Nos dias 11, 12 e 13 de agosto, a Fundec Sorocaba apresentou pela primeira vez um cine concerto, que, assim como o cinema de cem anos atrás, seleciona um filme mudo e o exibe para o público com sua trilha sonora tocada ao vivo por uma orquestra. Neste caso, o filme exibido foi O Garoto, uma produção de Charlie Chaplin lançada em 1921 e que dura 60 minutos.
A redatora aqui foi na sessão do dia 13, às 11h, representando o Universo Retrô e comprova que a experiência nos dá mesmo a sensação de viajarmos no tempo, ainda mais que o local da exibição era um prédio imponente datado de 1844 com toda a sua arquitetura preservada.
Além disso, apesar do evento ter sido em um domingo de manhã e com ingressos de preços bem acessíveis, ou então gratuitos para os alunos da instituição (meu caso), a sessão esbanjava elegância com uma iluminação de palco indireta, que ia do chão até o teto, em tons incandescentes, além de todos os membros da Orquestra Sinfônica de Sorocaba vestidos de smoking. Tudo isso também nos faz perceber que a elegância também se fazia presente até mesmo nas ocasiões mais populares e rotineiras dos anos de 1920.
A escolha do filme
Entre o momento em que as luzes ambiente se apagaram e o início do filme, o maestro Eduardo Pereira entrou no palco caracterizado de Charlie Chaplin e fez uma breve apresentação do evento contando sobre a escolha do longa exibido. Por quê Charlie Chaplin e por quê, entre tantos outros títulos de sucesso feitos pelo comediante, escolheu justamente O Garoto?
Em primeiro lugar, Charlie Chaplin é a figura pop que mais associamos com a década de 1920, assim como acontece com Elvis para os anos 50 e com os Beatles para os 60. Não à toa, pois o comediante revolucionou a história do cinema sendo o pioneiro no humor pastelão, que satiriza questões sociais e do cotidiano usando como personagem central um malandro pobre e atrapalhado, porém com traços de um cavalheiro, que usa e abusa de seus gestos e expressões faciais.
Além da carreira de cineasta, outro cargo de muito sucesso na trajetória de Charlie, mas pouco lembrado, é o de músico. Como se não bastasse assinar o roteiro, direção e atuação principal nos seus filmes, o artista compunha a trilha sonora, que também era inovadora, pois os instrumentos da orquestra não tocavam apenas uma simples música, mas sim acompanhavam os movimentos dos personagens e o ritmo de cada cena.
E, por fim, O Garoto foi escolhido para o primeiro Cine Concerto da Fundec Sorocaba para celebrar o Dia dos Pais, que caiu bem naquele fim de semana entre o dia 11 e 13 de agosto deste ano. Seu enredo mostra um Carlitos mais paternal ao encontrar um bebê perdido e criá-lo (à sua maneira, mas com amor) até se tornar uma criança de cinco anos de idade.
Sobre O Garoto, de Charlie Chaplin
O Garoto faz juz ao que está escrito em seu primeiro letreiro – “Um filme com um sorriso, e, talvez, até com uma lágrima!”, frase esta que já alerta que o longa é uma comédia dramática. Sobre as cenas de humor, é notável a genialidade de Charlie Chaplin ao criar piadas atemporais, que ainda arrancam risadas depois de cem anos. As situações cômicas (e, ao mesmo tempo, bobas) nos filmes nos fazem lembrar muito os de vídeos de mesmo teor encontrados nas redes sociais ou de séries e desenhos mais atuais, o que mostra o quanto o clássico comediante segue influenciando as gerações futuras à dele.
Quanto às cenas dramáticas, estas aparecem sutilmente ao longo do filme por conta da extrema pobreza em que a dupla de protagonistas se encontra e a dolorosa busca da mãe biológica e arrependida pelo seu filho abandonado, mas a coisa se intensifica um pouco mais para o final do filme, quando (olha o spoiler!) os policiais tentam brutalmente separar a criança de seu pai adotivo.
Em resumo, O Garoto, de Charlie Chaplin, é um filme que distrai e nos faz respirar um pouco de nossos problemas da vida real por em torno de 60 minutos, mas também nos comove com a situação em que os personagens principais vivem e o terno laço afetivo entre eles.