Quando se fala em blues, normalmente surge na mente nomes como Robert Johnson, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Buddy Guy ou B.B. King, entre muitos outros grandes músicos do gênero. Entretanto, grandes cantoras e compositoras marcaram a história do blues e de muitas delas pouco se ouve falar.
Mulheres fortes e corajosas que não se resignavam, colocando para fora, através de suas canções, toda dor e opressão que sofriam – e também suas diversões oriundas de uma vida desregrada, de bebidas e excessos (pouco se importando com suas reputações). Uma delas era Ma Rainey.
A história de Ma Rainey
Em 26 de abril de 1886, nascia Gertrude Malissa Nix Pridgett ou Ma Rainey, mais conhecida como “a mãe do blues”, embora sua data e local de origem sejam questionáveis. No senso de 1900 consta que seu nascimento foi em setembro de 1882, no Alabama. Já pelo censo de 1910 ela teria nascido em Columbus, Georgia, na região sudeste dos Estados Unidos.
Mas, sabe-se que ela começou sua carreira precocemente como artista de palco em um show de talentos em Columbus, quando tinha cerca de 12/14 anos de idade.
Mais tarde teria afirmado que a primeira vez em que se deparou com o blues foi em 1902, quando tinha apenas 16 anos. Em 1904 casou-se com Will Rainey, desde então passou a adotar seu nome artístico e ambos formaram a “Alabama Fun Makers Company”.
Mas, em 1906, juntaram-se à companhia de Pat Chappelle, que era uma das maiores e mais populares na época, a “The Rabbit’s Foot Company”, na qual eles ficaram conhecidos como “The Black Face Song and Dance Comedians, Jubilee Singers and Cake Walkers”.
Em tradução literal, seria algo como “O rosto negro da música, dançarinos comediantes, cantores de jubileu (comemoração religiosa da Igreja Católica) e caminhantes de bolo”, que se referia a uma dança com passos intricados, originalmente interpretada pelos afro-americanos com um bolo como prêmio para os melhores desempenhos.
Ma Rainey, a mãe do blues
Seu apelido, “Mother of the Blues”, não significa exatamente que ela tenha inventado o gênero ou que fosse precursora entre as mulheres, mas com o aumento na popularidade do blues, Ma Rainey foi a primeira a tornar-se famosa.
Conheceu vários músicos em New Orleans, como Louis Armstrong, Joe “King” Oliver, Sidney Bechet, mas talvez sua parceria musical mais marcante e conhecida tenha sido Bessie Smith, uma jovem cantora de blues que também estava construindo a sua fama.
Desde o final de 1910 houve uma crescente demanda por gravações de músicos negros. Uma década depois, em 1920, Mamie Smith foi a primeira mulher negra a ser gravada. Em seguida, em 1923, Ma Rainey foi descoberta por um produtor da Paramount Records, assinou um contrato e em dezembro do mesmo ano fez suas primeiras gravações em Chicago, incluindo “Bad Luck Blues”, “Bo-Weevil Blues” e “Moonshine Blues”.
Um ano depois em 1924, fez algumas gravações com Louis Armstrong, incluindo “Jelly Bean Blues”, “Countin’ the Blues” e “See, See Rider”. A maioria de suas letras fala sobre ter sido enganada, maltratada ou abandonada, decepções amorosas e uma vida dura e difícil, mas também sobre festas, bebidas e prisão, como em “Blues and Booze”.
No mesmo ano até 1928, fez uma turnê no sul e meio-oeste americano, cantando para o público negro e branco (lembrando que na época havia forte segregação racial nos Estados Unidos). Além da questão de preconceito racial, há indícios de que em 1925, Ma Rainey teria sido presa pelo conteúdo de algumas de suas músicas, como “Prove it on me”, que continha “referências lésbicas ou bissexuais”.
Esse incidente, porém, não afetou muito a sua carreira. Ela continuou gravando para a Paramount e ganhou dinheiro suficiente para comprar até mesmo um ônibus com seu nome estampado. Em 1928, trabalhou com a Dorsey e gravou 20 músicas, antes da Paramount cancelar seu contrato.
Em 1935, retornou para a sua cidade natal, Columbus-Georgia, e faleceu de ataque cardíaco, em 1939 aos 53 anos. Na década de 60, Bob Dylan refere-se a ela na canção “Tombstone Blues”, em seu álbum Highway 61 Revisited, de 1965, comparando-a com Beethoven (“Where Ma Rainey and Beethoven once unwrapped their bedroll”), um elogio à Rainey como uma grande artista.
No inicío dos anos 80, Rainey foi introduzida ao Blues Foundation’s Hall of Fame e, em 1990, ao Rock and Roll Hall of Fame.
Mesmo que com o passar dos anos seu legado musical tenha caído um pouco no esquecimento, vale a pena conhecer uma das grandes influências do blues.