Chico começou a fazer história. Foi a revolução da música brasileira nos tempos duros da ditadura. Era censurado por qualquer motivo, mas sempre conseguia escorregar pelas barreiras da repressão. Mas foi obrigado a se exilar na Itália em 1969, por ameaças do regime militar.
O músico fazia críticas negativas nas entrelinhas de suas músicas, mas os tempos exigiam cuidados redobrados nas composições. Então, Chico criou Julinho da Adelaide, seu pseudônimo para burlar a censura. Mas, com Julinho, compôs apenas três canções: “Milagre Brasileiro”, “Acorda Amor” e “Jorge Maravilha”.
Ao retornar para o Brasil, Chico continuou sendo um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização através de suas letras. Ao longo de sua carreira, firmou parcerias com grandes artistas como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho, Milton Nascimento, Francis Hime, Edu Lobo e Caetano Veloso.
Além de ser reconhecido por suas composições, o músico é muito respeitado pelo espaço conquistado na literatura e no teatro. Musicou para o teatro Morte e vida Severina e o infantil Os Saltimbancos, que se tornou muito popular, não só entre as crianças, mas entre seus fã adultos.
Escreveu também as peças Roda Viva e Calabar, que foram censuradas pela ditadura, Gota d’Água, Ópera do Malandro e os livros: Estorvo, Benjamim, Budapeste, que virou filme e ganhou o Prêmio Jabuti, e os mais recentes Leite Derramado, de 2009, e Irmão Alemão, de 2014.
Hoje já não é mais possível ver Chico Buarque frequentemente na TV, como na época dos festivais de música brasileira. E nem é preciso, o respeito e a significância do artista não se apegam às necessidades de divulgações nas mídias populares. Afinal, são 72 anos de vida de um dos maiores contribuintes da música nacional. Chico se tornou referência e um verdadeiro personagem da história brasileira.
artigo bem escrito! parabens!