“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.” Já exclamava o cantor e compositor Chico Buarque de Holanda na música Apesar de Você, em 1970, durante os primeiros anos do regime militar brasileiro. Perfeitamente descrito pelo artista em suas canções contestatórias, o grito do povo por liberdade permaneceu calado durante duas décadas. Alguns até ousam dizer que a repressão fortaleceu a população, e foi a coragem necessária, em 16 de abril de 1984, para milhões de brasileiros marcharem por seus direitos políticos no movimento das “Diretas Já”.
Há 32 anos, o país foi transformado em uma só nação e, pela primeira vez na história, conseguiu ultrapassar barreiras de classe, cor e partido político. Tudo em busca de um bem comum: O direito ao voto direto para presidência da república. Enormes comícios onde figuras perseguidas pela ditadura militar – artistas, intelectuais, estudantes e diversos partidos políticos – militavam pela aprovação do projeto de lei do Deputado Dante de Oliveira do PMDB. Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso e o Luis Inácio Lula – juntos – eram figuras à frente no movimento.
Mesmo com a enorme pressão popular, os militares da época não se sensibilizaram para que eleições diretas acontecessem. Com apenas 22 votos de diferença e um grande número de abstenções, a proposta foi rejeitada pelo congresso. O sistema indireto foi mantido para as eleições de 1985 e o Colégio Eleitoral (Congresso e Deputados Estaduais) elegeu Tancredo Neves presidente e José Sarney como vice.
Ainda assim, o movimento das Diretas Já foi de grande importância para a redemocratização do Brasil. Apesar de Tancredo ter falecido antes mesmo de tomar posse e Sarney, ex-líder do regime militar no Senado, ter assumido o cargo, a elite política brasileira mudou de cara. Em 1988, uma nova Constituição Federal foi aprovada. No ano seguinte, o jovem Fernando Collor de Mello se tornou o primeiro Presidente escolhido por eleições diretas (também afastado do cargo por Impeachment em 1992).
Apesar dos erros e acertos, antes uma política construída pela vontade e consciência do povo, do que imposta por uma minoria. 32 anos depois das Diretas Já, o Brasil chegou a ser considerado exemplo mundial de eleições limpas e democráticas – e não estamos falando em quem é ou deixa de ser eleito, mas de todo o processo eleitoral, que está nas mãos dos eleitores.
É visível a tensão política que tem tomado conta do país atualmente, mas, independente do lado defendido, a busca pela democracia precisa ser uma constante em nossas vidas.