A morte de Elis Regina completou 40 anos no último dia 19. Então, seu filho mais velho, João Marcello Bôscoli, decidiu homenagear sua mãe com a publicação do ebook Elis e Eu. Diferente de outras obras sobre artistas, esta mostra a cantora no papel de mãe no ponto de vista de João aos 11 anos de idade.
A dona de Como Nossos Pais e O Bêbado e a Equilibrista tinha uma vida quase comum. Além de cuidar da fama e carreira na música, ela também se dedicava às tarefas do lar e à criação de seus três filhos. O curioso é que o autor e filho mais velho da cantora, apesar de saber sobre o trabalho da mãe, sequer imaginava a grandiosidade que ela tinha no mundo da MPB.
“Elis Regina é parte pública da minha mãe, uma de suas faces. Embora suas entrevistas e canções iluminem muitas coisas, o olhar de uma criança, de um filho, durante onze anos, pode revelar outros contornos da mulher que me deu a vida, daquela que é o amor da minha vida. E o amor, aprendi com ela, é a única força realmente transformadora”, descreve um dos primeiros trechos do livro.
Além disso, o livro mostra suas inseguranças, algo que até agora era desconhecido pelo público: “Lembrei-me da imagem dela, no ano anterior, tirando um roupão, ficando nua para uma amiga e perguntando: ‘Eu sou uma merda?’. Algo detonara sua autoestima. Ciúme, insegurança, traições, carência. Nada que parecesse ter relação com tudo representado por Elis Regina”.
Para completar, o autor nos traz o dia da morte da cantora sob o olhar dele enquanto criança, seu processo de luto e um prefácio escrito pela amiga Rita Lee. Elis e Eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe é uma publicação da Editora Planeta e está disponível digitalmente no Skeelo.
Elis Regina
Nascida em Porto Alegre no ano de 1945, Elis começou a cantar ainda na pré-adolescência na Rádio Gaúcha. Uns anos depois, ela viajou para o Rio de Janeiro para gravar seu primeiro álbum Viva a Brotolândia, sob o selo da Continental.
Sem sucesso de vendas, a cantora voltou para sua cidade natal e manteve seu trabalho no rádio até se mudar para as terras cariocas e trabalhar na TV Rio, participando do programa Noite de Gala, em 1964. Ainda, nesta mesma época, ela também se apresentava no Beco das Garrafas, reduto da Bossa Nova.
Morando em São Paulo um ano depois, Elis Regina participou do 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior. Foi lá que sua carreira decolou ao cantar Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Ao lado de Jair Rodrigues e do Zimbo Trio, ela apresentou o programa O Fino da Bossa na TV Record, que lhe rendeu a trilogia em disco Dois na Bossa, sendo o primeiro volume vendendo um milhão de cópias. Já em 1968, sua carreira se tornou de âmbito internacional, gerando uma grande repercussão positiva em Paris.
O estilo musical de Elis era bem eclético, ao longo de sua carreira, ela cantou samba-canção, rock, bolero, bossa nova, jazz e MPB, não só sozinha como também em dueto ao lado de Tom Jobim, Jair Rodrigues, entre outros nomes ilustres. Além disso, por estar em meio a Ditadura Militar, suas músicas, geralmente, eram munidas de protesto político.
Sua morte controversa
Em 1982, a cantora passou mal em sua casa e o namorado Samuel McDowell chamou uma ambulância, que demorou para chegar ao local. A cantora chegou ao Hospital das Clínicas de São Paulo de táxi, porém, segundo a médica responsável pelo atendimento, ela havia chegado “tarde demais”.
O laudo médico atestou que a cantora morreu intoxicada por uma mistura de álcool com cocaína, sendo que amigos, como Nelson Motta e Leão Lobo, afirmaram que ela não tinha nenhum problema com bebida e drogas. Outro ponto que deixou amigos, familiares e fãs da cantora de orelha em pé foi o laudo ter sido assinado por Harry Shibata. Sete anos antes, o então diretor do IML havia assinado falsamente como suicídio o laudo do jornalista Vladimir Herzog, preso e assassinado pelos militares.
O caso do laudo foi arquivado naquele mesmo ano e até hoje a causa da morte de Elis Regina segue duvidosa.