Influenciado por nomes como Elvis Presley e Carl Perkins, Henry Paul é bastante aclamado no meio “rocker” por ter uma voz muito parecida com o rei do rock. Com mais de 25 anos de estrada, atualmente comanda a banda Henry Paul Trio, ao lado de Drikat Crash e Sonny Rocker, e é um dos fundadores do Crazy Legs Rockabilly, no qual participou da primeira formação com Fabio McCoy e Sonny. Confira nosso bate-papo!
Universo Retrô – Como e quando você começou a ouvir rockabilly?
Henry Paul – Eu comecei a ouvir o som em 1976, por conta da novela temática Estúpido Cupido, da TV Globo. Na época, eu não sabia diferenciar o rockabilly do rock ‘n roll, eu achava que os dois eram a mesma coisa.
Universo Retrô – Nos fale um pouco sobre sua carreira. Como começou? Por quais bandas passou?
Henry Paul – O fato de cantar parecido com Elvis Presley, sempre me proporcionou apresentações em eventos com essa temática. Minha carreira começou em 1987 e eu cantava Elvis (anos 1950) em festas. Nesta época, eu já era fã do cantor há 10 anos e curtia o som dos anos 1950 há 11 anos. Apenas em 1992, comecei a montar banda. Até então, eu só cantava com músicos que tocavam na casa que me contratava. Montei minha primeira banda oficialmente em 1995, ela se chamava Elvis Rocker. Depois, tive uma segunda formação da mesma banda em 1996, que, no ano seguinte, 1997, teve o nome mudado para Crazy Legs. Fiquei nesta banda até 2001 e no ano seguinte montei a Henry Paul Trio.
Universo Retrô – Henry Paul Trio foi por um tempo Henry Paul Double, com você na guitarra e nos vocais, e sua esposa e parceira, Drikat Crash, na bateria. É possível fazer rockabilly sem o baixo?
Henry Paul – O rockabilly é um ritmo musical, e música, na minha opinião, dá pra fazer até em uma caixa de fósforo! (risos). Como, desde a Crazy Legs, nós usávamos baixo acústico, guitarra semi-acústica e bateria em pé, acabamos declarando que só assim é que se toca rockabilly. Se eu tivesse começado no esquema de dupla, acredito que hoje seria normal. (risos). Bom, eu acabo me desdobrando um pouco pra fazer o som, mas a galera dança, ninguém fica parado, e isso prova que também dá pra fazer em dupla. Mas, isso não quer dizer que estamos perpetuando o trabalho dessa maneira, inclusive, acabamos de voltar a ser trio, com o baixista Sonny Rocker, ex-Crazy Legs e atual Space Comets.
Universo Retrô – Sonny Rocker e Henry Paul juntos novamente. Nos fale mais sobre essa novidade.
Henry Paul – O Sonny é a única pessoa que poderia fazer a banda voltar a ser trio, pois temos muita química, somos amigos e verdadeiros um com o outro. Somos rockers e estamos na estrada há muito tempo. Para a gente, foi um presente divino continuar essa parceria.
Universo Retrô – Nos conte um pouco do seu trabalho com o Crazy Legs, uma das mais reconhecidas bandas nacionais do gênero, que acaba de encerrar suas atividades com a última formação.
Henry Paul – Na verdade, eu e a Crazy Legs fomos os responsáveis pelo resurgimento do rockabilly nacional, com uma dose a mais de conhecimento que as bandas que nos antecederam. Nos anos 1990, o cenário rocker estava abandonado e nós o reativamos.
Tocávamos rockabilly de verdade com toda sua tradição, sem misturar com outros estilos como rock’n roll, doo wop, boogie woogie ou até versões satirizantes, como muitos fizeram.
Universo Retrô – Para você, como é viver de música, no caso o rockabilly, no Brasil?
Henry Paul – O lance de tocar rockabilly já passou de apenas diversão há muito tempo em minha vida. Hoje continuo me divertindo, mas, principalmente, trabalho e vivo disso. Eu pensava em ser cantor profissional aos 6 anos de idade, e até por isso, sempre lidei com tudo profissionalmente. Logo, tenho que ter companheiros que encarem a banda como trabalho, mas isso é complicado. Bom, mesmo com a falta de compromisso de vários baixistas, a coragem que me faz ir adiante e o companherismo da Drika, minha esposa e baterista, me inspiram a continuar.
Universo Retô – Como é trabalhar com a sua esposa? Há quanto tempo estão na estrada juntos?
Henry Paul – A Drika está diretamente ligada ao meu fracasso ou ao meu sucesso. Sei que posso confiar plenamente nela. Na verdade, casais trabalhando juntos é um quadro normal, isso existe há muitos anos. Lembro-me de amigos da minha família que eram casados e tinham armazéns, lavanderias, mercearias… Eu acredito que é super proveitoso, pois é a nossa profissão e procuramos fazer do nosso negócio um sucesso. Não foi difícil, até porque nos conhecemos há 27 anos!
Universo Retrô – O rockabilly nasceu nos anos 1950 e retomou sua popularidade na década de 1980. Como é fazer esse tipo de som hoje em dia? Quais são as principais dificuldades?
Henry Paul – Eu acho que hoje é bem mais fácil em todos os sentidos, do que foi nos anos 1980, pois temos muitas opções musicais que estimulam vários estilos de vida que, por sua vez, se misturam. O próprio termo “rockabilly” é mais conhecido hoje. Na década de 1980, o nome era totalmente desconhecido em nosso País. Acho que foi fundamental o surgimento do neorockabilly nos anos 1980, pois pôde mostrar ao brasileiro um ritmo eletrizante e nostalgicamente moderno.
Universo Retrô – Como é a aceitação do público?
Henry Paul – Como trabalho com isso, toco em bares, casa noturnas e tenho a consciência de que minha banda é uma banda de animação. Tocamos para a galera se divertir, portanto, conto com toda minha experiência e percepção para escolher o som certo, na hora certa e lugar. Isso faz toda a diferença. Não deixamos de fazer o que gostamos e somos sempre bem aceitos. Portanto, a aceitação vem de como você se coloca para o seu público.
Universo Retrô – Como você definiria este público?
Henry Paul – O meu público é bem variado, independente de cena, eu vou ao lugar e faço o lugar ficar “rocker” (risos). Sempre aparece gente nova. O que faz a diferença, talvez, seja o fato de ser verdadeiro no que se faz. Aí sempre terá aceitação do público e oportunidade de renovar.
Universo Retrô – Na cena, fala-se muito sobre a diferença entre o verdadeiro “rocker”, aquele que vive o rockabilly, e o “bambolê”, quem curte o estilo mas não o vive. O que você pensa sobre isso?
Henry Paul – Eu penso que o novo sempre vem, e não vem igual, vem sempre com outras bagagens que fazem a diferença. Como vivo de música, sempre tenho a oportunidade de ver gente nova. Já vi muitas gerações e percebo que toda época é diferente da outra. O que temos que fazer é nos preocupar com o nosso, somente o nosso, e deixar o outro ser do jeito que quiser, pois nunca vamos mudar o imutável, que não é o estilo, mas sim o novo que sempre vem.
Universo Retrô – Como você vê o cenário musical popular atual?
Henry Paul – Em se tratando de composições, criações musicais, com certeza se formos procurar sem a ajuda da grande mídia, poderemos encontrar muita gente boa, sem fama mundial, porém com muito talento. Agora, o cenário musical popular, aos olhos da mídia, sem dúvidas é um lixo insuportável.
Universo Retrô – Influenciado pelo Punk e pelo Rockabilly, o Psychobilly surgiu na Inglaterra com bandas como The Meteors, Guana Batz, Demented Are Go, Quakes e muitas outras. Gosta deste estilo de som?
Henry Paul – Gosto sim, principalmente de Batmobile, uma banda holandesa que surgiu em 1983.
Universo Retrô – Se pudesse voltar no tempo e assistir a um show, quem seria o músico escolhido e qual época?
Henry Paul – Queria muito poder ter visto as apresentações do Elvis nos anos 1950, foi o primeiro registro de um concerto de rock. Ele, para mim, representa tudo que motivou e motiva a minha vida na cena rockabilly.
Universo Retrô – O que você sente quando está no palco? Qual conselho você daria para quem está começando?
Henry Paul – Sinto que estou fazendo aquilo que realmente vim fazer neste planeta chamado Terra (risos). Agora, conselho… Ser verdadeiro com você mesmo, só assim poderá ser feliz com o que faz!
Universo Retrô – O que a internet mudou na forma de trabalhar com música?
Henry Paul – Ela simplesmente multiplicou as possibilidades. Com a internet, podemos mostrar nosso trabalho com muito mais facilidade e com qualidade de conhecimento inigualável, comparado há alguns anos. Só veio a acrescentar, sem dúvidas.
PING-PONG
Defina o que é o rockabilly para você em uma palavra? Estilo.
MP3 ou Vinil? O rockabilly.
Um lugar… Gravadora Sun Records, em Memphis – Tennessee (EUA).
Um ídolo… Elvis Presley.
Um lugar para ouvir rock ‘n roll… Aqui mesmo.
Um show memorável… Aquele que me realiza.
Um músico… O guitarrista Scott Moore.
Um disco… The Sun Sessions (1954 – 1955). do Elvis Presley.
Uma música… Baby let’s play house, composta por Arthur Gunter e gravada por Elvis Presley em 1955.