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Os polêmicos anos 90: a mídia bizarra (e normalizada!) da época

3 de fevereiro de 2023, por Leila Benedetti
Cinema & TV
Os polêmicos anos 90

Quem viveu os anos 90 com certeza presenciou os vários momentos polêmicos sendo transmitidos na televisão aberta e em horários onde havia crianças na sala. E o pior, tudo era normalizado – pequenos de entre 7 e 10 anos de idade com o olho pregado em uma tela que exibia o sushi erótico do Faustão, por exemplo, e seus responsáveis simplesmente assistindo junto ou tranquilos por vê-los quietos no tapete ou sofá. 

A mídia naquela época foi bem humorada para muitos, mas também revoltou e chocou muitos outros. Se tudo o que foi lançado lá tivesse sido lançado hoje, com certeza, os artistas e veículos de comunicação teriam sido processados e até mesmo impedidos de continuarem com suas atividades, já que agora temos mais acesso à informação e, logo, somos mais conscientes. Agora vamos relembrar as polêmicas dos anos 90.

Na música

Um gênero musical que fez bastante sucesso no Brasil dos anos 90 foi o pagode. De início, seu ritmo era lento e acompanhado por letras românticas. Mas, na segunda metade da década, vieram grupos mais descontraídos, como Molejo e Art Popular, com melodias mais animadas e letras que falavam de amor de forma mais humorada e maliciosa. 

Essa descontração toda fez com que o pagode firmasse parceria com outra variação de pagode que também era febre na época – o pagode baiano, que, além das letras cheias de trocadilhos (o kibe que o É O Tchan! citava não era realmente o prato tradicional árabe!), vinha com coreografias hipersensualizadas que eram altamente copiadas por crianças e adolescentes sem nenhuma chamada de atenção de seus responsáveis. 

O rock nacional também não passou despercebido. Enquanto os anos 80 tinham Ira!, Barão Vermelho e Cazuza, os 90 tinham os Mamonas Assassinas. Ao contrário das outras bandas citadas, os Mamonas lançavam canções com letras sem cunho político, mas regadas de humor escrachado e hoje considerado impróprio. Assim como o axé, a banda de Guarulhos também conquistou o público infanto-juvenil, que inocentemente cantavam e dançavam suas músicas sem a intervenção dos adultos. 

Na TV

Naquela época a internet era limitada e acessível para poucos. A solução da classe média brasileira dos anos 90 para curtir os fins de semana em família nos dias em que era inviável sair de casa era assistir os programas de auditório na TV aberta. Tinham aqueles que eram voltados para crianças, como os da Xuxa e da sua rival Mara Maravilha, e aqueles para a família, como o Domingão do Faustão e seu concorrente Domingo Legal. Mas, independente do público alvo, o conteúdo desses programas eram um tanto polêmicos. 

As emissoras de televisão brigavam muito entre si para alcançar o topo do ibope, principalmente a Globo e o SBT. A competição era suja e muito apelativa, e quem acabava sofrendo (ou se divertindo) com isso era o pobre telespectador brasileiro, que chegou a presenciar um casal se pegando e caçando sabonetes dentro de uma banheira e um grupo de homens comendo sushi servido em cima de mulheres nuas em dois canais diferentes de forma simultânea, fora as piadas ofensivas dos apresentadores sobre seus convidados, com teor capacitista, racista, machista e por aí vai.  

Já os programas infantis também apelavam para ganhar audiência, mas de outra forma. Enquanto as crianças eram atraídas pelos quadros de gincanas, visitas de músicos do momento e exibição de desenhos animados, os responsáveis masculinos eram atraídos pela aparência, figurino e performances das apresentadoras, que eram sensualizadas. Além disso, era escancarado que as apresentadoras não lidavam muito bem com crianças. Dois exemplos eram Mara Maravilha, que flertava com os meninos pré-adolescentes da plateia, e Xuxa, que perdia a paciência com as crianças. 

A produção também não tinha muito filtro para escolher os artistas que iam se apresentar nesses programas. Pode aparecer o cantor mais obsceno do mundo, mas sendo febre na época era lucro, afinal, tudo em prol do topo da audiência. 

No jornalismo

Claro que havia o jornalismo sério nos anos 90, com notícias importantes sobre política, economia, entre outros tópicos essenciais para a nossa informação. Mas foi nessa época que houve a popularização do telejornal sensacionalista, com a exibição do Aqui Agora no SBT. 

De apelo popular, o telejornal noticiava de forma escandalosa e ao vivo casos de perseguições policiais e tiroteios com direito a imagens violentas e fortes. Tudo isso em pleno horário nobre, onde toda a família se reunia para assistir televisão. Além disso, também era apresentado notícias bizarras, como rumores sobrenaturais, por exemplo. 

Na publicidade

Com tanta polêmica circulando na mídia, claro que a publicidade não ficaria de fora. Já é mais do que debatido que os comerciais de cerveja da época eram altamente machistas, onde o produto era consumido apenas por homens, que, ao mesmo tempo, assediavam a garçonete. Fora isso, os comerciais, de cerveja ou não, tinham altas doses de gordofobia, incentivo à competitividade, elitismo e insinuações sexuais em horários inapropriados.

A publicidade infantil da época também era altamente tóxica, isso porque a mensagem passada nos comerciais do tipo era de competitividade e adultização precoce, fora o tom de manipulação e lavagem cerebral que essas campanhas tinham e os produtos divulgados em si, que vão de alimentos prejudiciais à saúde a itens licenciados por personagens que não são considerados para crianças, como a Tiazinha, por exemplo. Ainda bem que este ramo da publicidade foi regulamentada um tempo depois. 

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