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Os 89 anos de genialidade de Chuck Berry, o pai do rock and roll

20 de outubro de 2015, por Eduardo Molinar
Música

Desde os anos 50, o rock ‘n roll, tendo Elvis Presley como capitão, uniu as comunidades negras e brancas para celebrar a maior revolução cultural já vista no mundo. No entanto, as grandes gravadoras sempre preferiram apostar em músicos brancos do que em negros. Exemplos na história não faltam, como Angus Young, Eric Clapton, Peter Townshend e Jimmy Page. Por isso, é importante que os fãs de rock olhem para trás e entendam quem é o pai dessa revolução: Chuck Berry, um dos maiores guitarristas do mundo.

Nascido em Saint Louis, Louisiana, em 1926, Berry completou 89 anos no último domingo, 18 de outubro. São 89 anos de composições máximas de rock, como a clássica Johnny B. Goode, Sweet Little Sixteen, Roll Over Beethoven, Little Queenie e a genial Maybelline. Na América racista do início dos anos 50, mesmo vários clamarem pela “paternidade” do som que foi definido como rock and roll, Chuck Berry foi o primeiro a fazer aquelas palhetadas para baixo e os três acordes de rhythm’n’blues darem certo e se tornarem algo audível a todos os públicos.

Chuck Berry

Chuck Berry ao vivo (Foto: Reprodução)

Tendo suas letras voltadas aos jovens, falando de carros, garotas e a música em si, seu estilo de tocar guitarra e sua notável voz o tornaram referência para os futuros gêneros, como punk rock, hard rock e garage rock. Assim como Elvis, Berry uniu o country e o rhythm’n’blues e o tocou da com todo o swing negro, criando o rock and roll. Elvis fez o mesmo, personalizando a sonoridade clássica do rockabilly, e depois se voltando ao rock and roll.

A carreira de Berry seguia bem até 1959, quando foi preso acusado de entrar no estado da Lousiana junto de uma garota menor de idade com propósitos sexuais. Verdade ou não, sua carreira teve uma dura parada. Mesmo sendo solto em 1963, e sendo considerado um ídolo pelos Beatles, Rolling Stones e toda a Invasão Britânica, o músico lançou poucos sucessos comparado aos seus “dias dourados”.

Chuck Berry

Chuck Berry fazendo a famosa Duck Walk (dança do “patinho”, em português), sua marcar registrada. Anos depois, Angus Young faria sua “versão” para essa dança (Foto: Reprodução)

Mas as prisões, acusações e difamações de muitos racistas não chegam nem aos pés do cara que construiu o rock and roll musicalmente. Considerado o 5º maior artista e também o 7º melhor guitarrista do mundo pela Rolling Stone, até hoje Chuck faz turnês, passou pelo Brasil mais de uma vez e mostra aos roqueiros como se faz com uma guitarra.


(No vídeo, o músico está tocando em uma TV francesa um de seus maiores hits: Roll Over Beethoven. Bandas como Beatles, Lectric Light Orchestra e Sonics gravaram suas versões desse clássico do rock and roll)

Desde os primeiros tempos de rock no Brasil, sua música influenciou as nossas bandas, conforme contam alguns renomados roqueiros nacionais:

Selvagem Big Abreu (João Penca e os Miquinhos Amestrados)

“Ouvi Chuck Berry pela primeira vez aos 14 anos. Bob Gallo me apresentou ‘Roll Over Beethoven’. Pirei com o riff de guitarra e quis comprar uma também. Posso dizer que toco guitarra por causa de Chuck Berry. A influência dele para o João Penca e os Miquinhos Amestrados é imensa. Os problemas que teve com a justiça o deixaram um sujeito amargo. Quando esteve no Brasil, minha mulher Diana cuidou dele no Copacabana Palace e me chamou para conhecê-lo. Sabendo da sua fama de pessoa difícil e ouvindo os relatos da patroa preferi não ir, mas recebi uma dedicatória autografada que tenho emoldurada na sala de minha casa. Não quis arriscar me decepcionar com meu ídolo. Hail hail rock’n’roll!”

Albert Pavão (Jovem Guarda)

“Eu vim a conhecer Chuck Berry através dos filmes sobre rock & roll que passavam nos cinemas de São Paulo, já que a gravadora Chess não era lançada entre nós na segunda metade dos anos 50. Algumas lojas de discos importados vendiam discos dele e, por causa disso eu conheci ‘Maybelline’, ‘Rock and Roll Music’ e outras mais. A influência dele na jovem guarda foi indireta, já que os Beatles, Beach Boys e muitos outros gravaram composições de Chuck Berry. Quem não se lembra de ‘Surf U.S.A’, um plágio que Brian Wilson fez de música de Chuck (Sweet Little Sixteen). No rock & roll mundial, a influência dele foi muito grande já que ele criou um estilo que foi copiado por artistas e grupos mais jovens. Os ingleses adoravam Chuck Berry. Só que em matéria de grande sucesso em discos, ele só conseguiu nos anos 70 com ‘My Ding a ling.'”

Roger Moreira (Ultraje a Rigor)

“Eu o conheci através dos Beatles, Rolling Stones, Johnny Winter e muitos outros que o regravaram. Fiquei curioso em saber quem era aquele que tinha criado aquele riff para guitarra e aquelas letras geniais. Acho que o conheci nos anos 70. No Ultraje houve muita influência, como em ‘Independente Futebol Clube’, por exemplo, foi baseada em um formato de Rock and Roll que, para mim, era simplesmente tradicional. Só mais tarde fui saber que vinha de Chuck Berry. Todas aquelas canções no formato 12-bar, I-IV7-V, ou, para os mais leigos, nos famosos 3 acordes, no Lá, Ré Mi (muito embora ele usasse outros tons), foram influência dele, ainda que indiretamente, através de tantos outros que beberam em sua fonte, desde a Jovem Guarda até o Hard Rock dos anos 60 e 70. Ele inventou a coisa toda. Embora exista a alegação de que ele copiou seus riffs de Johnnie Johnson, seu pianista, ao adaptá-los para a guitarra ele fez o rock ser coisa de guitarra. Sem falar nas letras geniais, que também influenciaram muitos letristas, eu inclusive.”

Mos Def como Chuck Berry

O rapper Mos Def como Chuck Berry no filme Cadillac Records (Foto: Reprodução)

Parte da carreira de Berry foi apresentada no filme Cadillac Records, lançado em 2008. Com 89 anos, ele não faz mais turnês mundiais, visto sua idade avançada e a aposentadoria anunciada há três anos. Sua última aparição no Brasil foi em 2013, na cidade de Curitiba. No entanto, sua obra continua influenciando pessoas no mundo todo e o pai do rock and roll jamais deixará de ser idolatrado, mesmo em sua aposentadoria.

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