Há exatos 105 anos, nascia, em Valinhos, interior de São Paulo, João Rubinato, que, posteriormente, ficaria conhecido como Adoniran Barbosa. Músico, compositor, humorista e ator, apesar de não estar mais entre nós, até hoje é um dos maiores representantes do samba paulista, da clássica malandragem dos anos 40 e também da cultura ítalo-brasileira.
Com uma infância complicada, abandonou a escola pois não gostava de estudar, ajudava a família bem numerosa, que, além dele e de seus pais, tinha mais sete irmãos. Com os Rubinato buscando resolver seus problemas financeiros, viviam mudando-se de casa. Primeiro, de Valinhos para Jundiaí, depois, de Jundiaí para Santo André, e por fim para São Paulo.
Foi em Jundiaí que Adoniran experimentou seu primeiro oficio, o de entregador de marmitas. Mesmo sem frequentar a escola, ele fazia suas contas; se tinham quatro bolinhos na marmita, dois eram dele, pois afinal, a fome assim clamava…
Depois de ser negado a fama em uma série de programas de calouros em rádios, seu primeiro sucesso emplacou: “Trem das Onze”, mas não durou muito. Só depois, a canção foi regravada pelos Demônios da Garoa e estourou no Rio de Janeiro.
Trabalhando em rádios, fazendo filmes com astros como Mazzaropi, gravações com Elis Regina, e, acima de tudo, sendo um bom boêmio, Adoniran teceu a imagem do malandro paulistano, cantando a realidade dura dos mais pobres, com bom humor, saudosismo, paixão, elementos que apenas ele conseguia reunir.
Em seu linguajar simples, palavras como “Lampida”, “Vorta” e outras tantas que ele pronunciava de “forma errada” mas que geram uma sonoridade única, um tiro perfeito na “tauba de tiro ao auvaro”.
O músico chegou a declarar que jamais fez a maioria das coisas que suas músicas contam. Ele dizia que apenas ouvia algumas histórias e as escrevia, mas que, outras, ele sentiu na pele, como a canção “Joga a Chave” e a “Já fui uma brasa”, do ano de 1966, época do “Ie Ie Ie” de Roberto Carlos, Erasmo Tremendão e toda a trupe da Jovem Guarda.
Longe dos holofotes, ele contou sua história, expressou suas ideias e deixou uma obra única para a cultura popular brasileira. Com clássicos como “Trem das Onze”, “Samba em Italiano”, “Saudosa Maloca”, “Samba do Arnesto”, “Iracema”, entre tantas outras letras que marcam a históra do bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, e de toda essa enorme cidade que ele ajudou a imortalizar em suas letras.
“É negrão… eu ia passando, o broto olhou pra mim e disse: é uma cinza, mora? Sim, mas se assoprarem debaixo desta cinza tem muita lenha pra queimar…”