“Isso é coisa de velho!”, “Você devia jogar essa velharia fora!”, “Como você vai se enturmar na escola assim? Se atualiza!”, essas frases foram frequentemente ouvidas por quem escreve essa matéria, geralmente vindas de familiares e colegas de colégio. De certo, muitos dos leitores do UR também devem ter passado por episódios assim. Muitas vezes é imperceptível, mas esses casos também são casos de etarismo.
Segundo a OMS, o etarismo é um “conjunto de estereótipos, preconceitos e discriminações direcionados a pessoas com base na idade”. Ainda, a organização defende que “podem trazer sérias consequências para a saúde, o bem-estar e os direitos humanos”. Frequentemente esse tema é abordado nos casos em que pessoas de 40 anos ou mais são julgadas por terem interesses considerados mais joviais (como games e vestimenta, por exemplo) ou por conquistarem coisas que, comumente, são conquistadas quando se está na faixa dos vinte e poucos anos, como um diploma na faculdade ou a CNH.
Não tanto quanto os citados acima, mas casos em que a geração Z é vítima também é muito frequente. Este grupo é mais antenado com política e causas sociais que as gerações anteriores, que, na época delas, passavam esses assuntos para os mais velhos. Hoje esses jovens são taxados como “pseudo-cultos” pelos mais velhos, e, muitas vezes, não são ouvidos quando tem algo de muito importante a dizer.
Por fim, tem os casos mais voltados para o cultural, que são sofridos por aqueles que, independente da idade, se interessam fortemente por uma época em que essas pessoas sequer eram projetos de vida ainda. Esse grupo é o que chamamos de alma retrô.
Ninguém mexe com quem tem 30 anos para cima, mas os mais novos são altamente julgados por pessoas de mesma idade, seja na escola, na família ou qualquer outro ambiente, isso quando não são excluídos dos rolês por terem vergonha de andar com alguém “fora de moda” ou que “age como seus pais ou avós”. Isso danifica o psicológico do jovem retrô, pois, por estar lidando com pessoas da mesma idade e em uma fase em que está ainda moldando sua personalidade, acaba entendendo que há algo de errado com ele, prejudicando assim sua autoestima e se tornando uma pessoa muito tímida.
Hoje as redes sociais deram uma amenizada nesse etarismo sofrido pelas almas retrôs, mas ainda é preciso esforço para tentar se enturmar. O jovem retrô até tem alguns amigos de sua idade, mas seu ciclo social é predominantemente formado por pessoas mais velhas. Ele se sente bem quando está perto daqueles nascidos em sua época de interesse, que o vê de forma nostálgica e como um bom ouvinte para suas histórias, ou quando está perto de outros adultos, que tem maturidade o suficiente para não julgar as pessoas de forma tão trivial.
Até quando a sociedade vai impor que os jovens só devem gostar do que é atual e proibi-los de consumir a cultura de outras décadas? Aliás, que mal há ser jovem, mas ter uma alma de 50 anos ou mais? Repetindo, se for parar para pensar, isso também é etarismo. Agora, o que não vale mesmo é ser retrógrado, pois isso sim é grave. Já passou por situações assim na sua juventude? Ainda passa? Comente!