Foi na manhã fria de uma quinta-feira ensolarada que conhecemos as dependências da ACIT, considerada uma das maiores gravadoras do Brasil. Ao contrário do clima, a recepção do sócio e produtor musical Edison Campagna foi calorosa. De sorriso largo e simpatia ímpar, Edi, como é chamado pelos amigos, nos guiou pelo corredor de piso quadriculado enquanto falava, orgulhoso, sobre a trajetória da empresa, que surgiu há mais de 30 anos em Porto Alegre e mudou-se há cinco para Caxias do Sul, RS.
Instrumentos musicais sendo ventilados na ACIT (Foto: Monique Angeli)
Ao cruzar a pesada porta acústica do estúdio, entramos em um verdadeiro parque de diversões musical. Edi explicou que tivemos sorte: “vocês vieram no dia em que tiramos todos os instrumentos dos cases para ventilar”. Entre guitarras, contrabaixos, violões e violinos, estávamos em busca dos equipamentos vintages, que tornam esse estúdio único.
O primeiro a nos ser apresentado foi um piano elétrico Rhodes fabricado na década de 1960, cujas teclas já “sentiram” o peso dos dedos de César Camargo Mariano, um dos maiores pianistas brasileiros. “Tá vendo essa marquinha aqui no canto? Ele queimou sem querer com cigarro!”, revela, rindo.
Dono de um timbre peculiar, o modelo foi bastante utilizado nas décadas de 1960 e 1970, principalmente pelos jazzistas. Mas o rock and roll também traz seu som em vários sucessos, tais como Get Back dos The Beatles (com Billy Preston no piano), Riders On The Storm do The Doors e Sheep do Pink Floyd.
Citando ainda os anos 1970, o estúdio dispõe de modelos de microfones da marca alemã Neumann, considerada uma das melhores do mundo no ramo, e da sua conterrânea Sennheiser, com o modelo MKH 416, mais conhecido como “The Hollywood Mic”, por ser o preferido em filmes, trailers e comerciais. Também nos deparamos com um processador de efeito reverber Lexicon fabricado em 1978, que foi muito popular na época e deixa qualquer som com “pitada oitentista”.
Piano elétrico Rhodes (Foto: Monique Angeli)
E chamando a atenção com sua cor nada convencional, a lendária bateria rosa descansava brilhante no canto da sala com seus metais originais Made in Japan. O instrumento da marca TAMA, modelo Granstar de 1986, foi utilizada em gravações por vários artistas famosos, “inclusive pelo [baterista norte-americano] Marky Ramone [da banda Ramones] quando esteve no Brasil”, contou o Técnico de Áudio Rogério Henquer.
A sala é ampla e comporta bandas completas, orquestras e coros. O pé-direito de mais de cinco metros de altura combinado com as paredes não paralelas de madeira permitem melhor captação das ondas sonoras. “É uma questão de física”, sorri o Engenheiro de Som Edu Coelho. Claro que toda essa estrutura é aliada ao vasto conhecimento dos profissionais que trabalham há anos no estúdio e aos softwares modernos, como o sistema de produção de áudio Pro Tools.
Bateria rosa, modelo Granstar de 1986, foi utilizada em gravações por vários artistas famosos (Foto: Monique Angeli)
Qualquer semelhança com o Abbey Road não é mera coincidência. O próprio Edi já gravou no estúdio mais famoso do mundo, situado em Londres, e se inspirou na proposta de mesclar o analógico com o digital. Com isso, pode oferecer uma sonoridade retrô aos artistas que optam por esse estilo, ao mesmo tempo que os recursos atuais permitem um resultado de excelente qualidade.
Ao final da visita, a esposa e sócia-fundadora Ivete Campagna relatou que a empresa surgiu no início dos anos 1980, ao perceber que os artistas locais recorriam ao eixo Rio-São Paulo para gravarem seus trabalhos. Inicialmente com sede em Porto Alegre, RS, o selo então concretizou sua imagem como “A marca do Sul”, lançando grandes nomes da música gaúcha, como Oswaldir & Carlos Magrão, Gaúcho da Fronteira, Pedro Ortaça, Família Lima, Tequila Baby, entre outros.
Edson com sua esposa e sócia-fundadora Ivete Campagna (Foto: Monique Angeli)
O relógio marcava quase uma hora da tarde. Nosso encontro durou mais do que o previsto, pois as histórias compartilhadas sobre cada instrumento fizeram nossas mentes flutuarem pelos anos dourados, provocando uma sensação gostosa de nostalgia. Pausa para a última foto e nos despedimos com a certeza de que ainda existem profissionais na indústria fonográfica brasileira que consideram a música uma obra de arte.
SERVIÇO
ACIT
Rua Vico Costa, 150
Bairro Cidade Nova – Caxias do Sul/RS
Contato: (54) 3290 4100
edison.campagna@acit.com.br
www.acit.com.br
www.facebook.com/Gravadora-ACIT- 184939244895299
