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Bessie, Miriam e Marie: a (irritante) confusão entre as fotos de três inventoras negras

19 de janeiro de 2022, por Leila Benedetti
Lifestyle
Bessie, Miriam e Marie

Ressaltando o que já alertamos aqui no Universo Retrô, é muito importante tomarmos cuidado na hora de fazer uma pesquisa na internet. Hoje em dia, conteúdos que antes eram publicados apenas por pesquisadores, historiadores e outros tipos de especialistas, agora são lançados a rodo e, muitas vezes, sem embasamento, por qualquer pessoa, ainda mais nesses tempos de fake news. Um desses casos é o da foto de uma mulher que ora é identificada como Bessie Blount Griffin, ora como Marie Van Brittan Brown, ora como Miriam Benjamin

Quem já leu a nossa matéria sobre as mulheres negras que se destacaram na história, deve ter percebido que as fotos dos rostos de Bessie e Marie foram substituídas pelas patentes de suas invenções. O motivo é que a tal confusão da foto dificultou a pesquisa e hesitamos em não passarmos informações erradas aos nossos leitores e às nossas leitoras. Depois de publicada a matéria, fizemos uma investigação mais profunda e decidimos abordar sobre, já que essa confusão é raramente mencionada internet afora. 

Bessie e Marie, apesar de distintas, tinham muito em comum, ambas tinham pouca diferença de idade, viviam em meados do século XX, eram negras e da área da saúde, fazendo com que a maioria das pessoas se confundissem na hora de publicar a foto de uma delas. Mas atribuir a foto à Miriam é um erro mais grotesco ainda, pois a moça era sim uma inventora negra, porém era uma professora do século XIX e há fotos verdadeiras dela circulando por aí, apesar de poucas. 

Bessie, Miriam e Marie
(A mesma foto circula pela internet atribuindo a três inventoras distintas. | Foto: Facebook/Facebook/Famous Black Inventors)

As inventoras e a verdadeira dona da foto

Miriam Benjamin

A professora afro-americana nasceu livre em 1861 e, em 1888, inventou uma cadeira com uma campainha para chamar o garçom nos restaurantes e bares de hotéis. Hoje, o dispositivo na qual ela batizou de Gong and Signal Chair for Hotels não é usado pelos estabelecimentos, mas abriu portas para que fossem desenvolvidos os atualmente populares painéis dos aviões comerciais, ônibus de viagem e quartos de hospitais. 

Miriam Benjamin
(Miriam Benjamin era uma inventora do século XIX e não alguém que se consagrou nos anos 40. | Foto: Divulgação/Boston Globe)

Marie Van Brittan Brown

A enfermeira americana nascida em 1922 era nascida e moradora do Queens, um dos bairros com maiores índices de criminalidade de Nova York. Sabendo disso, ela e seu marido, o eletricista Albert Brown, desenvolveram juntos o primeiro sistema de câmeras de segurança doméstico em 1966. 

Marie Van Brittan Brown
(Marie e seu marido Albert em trecho de jornal. | Foto: Divulgação/The New York Times)

Bessie Blount Griffin, a verdadeira dona da foto

A fisioterapeuta nascida em 1914 nos Estados Unidos inventou, nos anos 40, vários equipamentos e próteses para pacientes amputados, principalmente para os soldados sobreviventes da Segunda Guerra Mundial que perderam seus membros. Mas sua invenção mais conhecida é um dispositivo que auxilia pessoas paralisadas a se alimentarem sozinhas com a ajuda de um tubo. 

Bessie Blount Griffin
(Bessie é a verdadeira moça por trás da foto. | Foto: Cornell Law School/Elmira Star-Gazette)

Provas

Se pesquisar com mais calma as fotos dessas três inventoras no Google, terá como resultado alguns recortes de jornais noticiando as invenções de Bessie e de Marie. Apesar de parecidas, nota-se algumas diferenças no rostos de ambas, como o formato da boca, por exemplo, sem contar que o recorte que aborda a invenção de Bessie mostra o rosto da inventora, que é a mesma da foto popular e mal creditada. Quanto a Miriam Benjamin, é bem notável a diferença entre ela e a moça da tal foto, sem contar que as respectivas estéticas não batem com suas respectivas décadas. 

A confusão é justificável e, ao mesmo tempo, não é. Essas moças eram brilhantes e fizeram coisas nas quais não conseguiríamos viver sem nos dias de hoje, mas, como já sabemos, até meados do século XX o mundo era dos homens brancos e, portanto, elas tiveram pouquíssimo reconhecimento. Porém, essa foto foi creditada com base no “achismo” duas vezes e, em ambas, compartilhada de forma errônea com muita frequência, mostrando a falta de questionamento e o hábito de pesquisa de muitos, o que contribui com a propagação das fake news.

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