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Erasmo Carlos: do jovem humilde da Tijuca a um dos ícones da Jovem Guarda

23 de novembro de 2022, por Leila Benedetti
Música
Erasmo Carlos

Erasmo Carlos é mais um dos artistas que nos deixa neste ano de 2022. O ícone da Jovem Guarda e amigo de Roberto Carlos morreu neste dia 22, aos 81 anos, no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro. A causa exata ainda não foi divulgada, mas sua família anunciou que ele tratava contra uma síndrome edemigênica. 

Assim como sempre fazemos com nossos ídolos que partem, vamos relembrar sua trajetória, desde seu início na carreira de músico até os seus últimos momentos. 

A trajetória de Erasmo Carlos

Início

Erasmo Esteves nasceu em 1941 no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Filho de mãe solo, ele só conheceu seu pai aos 23 anos, quando já estava em seu auge na carreira. Seu caminho na música se iniciou na adolescência, quando fez amizade com o então vizinho Tim Maia devido ao gosto em comum pelo rock’n’ roll. 

Em 1957, Tim, que era integrante da banda The Sputniks junto com Roberto Carlos, apresentou Erasmo ao colega por ser fã assíduo de Elvis Presley. O grupo tinha alguns hits do cantor americano em seu repertório e Roberto não encontrava a letra de Hound Dog, acabando por aceitar a ajuda do novo amigo e aquele que viria a ser seu maior parceiro musical no futuro. 

Ainda no mesmo ano, os Sputniks se separaram devido a uma briga entre Tim e Roberto, que partiram para carreira solo. Nesse mesmo tempo, Erasmo se uniu com os membros sobreviventes da banda, Arlênio Lívio e Edson Trindade, e chamou José Roberto (também conhecido como China) para montar o grupo vocal The Snakes

The Snakes passou entre o final dos anos 50 até o início dos anos 60 fazendo coro de apoio a alguns cantores solo da época, inclusive Roberto e Tim em seus respectivos shows. Além disso, Erasmo aprendeu a tocar violão com Tim e decidiu incluir “Carlos” em seu nome artístico para homenagear Roberto e seu produtor Carlos Imperial

A parceria com Roberto Carlos e o surgimento da Jovem Guarda

Desde que foram apresentados, Roberto e o agora Erasmo Carlos nunca pararam de trabalhar juntos, mesmo com cada um seguindo suas carreiras solo. Muitas das músicas mais lembradas quando se fala em Jovem Guarda foram compostas em conjunto pelos dois, entre elas Quero que Vá Tudo para o Inferno e Parei na Contramão

Foi a partir dessa união, que incluía também a Wanderléa, que surgiu o movimento. O trio passou a apresentar o programa Jovem Guarda na TV Record em 1965 e abriu portas para novas bandas e artistas do tipo, sem contar que trouxe a cultura rock/pop americano e britânico para os jovens daqui do Brasil. Erasmo também foi um dos que ajudou a inserir o órgão Hammond do Lafayette nos arranjos das músicas. 

Mesmo após o fim do programa, em 1968, bem como o fim do movimento nos anos 70, Roberto e Erasmo continuaram com a parceria musical. E o interessante é que suas músicas acompanhavam o amadurecimento dos dois – enquanto lançavam músicas que falavam de paqueras inocentes enquanto eram jovens nos anos 60, os lançamentos posteriores falavam de amor conjugal, sexo, envelhecimento, nostalgia da infância e o valor da amizade.

Essa parceria durou por quase seis décadas, sendo o último lançamento a música Furdúncio, lançado em 2012 e parte da trilha sonora de Salve Jorge. Depois disso, cada um tomou um rumo diferente na carreira, mas continuaram amigos, porém com um pouco menos de intimidade como antes. 

Da Jovem Guarda para a MPB

A Jovem Guarda já estava perdendo seu espaço entre o final dos anos 60 e início dos 70. Visto que podia entrar em decadência, Erasmo Carlos se reinventou com o movimento hippie e pela música soul. Suas músicas que não envolviam a parceria com Roberto Carlos abordavam o existencialismo e críticas contra o descaso com a ecologia. 

A década de 70 também foi marcada pela sua carreira no cinema. Sua já veterana parceria com Roberto Carlos foi mais além das músicas e passou a ser vista nas telonas. Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971) e Roberto Carlos e O Diamante Cor-de-Rosa (1970) estão atualmente disponíveis para download na internet e na programação do Canal Brasil para provar. Filmes em que ele aparece sem o Roberto também existem, como Os Machões (1972), o documentário Ritmo Alucinante (1975) e O Cavalinho Azul (1984)

Já nos anos 80, o cantor já se viu consagrado na MPB lançando o álbum Erasmo Convida, que trazia duetos com Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléa, A Cor do Som, As Frenéticas, Gilberto Gil, Rita Lee, Tim Maia, Jorge Ben e Caetano Veloso. Ele ainda participou do coro da versão brasileira de We Are the World e do projeto Nordeste Já, ambos de 1985. 

Erasmo Carlos permaneceu na ativa até recentemente. Além de lançar músicas em parceria com vários artistas, não apenas de MPB como também de samba-rock, ele também voltou para as telas ao participar do filme Modo Avião, produzido pela Netflix. Seu último trabalho foi o disco O Futuro Pertence à…Jovem Guarda, lançado em 2021 e que traz oito músicas do gênero. 

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