The Platters gravaram cerca de 400 canções entre 1953 e 1977, vendendo mais de 80 milhões de cópias, e se apresentaram por todo o mundo, ganhando muitos prêmios e uma indução no Rock and Roll Hall of Fame ao longo do caminho.
Apareceram em uma série de filmes, tais como Rock Around The Clock (1956), Rock all night (1957), Europe by Night (1959), The girl can’t help it (1956) e muitos mais. Em uma história complicada (fato comum em grupos de Doo Wop) e recheada de integrantes, oficiais ou não, e, consequentemente, processos judiciais pelo uso do nome, que duram até os dias de hoje, mesmo com todos os integrantes originais já falecidos.
A origem do The Platters
The Platters começou em 1952 como “Flamingos”, um grupo de adolecentes de Los Angeles. Sua formação inicial era composta por Cornell Gunter, Gaynel Hodge, seu irmão Alex Hodge, Joe “Jody” Jefferson e Curtis Williams.
Com o tempo, Cornell se afastou para se juntar aos Flairs (e mais tarde aos Coasters); Curtis Williams se afastou para se juntar aos Hollywood Flames (e mais tarde The Penguins); Gaynel Hodge, que também se juntaria aos Hollywood Flames, mas também continuaria com Os Flamingos; e Joe Jefferson, que ia e voltava.
O primeiro a deixar o grupo foi Curtis Williams. Para o seu lugar de cantor baixo viria Herb Reed, que era, originalmente, de Kansas City e tinha começado como um tenor. Ele e Alex Hodge se conheciam, já que Alex namorava uma menina que morava no prédio de Herb e que, na época, trabalhava como mecânico de automóveis e também cantava em um grupo gospel local.
Quando o tenor Joe Jefferson saiu, seu substituto foi David Lynch, originalmente de St. Louis, e que trabalhava como motorista de táxi. Mas, o integrante que seria mais difícil de ser substituído era o principal, o tenor Cornell Gunter, que futuramente seria substituído por Tony Williams.
Samuel Anthony “Tony” Williams era de Elizabeth, New Jersey. Sua irmã, Bertha Williams, tinha se mudado para Los Angeles, mudou seu nome para “Linda Hayes”, e no início de 1953 teve um sucesso com “Yes I know”. No entanto fez duas coisas que eram ainda mais importantes: escolheu Buck Ram como seu empresário e convenceu seu irmão a vir para Los Angeles também.
Enquanto cantava no famoso Clube Alabam, Tony Williams chamou a atenção de Ralph Bass, produtor da Federal Records, subsidiaria da King. Bass parece ter sido a pessoa que colocou Tony com os Flamingos, aos quais também tinha ouvido falar no Clube Alabam e já havia contratado.
Inicialmente, eles foram usados como backing vocals em gravações de outros artistas. Seu primeiro trabalho de estúdio foi por trás do saxofonista Big Jay McNeely, em julho de 1953, gritando e cantando na gravação de “Nervous”, como um quarteto antes da entrada de Tony, se juntando a Gaynel Hodge, Alex Hodge, David Lynch, e Herb Reed.
Antes de gravarem seu primeiro disco, apareceu em Chicago um grupo fazendo sucesso com a gravação “That’s My Desire” com o nome The Flamingos, então sob sugestão de Herb Reed, mudaram o nome para The Platters, que era como chamavam os discos usados naquela época, os 78 rotações.
As sessões de gravações
A primeira sessão de gravação dos Platters foi realizada em 15 de Setembro de 1953, altura em que o grupo era composto por Tony Williams (tenor), Gaynel Hodge (tenor), David Lynch (tenor), Alex Hodge (barítono) e Herb Reed ( Baixo). As músicas gravadas foram “When you’re gone” ( liderado por Tony), “Give thanks” (Tony) “I Need You All The Time” (Tony) e “Hey Now” (Herb), todas sem muito sucesso. Em janeiro de 1954, Tony Williams foi ver Buck Ram (o empresario de sua irmã).
Ele cantou “My Buddy” para Ram, que gostou de sua voz, mas disse a ele que treinasse cantando com um grupo. Tony respondeu que cantava com os Platters e tinha feito algumas gravações para o Federal. Ram, então, confirmou o fato com Ralph Bass (um conhecido seu) e depois ouviu as gravações. Mais tarde ele diria: “Eu ouvi o grupo e eles foram simplesmente terríveis”.
Na verdade, Bass disse que não tinha planos de gravar o grupo novamente. No entanto, ele concordou em reconsiderar se Ram os treinasse. Ram, então, já um veterano compositor de vários sucesso nos anos 40, para artistas como Bing Crosby (i’ll be home for christmas), o grupo vocal Ink Spots (My prayer) e The Three Suns (twilight time), passou a ser seu empresário.
Depois de mais uma mal sucedida sessão de gravação, Buck Ram trouxe para o grupo a jovem e atraente cantora Zola Taylor e logo fizeram sua terceira sessão de gravação que incluía a primeira versão de “Only You”, mas o resultado foi tão ruim que Buck pediu a gravadora que não a lançasse, sendo atendido (por enquanto).
Only You havia sido composta anos antes por Buck Ram, mas nunca usada. Um dia, Jean Bennett (braço direito de Ram) carregava velhas caixas e se deparou com a partitura de Only You, que chamou sua atenção. Ela, então, indagou Ram sobre a canção, dizendo que achava ser um sucesso certo, mas Ram descordou, dizendo não gostar, e deixou a partitura em cima do piano. Outro dia, Tony veio para ensaiar, viu e gostou da música, e o resto é história.
As polêmicas
Logo, Alex Hodge seria preso por porte de maconha e a pedidos de Herb e Tony, Buck substituiu-o pelo barítono originário de New Orleans, Paul Robi, fechando aquela que seria a clássica formação com Tony Williams, Zola Taylor, David Lynch, Herb Reed & Paul Robi.
Em 1955, depois de outras sessões de gravação e sem nenhum hit, a gravadora Federal, que os via como um grupo de R&B não os quis mais, mas Buck Ram que os via como um grupo pop, não desistiu.
Quando o grupo The Penguins (também empresariado por ele) fez estrondoso sucesso com “Earth Angel” e despertou interesse da gigante Mercury Records, Buck disse que só os negociaria se a gravadora também contrata-se os Platters, o que relutantemente o fizeram.
Enquanto esperavam pela sua primeira sessão, gravaram vocais (sem crédito) na faixa R&B “Shtiggy Boom” (lead vocal de David) do saxofonista Joe Houston e ensaiaram exaustivamente. De repente, se tornaram um grupo coerente, Tony alcançaria notas estratosféricas e o mundo se atentaria para The Platters. Na primeira sessão gravariam, entre outras, a velha Only You, que logo lançada, chegaria ao sexto lugar na parada pop, logo seguida por “The Great Pretender”, em primeiro lugar. The Platters estava estourado!
No começo de 1956 fariam seu primeiro filme “Rock around the clock” e, mediante ao estrondoso sucesso, Ram, que sabia da confusão que resultou da marca Ink Spots, com vários membros montando seu próprio grupo e brigando pelo nome, formou a empresa Five Platters Inc, e fez com que cada integrante assinasse um termo abrindo mão do nome e os deu um salário de US$ 250,00 semanais, um ótimo salário para a época, mas nada perto do que estava lucrando com o grupo.
A onda de sucessos do The Platters
Entre 1956 e 1962, os sucessos se sucederam, The magic touch (quarto lugar), My prayer (primeiro lugar), You never know (décimo), Twilight time (primeiro lugar), Smoke gets in your arms (primeiro lugar), está última gravada em Paris por ocasião da tour europeia de 1959, e várias outras.
Apesar dos hits todos serem liderados por Tony Williams, todos os outros fizeram vocais principais em uma série de gravações, com destaque para os duetos entre Paul Robi e Zola Taylor, e as gravações mais no estilo Rock & Roll eram geralmente comandadas por David Lynch, e o baixo profundo de Herb pode ser ouvido em Sixteen Tons, Singing in the Rain e outras.
Alguns escândalos
Por volta desta época, os quatro membros masculinos se envolveriam em um escândalo em Cincinatti, Ohio, ao serem presos, por um “encontro” com quatro garotas de 19 anos, sendo três brancas, mas logo seriam absolvidos, porém isto afetaria negativamente o resto de suas carreiras como Platters.
Em 1961 começaria a se complicar a história; Tony Williams, então, uma das maiores vozes da América, resolveu seguir carreira solo e assinou com a gravadora Reprise (de Frank Sinatra) e foi substituído por Sonny Turner, mas logo a Mercury Records se recusou a lançar qualquer gravação sem Tony no vocal principal, o que motivou um processo judicial, vencido por Buck Ram.
A magia já não era mais a mesma; Tony se deu muito mal em sua carreira solo, e os Platters, apesar de continuarem as tours ao redor do mundo e as gravações, incluindo alguns sucessos menores, se deram mal sem Tony.
Pouco depois em 1962, Paul Robi e Zola Taylor também saíram e foram substituídos por Nate Nelson (coincidentemente, ex-Flamingos) e Sandra Dawn. Essa formação continuaria gravando pela Mercury até 1966, quando se transferiram para a gravadora Musicor, aonde emplacaram 2 hits com lead vocal de Sonny Turner, “I love you a thousand times” (sexto lugar) e “With this ring” (decimo quarto lugar em 1967).
David sai em 1968 e Herb Reed em 1969, daí a história realmente se complica. O Platters oficial (lembrando que era uma empresa de Buck Ram) continuou com diversos integrantes ao longo dos anos, incluindo o vocal principal, Monroe Powell (ex Dominos), que, apesar de não fazer parte das clássicas gravações, viria a ser o membro que ficaria por mais tempo, 25 anos – de 1970 a 1995.
Nos anos 70, além do Platters de Buck Rram, haveriam pelo menos mais 3, um Platters com David, Paul & Zola, outro com Herb Reed, e ainda um com Tony Williams. Começavam ali anos e mais anos repletos de disputas judiciais e também de Platters.
As perdas
O segundo tenor David Lynch, continuou se apresentando esporadicamente até 1980, vindo a falecer de câncer em 1981, aos 51 anos, e seria o único dos Platters a ser introduzido postumamente ao Rock & Roll Hall of Fame, em 1990, e o único que não entrou em batalhas judiciais pelo nome.
A voz dos Platters, Tony Williams, continuou com seu grupo, porém sofreu um derrame nos anos 70 e perdeu boa parte da sua habilidade de cantar, reduzido a uma pequena sombra do que era. No entanto, continuou cantando com seus Platters, que incluíam sua esposa Helen, até 1991. Ele morreu dormindo, em sua casa em Nova Iorque, em 15 de agosto de 1992, em decorrência de um enfisema pulmonar e diabetes.
O barítono Paul Robi, que, depois de se apresentar um tempo com David e Zola, formou seu próprio grupo, que, inclusive, visitaria o Brasil constantemente desde a metade dos anos 80.
Como já havia demonstrado em várias gravações menos famosas da era dourada dos Platters, era também um grande lead vocal e deu ao seu Platters uma grande vantagem com sua fantástica voz (lembrando-se das dificuldades vocais de Tony Williams) e carisma.
Paul faleceu em 1989 vitima de câncer, mas sua esposa continua com empresária do o grupo que ainda visita o Brasil constantemente com novos integrantes.
Zola Taylor, depois de um tempo parada quando foi casada com o cantor Frankie Lymon, montou seu próprio grupo nos anos 80, mas se aposentou em 1996, devido a um derrame. Porém seu grupo (como de praxe) continuou se apresentando, fazendo temporadas em grandes casinos em Vegas, Atlantic City etc.
Zola faria uma última apresentação pouco antes de morrer, já numa cadeira de rodas e sem quase conseguir cantar, no Taj Mahal casino em Atlantic City, numa cena muito triste de se ver, vindo a morrer em abril de 2007, aos 69 anos, de pneumonia, depois de vários derrames em Riverside Califórnia. Seu grupo continua como Zola Taylor’s Platters.
Já o baixo Herb Reed, que, em 2007, passou a ser o único sobrevivente da formação clássica, montou também seu próprio Platters nos anos 70, e nos anos 90 ganhou de Jean Bennet (que assumiria a Five Platters Inc após a morte de Buck Ram) o direito ao uso do nome The Platters, sem nenhuma restrição ou complemento, e manteve-se no grupo até menos de um ano antes de sua morte, em decorrência uma doença pulmonar crônica em 2012.
Buck Ram continuou com seu grupo até sua morte em 1991, quando deixou a empresa para seu braço direito Jean Bennett, que manteve o grupo ativo com o Lead vocal de Monroe Powell até 1995, quando passou a licenciar a marca para um grupo sediado em Branson, Mi, e outro em Nova Iorque, além de ocasionais licenciamentos para shows.
Em 2010, Buck perdeu mais uma batalha judicial para Herb Reed e, em 2011, aos 89 anos, anunciou a aposentadoria da marca, pensando, erradamente que isto iria acabar por deslegitimar os outros grupos.
Jean vive em Las Vegas aos 94 anos. Da formação original (Flamingos/Platters), o único sobrevivente é Gaynel Hodge, que aos 79 anos se apresenta esporadicamente, mas não cantando mais do que apenas uma ou outra dos Platters, até porque saiu antes do sucesso do grupo.
Dos integrantes notórios do grupo, Nate Nelson e Sandra Dawn já faleceram. Sonny Turner, que substituiu Tony Williams em 1961, se apresenta regularmente, como o último sobrevivente da fase dourada dos Platters, cantando seus 3 hits e os hits com Tony Williams e Monroe Powell.
Monroe, como já citado, apesar de não fazer parte das gravações de sucesso do grupo, foi o membro que mais tempo permaneceu no grupo original de Buck Ram, de 70 a 95, quando montou seu próprio conjunto e se apresenta até hoje como Monroe Powell & The Platters (sofreu um processo do empresário de Herb Reed que ficou com o grupo, o processo continua correndo em Las Vegas).
Então, resumidamente, hoje ainda temos pelo menos 5 ou 6 grupos ativos, os de Sonny Turner e Monroe Powell, os três deixados de herança, por Paul Robi, Zola Taylor e Herb Reed, e eventualmente aparecem um ou dois grupos piratas, alegando ter licença de Jean Bennet, ou de outros.
Um legado confuso e em muitos dos casos (com possível exceção dos grupos de Sonny Turner e o deixado por Paul Robi , que ainda frequenta o Brasil) abaixo do padrão de qualidade e sem nenhuma ligação com qualquer verdadeiro membro deste grupo que ficará para sempre eternizado nas fantásticas gravações que continuam e continuarão por muitos anos a serem ouvidas por fãs e apreciadores de boa música pelo mundo todo.
Discografia básica
Toda a obra do grupo na sua fase clássica da gravadora Mercury e da fase Musicor podem ser encontradas na caixa de 9 CDs da Bear Family Records, da Alemanha, intitulada Four Platters & a Lovely Dish. A totalidade das gravações pela King – Federal podem ser encontradas no CD The Complete Federal Recordings da ACE Records do Reino Unido.
Parabéns por esse ensaio biográfico dos Platters. Muito bem elaborado. Gostei muito. Tem muita coisa que não sabia e nem imaginava.
Obrigada!
Lysandra
Que bom que gostou Lysandra :)
Parabéns, sou fan desde sempre mas não sabia nada sobre o desenvolvimento dos Platters.
Obrigada!
Edna Santos.
Que bom Edna! Esperamos trazer sempre essas curiosidades para vocês :)
Uma história bem contada que não está no Wikipedia. Sou da segunda metade dos anos 70 e gosto de ouvir uma boa música. The Platters, grupo maravilhoso com Tony Williams.
Trajetória conturbada mas, artistas de primeira grandeza. Parabéns pela biografia sintetizada do grupo.
Muito legal estas informaçoes sobre Os Platters . Sou fã do grupo desde 1958. Assisti dois números do filme documentário “Europa `a Noite” you´ll never never know e My dream… Daí em diante comprei todos os discos que eram lançados (com muito atraso no Brasil) Vale lembrar um filme que existe no You tube contando o envolvimento de Zola Taylor com Frank Lemon (que fez muito sucesso, porém decaiu na carreira e morreu com alcool e drogas…..Sem tive a opinião que Tony williams foi a voz principal dos Platters ….Acho que nenhum outro conseguiu substitui-lo com sucesso e qualidade vocal…
sou fã dos Platters desde o dia que assisti o filme Volta ao mundo em 80 dias quando foi lançado
Ótima biografia, soube de muitas coisas que nem imaginava. Tenho uma úvida sobre a música Only You. Por que quando o Toni cantava ele colocava um D onde não tem na letra escrita, tipo Cand make ths change , e no original é Can make.
Incrível!! Parabéns pelo site, muito enriquecedor! Abraços!
lindas músicas ótimo grupo quanto mais se houve,mais se quer houvir ,lançadas em lindos tempos para que nos tempos de hoje sem opções de boas músicas ; podemos ter o previlégio de desfrutar esses imortais clássicos parabens pelas postagens.
Sempre ouvi músicas deles mas não sabia quem eram só a partir de 2012 fui ter a consciência “ah estou ouvindo The Platters” e de lá pra cá um Big Fan dos anos Dourados da 1°formação clássica e da segunda com Sony Turner ..já as outras tantas não conheço..mas as clássicas são realmente inesquecíveis..belas músicas dos anos 50 & 60 demais!! Não apenas ouço mas sempre canto junto kkk Muito Bom!!
Parabéns pelo excelente documentário . The Platters fizeram parte de minha adolescência e juventude !!
Tudo muito belo, mas um final infeliz para todos. Explorados e engolidos pelo capitalismo.
José