Engatando no clima onde os sucessos de bilheteria do cinema estão garantidos com os super-heróis, um dos mais aguardados filmes de 2016, Batman v Superman, teve como coadjuvante uma das principais figuras do poderio e de representações feministas. Vamos falar de Diana, a Mulher-Maravilha, e como a história da moda e da estética influenciou na criação da personagem dos HQ’s.
A primeira super-heroína da DC Comics, de origem pautada na mitologia grega, faz jus à imagem da amazona, entretanto, assume uma identidade visual moderna, com referências claras à bandeira norte-americana em seus trajes.
Em 1941, a personada foi criada por William Moulton Marston, o mesmo criador do polígrafo (identificador de mentiras). Há quem acredite que William teve inspiração em sua amante para a construção da Mulher-Maravilha, já que a personagem adotava roupas mais justas e possuía uma de suas armas mais famosas, o laço mágico, também lembrado pelo apelido de laço da verdade, (talvez fazendo menção a um chicote fetichista e ao sadomasoquismo).
Nos anos 40, o mundo estava afetado pela Segunda Guerra Mundial. As mulheres, até então, só podiam usar até certa metragem de saia, os tecidos estavam escassos, todo o glamour da década anterior estava acabado. A maquiagem foi simplificada, o cabelo ficou mais simples e prático. A silhueta feminina fica mais justa, e o termo pin-up entra em voga.
Podemos notar nas primeiras aparições da personagem o quão perceptível é impacto da estética e da moda da década de 1940. As saias ganham fendas, e a personagem também abusa e usa delas, claro, em comprimento mais curto, o corset tem aquele decote em formato de coração, a maquiagem é destacada nos lábios, o cabelo ganha ondas. Detalhe importante para o voluptuoso corpo da Mulher-Maravilha, fazendo referência às curvas das pin-ups.
Ainda na fase da Era de Ouro, a tendência dos heróis ‘super-patrióticos’ ganha força (lembrando que o personagem Capitão América da Marvel Comics foi criado na mesma época) e torna-se importante para a autoestima estadunidense com o cenário sombrio da guerra.
Nota-se que o símbolo da águia no corset da personagem foi se modificando com o tempo e, a partir do ano de 1942, a saia é substituída por uma bermuda mais curta e mais tarde, na Era de Prata do HQ, fica em formato de short, mais especificamente em hot pants, ainda com as cores e detalhes da estrela da bandeira norte-americana. Vale lembrar que muitas das pin-ups eram retratadas com as hot pants, visto que essa peça foi muito usada por mulheres nos trajes de banho antes da invenção e da aceitação do uso do biquíni.
Repara-se também uma influência greco-romana nas mudanças do sapato da personagem, pois os trançados nos tornozelos faziam referência às sandálias gladiadoras, mas o sapato definitivo de vez foi a original bota, adotada desde as primeiras edições dos quadrinhos.
Já no final da Era de Prata indo para a Era de Bronze das HQ’s, a estética da personagem fica estabelecida como uma das mais famosas e mais lembradas, até então: o cabelo ganha mais volume e ondas (traçando um paralelo com o grande sucesso dos cabelos volumosos com laquê e a forte tendência de pequenas ondas nos cabelos do inicio da década de 70). O uniforme continua ainda mais curto e o corpo voluptuoso agora fica mais esbelto.
Esse último visual, além de ser um dos mais conhecidos através de desenhos extraídos dos HQ’s da década de 70, influenciou e impactou no visual e na popularidade da identidade da série de TV da Mulher-Maravilha, protagonizada pela eterna Lynda Carter, reforçando definitivamente a personagem no imaginário das pessoas como uma poderosa sex symbol para a época e, a partir de então, com seus lindos olhos azuis, corpo esbelto e curvilíneo, de cabelos longos ondulados e escuros.
O exagero pode ser uma das palavras que mais resumem os anos 80, o mercado de trabalho cria novas oportunidades, e consequentemente o desejo de consumir assume um papel de protagonista na sociedade. A mulher é bem mais aceita na empresa, com isso vem a febre das ombreiras (conferindo com o um conceito de austeridade), e o cabelo ganha ainda mais volume, principalmente com cachos, assim, quanto maior e mais volumoso, melhor. Em meados de 1982, no final da Era de Bronze, a águia ganha o famoso formato de “w”, o designer responsável por essa mudança foi Milton Glaser.
Seu cabelo que nunca havia sido tão grande e volumoso, entra no contexto da estética da época. Já na Era Pós-Crise, a hot pant passa a ser agora como uma tanga na modelagem “asa-delta”, muito usado nos anos 80 pelas mulheres que frequentavam bastante clubes e praias. Alguns autores admitem que nesse período, houve uma queda das vendas dos HQ’s, a popularidade da personagem havia caído, então, para chamar a atenção dos jovens seria necessário deixar o traje ainda mais com apelo sensual.
Uma grande pérola das publicações da Mulher-Maravilha de 1995, fase Pós-Crise III, foi a total mudança do uniforme. A personagem agora passa a adotar um cabelo com corte reto, muito liso e com franja, seguindo a tendência de cabelos da década de 1990, que era o liso.
O corset com a águia e a calcinha “asa-delta” são substituídas por um conjunto que mais pareciam as roupas das rappers da época, luvas pretas são adicionadas juntamente com os clássicos braceletes, além de uma jaquetinha azul claro com a estampa da águia, um top preto com um transpasse no pescoço, shorts preto com dois cintos (ainda com pequenas estampas de estrelas), e por fim, uma bota de cano mais curto na cor preta.
Parecia que o traje havia sido tirado de uma policial militar misturada com os elementos de moda do cenário musical e televisivo dos anos 90. A mudança do traje foi uma lástima, tanto para os leitores e fãs, quanto para o designer Brian Bolland, que na tentativa de inovar, só confundia as pessoas quando tentavam reconhecer a personagem. No mesmo ano, John Bryne voltou ao visual clássico, mas com algumas alterações: ele aumentou o tamanho das braçadeiras e o formato da parte de cima da roupa. Além disso, ela só tinha duas estrelas em sua roupa. O cabelo voltava a ter um comprimento grande.
Na fase Pós-Crise IV, o artista Adam Hughes representou o emblema da Mulher-Maravilha de uma forma sólida e sem detalhes, mas conservando e voltando praticamente com o clássico visual mais conhecido dos anos 70, só preservando ainda o modelo “asa-delta” do final da década de 80, como citado anteriormente. Mais tarde uma outra tentativa de reinventar o visual novamente foi feito, criando mais um certo repúdio entre os fãs. Em 2010, a colocaram com calça legging e jaqueta bolero, visto que em meados dos anos 2000, uma das peças mais usadas entre as garotas e mulheres mais velhas era esse tipo de roupa.
Os anos se passaram, e mesmo com o intuito inicial de colocar Mulher-Maravilha como uma personagem em um patamar independente e talvez superior ao dos personagens masculinos, sua força foi se perdendo com o tempo, talvez pelo modo que vinha sendo apresentada em seus uniformes, ou até mesmo porque a forma de representação mais apelativa tenha sido a mais preferido entre os fãs.
No filme Batman v Superman e talvez no próximo filme que contará mais sobre a origem da Liga da Justiça, a heroína, interpretada pela atriz Gal Gadot, ganhou um visual que se aproximou mais de sua história de origem. Porém, muitos disseram que se parecia muito mais com a armadura de Xena: a Princesa Guerreira, um sucesso televiso de meados dos anos 90.
Os traços ‘cartunescos’ antigos dos HQ’s dos anos 60 até 70, que remetem bastante à Pop Art, ainda são os mais preferidos e memoráveis, tanto que estão presentes na maioria dos produtos da DC Comics, sendo licenciados nos mais diversos tipos de produtos como: lençóis de cama, toalhas de mesa e banho e até a objetos decorativos, entre outros.