Depois de se separarem em 1970 e de se reunirem (sem John Lennon) brevemente em 1995, os Beatles, agora, se reuniram mais uma vez para gravar e lançar a música inédita Now and Then. Reuniões de grandes bandas são sempre especiais, mas esta foi mais especial ainda. Paul McCartney, Ringo Starr e toda a equipe por trás dos fab-four usaram a IA para trazer John e George Harrison de volta aos estúdios. Nem que seja por quatro minutos e um tanto de algoritmos.
O lançamento aconteceu na última quinta-feira (2) e essa matéria estava para ser publicada no dia seguinte (3). Mas o “temporal apocalíptico” deixou muitos de nós brasileiros sem luz e internet por um bom tempo, nos fazendo adiar a publicação para esta segunda. Sabemos que muitos beatlemaníacos e leitores do UR já estão bem informados sobre a “última música dos Beatles”, então, encare essa matéria como uma análise.
A história por trás de Now and Then e a IA como ferramenta nas gravações
No final dos anos 70, John Lennon escreveu e gravou três músicas de forma caseira em uma fita K7. Quase duas décadas depois, Yoko Ono, já viúva, entregou essa fita para Paul, que estava prestes a se reunir com George e Ringo para gravar alguns engavetados inéditos e lançar o álbum Anthology. Nesta fita haviam Free as a Bird, Real Love e Now and Then.
Os então três sobreviventes da banda conseguiram regravar e lançar comercialmente as duas primeiras músicas, também usando a voz de John em alguns trechos. Mas não conseguiram a terceira, apesar de terem começado as gravações. De acordo com Oliver Murray, diretor do minidocumentário sobre o novo lançamento, a gravação caseira de Now and Then estava com muitos ruídos de fundo e o microfone estava em cima do piano, deixando o som do instrumento muito mais alto que a voz de John, além de que estava incompleta.
Até que em 2022, após descobrir que o diretor Peter Jackson usou uma tecnologia de inteligência artificial para separar as vozes dos instrumentos que apareciam nos registros do documentário Get Back (2021), Paul McCartney teve a ideia de pegar essa tecnologia emprestada, escrever mais versos para a música e, finalmente, lançar Now and Then para o público sob o crédito de “Lennon/McCartney”. Essa tecnologia se chama Machine Learning e é capaz de “demixar” uma música de forma que nenhum outro software de tratamento de áudio conseguia antes.
Quando esse recurso foi apresentado ao público, o boato de que a voz de John foi totalmente reconstruída pela IA para esta música foi desmentida. “A voz é realmente do meu pai, de uma gravação caseira dele, em cassete”, conta Sean Ono Lennon, filho de John. Na verdade, a inteligência artificial foi usada para limpar as gravações históricas, isolar a voz original de John e inserir os riffs de guitarra de George registradas nas tentativas frustradas de 1995.
O resultado? De “cair um cisco no olho”!
Quem ouve a nova música Now and Then sem saber de toda a sua história (e sem saber que John e George não estão mais entre nós) jamais imagina toda a edição que foi feita. Parece muito que todos os quatro estavam lá, em pleno 2023, gravando no estúdio, e ainda sem nenhum sinal causado pelo tempo nos materiais antigos. Além disso, seus arranjos foram bem enriquecidos, com uma orquestra de cordas. A composição em si já é melancólica e fala de saudades, com esses arranjos, a coisa se tornou mais comovente ainda.
Um dia depois de lançada, a música também ganhou um clipe oficial. O vídeo, que também contou com a inteligência artificial na produção, nos sensibiliza ainda mais ao colocar Paul e Ringo tocando no estúdio em tempos atuais ao lado dos quatro Beatles em suas clássicas versões dos anos 60 brincando durante as sessões ou os acompanhando nos arranjos.
Ainda, o clipe intercala essas imagens principais com cenas das sessões de 1995 (gravadas para o VHS Anthology, lançado na época), videos antigos da época da Beatlemania, fotos dos fab-four na era pré-Beatles, que também foram perfeitamente animadas pela inteligência artificial, além de várias homenagens a John e George.
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