Chegou à São Paulo, nesta sexta-feira (10), a adaptação brasileira do musical da Broaway Les Misérables, peça que já passou por 44 países e foi traduzida para 22 idiomas. Baseado no livro homônimo do francês Victor Hugo lançado em 1862, a nova versão terá como lar pelos próximos meses o Teatro Renaut, que já está acostumado a receber grandes produções, como foi o caso de Wicked em 2016.
Ambientada na França, a história gira em torno de Jean Valjean (Daniel Diges), um homem que ficou anos presos por ter roubado um pão para ajudar o sobrinho que não tinha o que comer. Ele é perseguido pelo impiedoso inspetor de polícia Javert (Nando Pradho), que faz da captura de Valjean seu objetivo de vida, após o prisioneiro quebrar a liberdade condicional afetando assim a vida de todos a sua volta.
Em meio a sofrimentos e desencontros, como no arco de Fatine (Kacau Gomes) que apenas queria cuidar da filha de forma digna, mas devido a maldade humana e o machismo acaba de forma trágica, o tempo passa sem que o espectador perceba. A trama avança até os dias de revolução, neste contexto conhecemos o jovem e idealista Marius (Filipe Bragança) que se apaixona pela doce e romântica Cosette (Clara Verdier), que apesar de ter sofrido quando criança cresceu cercada de cuidados por Jean Valjean.
O espanhol Daniel Diges faz bonito na pele de Valjean, e apesar de seu português precisar de alguns ajustes, comove e entrega toda a carga emocional necessária ao personagem, que passa por uma vida sofrida e cheia de infortúnios. Esse domínio todo no palco se deve também à familiaridade do ator com musical, entre 2010 e 2012 ele foi Enjolras na versão espanhola, e após um período se dedicando à outras produções, em 2014, ele voltou a peça, mas dessa vez como Jean Valjean.
Nando Pradho já é um velho conhecido do público apaixonado por musicais, pois já estrelou as adaptações de O Fantasma da Ópera (2005) e Jekyll & Hyde (2010), entre outros. Ele traz um Jarvet energético e implacável em seu objetivo, o ator realmente transmite a ideia de que aquele homem acredita estar fazendo o certo, e que sua causa é justa, porém devido a uma atitude, inimaginável para esse agente da lei, tomada por Jean Valjean todas as suas crenças são postas à prova, gerando uma crise de identidade com um ápice surpreendente, e magistralmente executado.
Os coadjuvantes são um espetáculo à parte, Laura Lobo está encantadora como a sarcástica, forte e sofrida Éponine, assim como as crianças, que roubam a cena toda vez que aparecem. Outro ponto forte do elenco é o casal de trambiqueiros Thénardier (Andrezza Massei e Ivan Parente), que não só criam um alivio cômico, necessário para uma história tão pesada, como agregam um humor ácido, muito coerente com o restante trágico dessa jornada tão intensa e arrebatadora.
Com figurinos belíssimos, efeitos especiais impecáveis e cenários de tirar o folego, somos transportados à França do século XIX sem nenhuma dificuldade, criando uma experiencia imersiva em seu contexto histórico. As músicas também foram muito bem adaptadas e não devem nada a suas versões em inglês, com certeza você sairá do teatro procurando a trilha sonora no spotify.