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Documentário de Cauby Peixoto estreia no Netflix; confira entrevista com diretor

16 de maio de 2016, por Mirella Fonzar
Cinema & TV

Na noite do último domingo, 15 de maio, o Brasil se despediu de uma de suas maiores vozes de todos os tempos. Cauby Peixoto faleceu aos 85 anos, depois se ser internado em decorrência de uma pneumonia, em São Paulo. Sua trajetória foi retratada recentemente no documentário dirigido por Nelson Hoineff, Cauby – Começaria tudo outra vez, que acaba de ser disponibilizado no Netflix.

O longa-metragem aborda os constantes recomeços da trajetória de Cauby, que, em 60 anos de carreira, oscilou entre períodos de intenso sucesso e total reclusão. A história do cantor é contada através de depoimentos de artistas, familiares, jornalistas, fãs e figuras excêntricas que o idolatram por todo o país. Entre os artistas estão Maria Betânia, Agnaldo Timóteo e Agnaldo Rayol.

O responsável pelo filme é, nada mais, nada menos, que o pai dos documentários O Homem pode Voar (2006), sobre Santos Dumont; Alô, Alô, Terezinha (2008), sobre Chacrinha; e Caro Francis (2009), sobre Paulo Francis. Abaixo você confere o nosso bate-papo com o cineasta, originalmente publicado no jornal universitário da FMU (com colaboração de Mirella Fonzar, Elisa Rosar, Júlia Meirelles, Carolina Mella, Karina Mancini, Jaqueline Corrêa e Luciana Gonçalves).

Universo Retrô – O que te levou a escolher Cauby Peixoto para um novo documentário?

Nelson Hoineff – Há algum tempo em já pensava nisso. Cauby me marcou muito, em diversas épocas. Sua presença é muito cinematográfica. Achei que era chegada a hora de fazer o filme.

Universo Retrô – Você já conhecia Cauby antes de começar a gravar o filme? Como é a sua relação com ele?

Nelson Hoineff – A primeira vez que pensei em filmá-lo, participei de um jantar com ele. O filme acabou não sendo feito naquela época e meu conhecimento do Cauby limitou-se às poucas horas em que estivemos juntos nesse jantar, na casa de uma amiga em comum.

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Foto: Reprodução

Universo Retrô – Você é conhecido por não ser imparcial em seus documentários. Podemos esperar o seu olhar pessoal também em “Começaria Tudo Outra Vez”?

Nelson Hoineff – O olhar pessoal está mesmo no que eu faço em cinema e televisão. O filme sobre Cauby não é uma biografia, como não foram os filmes sobre Chacrinha ou Paulo Francis. O que me interessa é sempre o personagem, o universo que gravita ao seu redor e o olhar que lanço sobre eles. De Começaria Tudo Outra Vez, então, não se deve esperar uma biografia, mas um olhar sobre Cauby.

Universo Retrô – Alô, Alô, Terezinha contém sequências polêmicas. Exemplo: Quando a Índia Potira se exibe nua num chafariz. Podemos esperar polêmicas também sobre Cauby Peixoto?

Nelson Hoineff – Cauby não fica nú, nem num chafariz, mas a vida não tem muita graça sem polêmica.

Universo Retrô – Em entrevista à imprensa, você afirmou que Cauby é muito reservado, mas isso não lhe impediu de conseguir algumas revelações. Que tipo de revelações podemos esperar?

Nelson Hoineff – Revelações que se fazem a um amigo, depois que se confia nele. Gosto muito disso. De extrair revelações que não estariam num programa convencional de TV, por exemplo. Revelações, amizade e confiança estão intimamente ligados. Me agrada muito a ideia de me aproximar de um personagem a ponto de extrair revelações que ele só faria, como diria Nelson Rodrigues, num terreno baldio diante de uma cabra vadia.

Universo Retrô – Visto que o acervo profissional do Cauby é imenso, como foi a seleção do material para o filme?

Nelson Hoineff – Essa é a parte mais complicada. Aconteceu o mesmo com Francis, Chacrinha e, em certa medida, Santos-Dumont. A generosidade de colecionadores e grandes empresas, como a Globo, a Band, a CNT e o SBT, por exemplo, nos colocou diante de centenas de horas de material. No caso de Cauby, de material extraordinário. Selecioná-lo é muitíssimo complicado, porque quando você seleciona um minuto está na verdade abrindo mão de algumas horas.

Universo Retrô – No material a ser editado existe algo importante que por algum motivo não pôde ser inserido no documentário?

Nelson Hoineff – Praticamente não. Conseguimos quase tudo o que queríamos. Tivemos que abrir mão de muitíssima coisa pela simples questão do tempo de duração do filme.

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Foto: Divulgação

Universo Retrô – O filme seria lançado em 2010, mas acabou atrasando para 2013. O projeto angariou fundos no site “Incentivador”. Você sentiu falta de incentivos financeiros nessa produção?

Nelson Hoineff – A captação de recursos é um processo árduo, ao qual não sinto muito prazer em me dedicar. Prefiro ficar na criação, o que às vezes acaba atrasando a chegada dos recursos.

Universo Retrô – Em sua opinião, qual a importância de Cauby Peixoto para a música brasileira? E por que você o considera um personagem importante de nossa história, digno de um documentário?

Nelson Hoineff – Cauby é um dos maiores intérpretes brasileiros de todos os tempos, um dos últimos de uma geração iluminada de cantores. Sua importância não pode ser medida. Vai ficar para sempre na história da cultura popular brasileira.

Universo Retrô –  Cauby é um grande fã de Frank Sinatra, você acha que ele pode ser considerado o Frank Sinatra brasileiro?

Nelson Hoineff – Isso é mencionado pelo menos uma vez no filme por um dos depoentes.

Universo Retrô – Quais aspectos da obra de Cauby você acredita que ficarão eternizados?

Nelson Hoineff – Sua musicalidade, sua capacidade de encantar tantas gerações. Sua obstinação em estar sempre recomeçando – o que inspira o título do filme.

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