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A importância de conhecer o lado B do rockabilly e rock ‘n roll dos anos 50

15 de janeiro de 2016, por Joanatan Richard
Música

Ronnie Self e banda (Foto: Reprodução)

Não é muito difícil encontrar pessoas que não são muito familiarizadas com o rock ‘n roll e rockabilly feitos nos anos 50. Isso não quer dizer que elas não conheçam Elvis Presley, ou quem sabe até alguns sucessos de Little Richard, Bill Halley, Chuck Berry e Buddy Holly, mas muito provavelmente nunca tenham ouvido falar de nomes como Charlie Rich, Rudy “Tutti” Grayzell, Charlie Feathers, Johnny Carroll, Billy Riley, Ray Smith, Ronnie Self, assim como tantos outros artistas com excelentes trabalhos que fizeram o “lado B” da história do rock.

A escalada para alcançar o sucesso e o reconhecimento na carreira não é algo de hoje, nem se restringe à música; seja nas artes ou em outras profissões, existem aqueles que se mantém no mainstream e aqueles que permanecem no underground. De uma forma ou de outra, todos querem ter seus trabalhos reconhecidos. No entanto, de fato o sucesso é algo relativo e pode ser classificado em vários patamares ou estágios.

Elvis Presley

Elvis Presley (Foto: Reprodução)

Enquanto alguns buscam atingir o status de estrela e faturar milhões, outros querem apenas viver dignamente de seus trabalhos, suas respectivas artes. O sucesso não depende somente da qualidade artística do indivíduo, mas de vários fatores combinados, entre eles um pouco de sorte e trabalho duro. O artista que trabalha bastante, mas está preparado para quando aparecerem as oportunidades, deve ter também um bom network, músicos bons ao seu lado, e até investimentos para bancar uma equipe, assessores, etc. Ou seja, a matemática não é simples.

Podemos imaginar a dificuldade para o artista se promover nos anos 50, pois dependia muito das gravadoras, especialmente das maiores, que eram as principais provedoras das necessidades artísticas e comerciais da época. Por exemplo, essas empresas tinham o “A & R” (Artista e Repertório) responsável pela escolha do set list dos músicos, direitos autorais de canções, além de representante comercial, produtores musicais, diretores artísticos, agentes, entre outros profissionais.

Charlie Feathers

Charlie Feathers e banda (Foto: Reprodução)

Hoje, isso mudou muito. Com a queda da venda de discos e o surgimento da internet, consequentemente, mudaram os serviços das gravadoras para cada artista, que cada vez mais gerencia sozinho sua carreira ou trabalha com uma equipe mais reduzida. Muitos dos músicos atuais passaram a administrar suas obras em seus próprios selos e editoras, bancam a gravação e prensagem de seus discos, divulgando pela internet, e distribuem através de parceiros especializados ou de forma direta com os fãs, em shows, etc.

Nos anos 50 já existia o negócio independente, informal, onde pequenos produtores de discos e o próprio artista viajavam muitos quilômetros, divulgando os singles em rádios, vendendo discos em porta-malas de carros ou em shows. De forma especial, nos Estados Unidos, muitos pequenos e lendários selos surgiram no “boom” do pós-guerra. Entre eles, podemos citar alguns dos mais importantes: Chess (Chicago), Modern (Los Angeles), King (Cincinnati), Sun (Memphis), Starday (Beaumont), Roullette (Nova York).

Sam Philips

Sam Philips, proprietário da Sun Records (Foto: Reprodução)

Assim como a Sun Records descobriu nomes como, Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis (o quarteto de um milhão de dólares), outros selos também trilharam o mesmo caminho e seguravam seus maravilhosos músicos até quando podiam, depois vendiam os contratos para as gravadoras maiores. No entanto, muitos outros artistas não tinham a mesma sorte e permaneciam nos pequenos selos, fazendo um relativo sucesso local ou mesmo se mudavam-se não tinham o êxito esperado nas maiores gravadoras. Muitos deles tiveram mais sucesso como compositores ou produtores musicais, como, respectivamente, nos casos de Ronnie Self e Jimmy Bowen.

Rudy Tutti Grayzell

Rudy Tutti Grayzell (Foto: Reprodução)

Felizmente, muitos dos artistas que não estouraram nos anos 50 e início dos 60 e ficaram anos no ostracismo, tiveram uma ótima receptividade no revival do rockabilly 50’s na Europa, como é o caso do texano Rudy ‘Tutti’ Grayzell, que chegou a fazer shows de abertura para Elvis Presley, nas caravanas itinerantes, nos tempos da Sun Records.

Rudy também era amigo de Roy Orbison e chegou a gravar para importantes selos como Starday, Capitol e Sun e, desde os anos 80, apresenta-se em diversos festivais do gênero pela Europa. Em 2013, veio pela primeira vez para a América do Sul. Um artista completo, que, além de ter escrito e gravado excelentes canções, incluindo o clássico do rockabilly, “Ducktail”, agradou e muito quem esteve presente em seus shows.

Isso só nos prova que é essencial buscar além das listas dos melhores discos e artistas em publicações mais comerciais. Para manter essa chama dos anos 50 acesa é muito importante garimpar os tantos nomes menos famosos e, muitas vezes, até injustiçados pela história e negligenciados pelo mainstream.

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4 Responses

  1. Rodrigo

    Muito bem escrita! Parabéns, Joanatan! Infelizmente muitos talentos não foram reconhecidos a contento, embora tenha sido uma época de muitas oportunidades para o Rock´n´roll

  2. Luiz Oswaldo

    Ótimo o seu texto, mas Joanatan. De Ronnie Self, por exemplo, eu só conhecia Bob -A-Lena, e I’m sorry na voz de Brenda Lee. Felizmente tive a sorte de achar um CD dele recentemente e o comprei imediatamente. Incrível constatar que o cara era dono de um talento fantástico, muito melhor que dúzias de artistas bem sucedidos.

    1. Grato, caro Luiz Oswaldo! Entendi, realmente as vezes leva um tempo para descobrirmos certas pérolas da música. A grande vantagem dos tempos atuais é a facilidade grande que temos para ouvir vários artistas pela intenet. Vamos ao garimpo.. Super abraço.

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