Adam Roman, cover premiado pelo Elvis Tribute Artist (ETA), chega a Belo Horizonte nesta sexta-feira (15) para apresentar no Cine Theatro Vallourec o espetáculo “Elvis Acústico – voz, violões e piano”. Aos 26 anos, o músico de Guarulhos celebra uma década de carreira com novo projeto inspirado no acústico Elvis: The Comeback Special de 1968. Antes de desembarcar na capital mineira, Adam Roman conversou com o Universo Retrô e contou detalhes do show, carreira e os desafios de interpretar os sucessos do Rei do Rock.
Universo Retrô – Você está de volta a Belo Horizonte com um espetáculo novo, mais intimista. Como surgiu a ideia da turnê “Elvis Acústico”?
Adam Roman – A ideia surgiu baseada no 68’ Comeback Special que marca o retorno de Elvis aos palcos após 8 anos dedicados somente a gravações de seus longas em Hollywood. E, por este período ser pouco difundido no nosso país pelo fato de a maioria de Elvis Covers retratar o período posterior (os anos 70, a roupa branca), me motivei a ir na contramão e trazer esse período da roupa de couro preta que na realidade foi um marco na história e vida de Elvis Presley.
UR – Além dos clássicos de Elvis, sempre obrigatórios, quais os critérios que você usa para montar o repertório de um novo show?
AR – Claro, os clássicos a turma sempre espera. Acredito que um dos objetivos deste show é difundir ainda mais a obra e vida do Elvis, por isso, procuro inserir canções que foram lado A durante a década de 60 e que ao longo dos anos se tornaram pérolas perdidas como “Surrender”, uma delas.
UR – De uma Big Band para voz, violões e piano. Essa transição pesou na hora de você se preparar para a turnê atual?
AR – Fugir do trivial, qualquer grande mudança, sair da zona de conforto é algo que sempre traz o famoso “frio na barriga”, mas se a gente não fizer, ninguém fará por nós. Artisticamente foi um desafio gostoso porque pude me fazer valer da condição “acústica” para trabalhar em determinadas releituras que com o formato “big band” não iriam funcionar, tanto na questão de sonoridade quanto na condição de realizar uma apresentação mais intimista, lúdica. São situações que na Big Band, você acaba conseguindo um show mais roteirizado. No final, acabou dando certo e a proximidade com o público que esse show permite é algo que em 10 anos na estrada eu nunca havia vivido.
UR – O que você acha que as pessoas mais querem ver no seu show: o “Elvis” em si, os trejeitos, voz e personalidade ou um tributo? Qual é a sua percepção de público ao pisar em um palco?
AR – Muitos covers (me refiro aos Elvis Covers) acabam optando por uma pura e simples imitação, o gestual meticulosamente ensaiado, as mesmas piadas, o riso, a voz, apesar de eu não seguir por esse caminho; eu realmente não condeno porque há demanda para isso. Só que a minha crítica não é para a imitação, mas sim para o que é feito com esses “ingredientes”. O modo distorcido como as pessoas compreendem o Elvis e tem a capacidade de ver o próprio cantando “My Way” com o diafragma e se propõe a gritar com o útero que não possui em nome de “uma voz potente” ou até com o ovo na boca que até hoje eu não sei de que Elvis eles tiraram isso.
Pronunciando um dialeto não identificado, utilizando uma fantasia com lantejoulas enquanto o próprio possuía uma elegância sem igual, e “a cereja do bolo” é este indivíduo dizer que aquilo é um trabalho fiel. Dessa forma, o camarada vende essa imagem para as pessoas e os que assistem o DVD quando se deparam com esses “animadores” acabam acreditando que todo Elvis Cover é assim discrepante, ou o famoso “Rebola Elvis”.
O que acredito ser pouco explorado por todos são os ingredientes que compõem a figura, a imagem. Por exemplo: a pronúncia fluente, o domínio de um instrumento musical, os equipamentos vintage. Muitos Elvis sequer sabem tocar 3 acordes! Uma roupa bem feita, elegância, espontaneidade… Tudo isso reflete no produto final. O Elvis que eu assisto no DVD era espontâneo, nem todo show ele dançava ou fazia as mesmas piadas, nem todo show ele chorava ou ele caía no chão. O público quer ver algo que seja digno da memória de quem você se propõe a homenagear. Porque o corpo vai, mas o espírito permanece, mesmo que o Elvis tenha nos deixado o espírito dele vive e, quando você toca e canta as canções dele, ou de outros que já se foram, você basicamente dá corpo ao espírito.
UR – Ainda nesse aspecto, existe uma grande polêmica no Brasil quando se trata de cover ou tributo. Na internet, principalmente em fóruns e redes sociais; há muitas críticas dirigidas ao predomínio de músicos e bandas “de versões” que lotam as grandes casas de espetáculo. A maior parte dessas críticas, aliás, corresponde a alegação de que o trabalho desses artistas acaba desfavorecendo aqueles que apostam em uma carreira autoral. O que você pensa e como lida com o assunto?
AR – Eu acredito que o problema não é diretamente entre quem é cover/tributo e artistas autorais. Sei que o fato existe, mas vejo isso como um problema do sistema na escassez de dar chances, incentivos. É um problema que vai desde o amigo que você tem e que paga R$ 300 para ver o gringo no estádio, no frio, na chuva, de um telão da arquibancada, pagando flanelinha de R$ 50 a R$100 para estacionar o seu carro; então termina o show e o cara pega aquela fila da entrada só que agora, para sair. O artista sequer olha na cara do amigo ou o conhece.
Então, você chama esse amigo para o seu show (cover ou som próprio), você ensaia meses, até grava CD, gastaram para lá de 10k, produção independente. O ingresso? É R$ 10 pilas. No dia do show? “Putz, não consegui ir…” a ladainha de sempre. Resumindo, a cena não se sustenta. Uma hora você não vai ter giro e vai tocar ou o que dá dinheiro ou senão para. Isso não se trata de uma briga dentro da classe musical, mas de uma ausência cultural de apoio aqueles para os quais 10 pilas faria toda a diferença seja para pagar as contas ou até como incentivo.
UR – Como artista independente, o que você tem a dizer sobre os projetos de incentivo à cultura do país?
AR – Primeiramente quero dizer que eu não tenho incentivo algum, nem PROAC, nem Rouanett, nada. Esses dias estava conversando com um produtor que me perguntou isso e respondi que sou contra. Rapidamente o produtor me disse “mas como é que o Gil, a Gal, o Roberto, esses caras todos vão sobreviver? Eles vivem disso! Se acabar, eles morrem! O mercado acaba!” quando ele terminou de defender com muito nervosismo a sua posição e indignado por eu ter exposto minha opinião, disse a ele: “A questão não é como eles vão viver sem incentivo algum. A questão é como há dez anos eu vivo sem incentivo algum.” Resumindo: Acho que perdi o amigo e o produtor.
Mas verdade seja dita, eu não defendo uma extinção das leis desde que elas sejam des-burocratizadas. Existe uma série de exigências que são feitas previamente e que tornam esses benefícios inalcançáveis. Entendo que esses pré-requisitos sejam necessários para uma teórica “regulamentação” e “controle” do benefício. Porém não tem como você exigir antes do benefício certas burocracias que o artista independente só conseguiria se tivesse o tal incentivo nas mãos. Ou seja, que você pudesse apresentar o projeto e caso este fosse aprovado, daí sim dar-se-ia um prazo para a regulamentação fiscal necessária dos beneficiados para então ter o que de direito foi aprovado. Mas hoje, isso é um cartel.
UR – Você foi reconhecido por ninguém menos que Joe Moscheo e também já ganhou destaque no site oficial de Elvis Presley. Como foi receber esse feedback tão positivo para sua carreira?
AR – Acredito que é o reconhecimento que todos nós músicos, artistas procuramos. Quando alguém lembra que foi no teu show, de você, é gratificante e não me incomoda em hipótese alguma. Ser reconhecido pelo Joe foi genuíno e algo que nunca vou esquecer na minha vida porque não mandei nada para ele, não fui atrás. Ele me achou e mandou porque quis. Não levo isso para o lado da vaidade, porque não foi a vaidade que o trouxe até mim, foi o meu jeito de ser, da forma como eu fiz e faço independente de títulos. Isso deve ser mantido e reconhecido, nesse jogo “inimitável” alguma coisa eu acho que acerto (risos).
UR – Você participa de todo o processo de produção de suas turnês. Qual é a sua rotina de cuidados antes de cair na estrada?
AR – Antes eu faço um acompanhamento vocal por um coach-vocal; um professor de canto que é como se fosse um técnico de futebol, já fiz teatro em peças que não tinham relação com o Elvis; e inglês, e participo de toda a parte de criação da identidade visual das turnês além da parte técnico-musical do espetáculo. A parte do figurino vem lá dos EUA, de onde o Elvis fazia suas roupas, inclusive a do show “Elvis Acústico” é uma dessas.
UR – Você já esteve em Memphis e também pisou na terra natal de Elvis, Tupelo. O que mais te marcou nessa experiência?
AR – Profissionalmente, é o alto nível dos covers de lá. Alguns podem até não “ornar” com a aparência Elvis, mas são indiscutivelmente vaidosos com questão de roupa, acessórios, performance, agora se tem talento é outra história. Como fã, é uma experiência sensacional. Tocar na loja aonde o Elvis ganhou da mãe o primeiro violão, visitar a primeira casinha, ver Graceland, ir à Sun Records; sentar no estúdio, ficar olhando e pensando quantos passaram por ali além do Elvis: Roy Orbison, Johnny Cash, Ray Smith, Jerry Lee Lewis… É uma experiência que todo e qualquer amante do rock n’ roll deve passar, ir à Sun Records e lá simplesmente bater continência e dizer “Obrigado Sam Philips”.
UR – O Gospel esteve sempre presente na carreira de Elvis Presley e você venceu o campeonato Elvis Gospel América Latina em 2014. Como é a sua relação com esse gênero musical?
AR – Então, gosto muito da fase gospel do Elvis, principalmente dos vocalises, divisão de vozes bem característicos dos anos 50 e 60, mas na realidade isso aconteceu muito sem querer (risos). Eu não esperava conseguir porque cantei duas canções que não tem cara de Gospel dos anos 60 assim. As canções foram: “I’ve Got A Feeling In My Body” e “Saved”, mas se deu certo, Amém! Acho que o Elvis ficou orgulhoso porque na realidade, ele amava isso.
UR- Outro grande concurso marcou a sua carreira, você ficou com o 3º lugar do “Elvis Tribute Artist” (ETA) de 2014, e atualmente é considerado o Elvis cover profissional mais jovem do Brasil. Você acha que a sua idade pesou no ETA, em termos de experiência?
AR – Lá fora eu não senti isso como um fator que pesasse, eles me passaram a impressão de serem bem imparciais quanto a questão da idade. O lance é, você faz bem feito e mais próximo possível? Então pronto, é o que basta. Claro que em termos musicais, o fato de você competir com um ETA que faz o Elvis nos anos 70 (fase final) pesa no quesito de você ter canções que exigem mais do poderio musical de cada um, algo que nos anos 50 e 60 era mais performance do que voz. Então, cada um luta com as armas que tem. É gostoso sim competir e levar o nome do nosso país para lá, podemos mostrar que há ETA’s (Elvis Tribute Artist) de qualidade em nosso país.
UR – Por último, você tem algum lançamento em vista?
AR – Em BH irei lançar meus 6 cd’s com canções do Elvis voltados para diversas vertentes dele, o “Rocks Of The King”, que traz o lado mais rock n’ roll dele. Os 3 volumes voltados para canções românticas o CD “In Love”, o meu mais recente “Kiss Me Quick”, no qual tem a canção “Hearts Of Stone” gravada na Sun Records, um CD aonde eu “finalizei” certas canções que o Elvis deixou gravadas para ele fazer valendo depois, o que acabou não dando tempo. E o último, resultado de 4 anos de produção “Elvis & Me” que fiz inteiramente em dueto com o Elvis, graças à tecnologia (risos). Todos esses Cd’s estarão disponíveis após o final do show em BH. Fora isso, este ano faremos o DVD do “Elvis Acústico”, ainda estamos definindo.
Serviço:
Adam Roman apresenta “Elvis Acústico – voz, violões e piano”
Data: 15 de abril, sexta-feira
Horário: 21h
Classificação: Livre
Lugar: Cine Theatro Brasil Vallourec, na rua Dos Carijós, 258, Praça Sete, Centro, Belo Horizonte.
Ingressos:
– R$80,00 inteira e R$40,00 meia Plateia I
– R$60,00 inteira e R$30,00 meia Plateia II
Venda na bilheteria.