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All in the Family, a primeira sitcom a abordar o orgulho LGBT+ da história

28 de junho de 2021, por Leila Benedetti
Cinema & TV
All in the Family

Nada mais oportuno celebrar o Dia do Orgulho LGBT+ relembrando a primeira vez em que a televisão abordou o tema há 50 anos. Quem acha que a mídia vem tratando desse tema apenas depois dos anos 2000, provavelmente, nunca ouviu falar sobre All in the Family, de 1971. 

A sitcom americana da rede CBS, apesar do tremendo sucesso de audiência, chegando a alcançar nove temporadas, ser exibida internacionalmente e receber vários Emmy e Globo de Ouro, foi um balde de água fria para a família tradicional.

Seu enredo girava em torno de uma família “padrão” da classe média – o marido retrógrado e estúpido, a esposa dona de casa e submissa e a filha casada com um universitário de ideias liberais, que sempre entrava em atrito com o sogro por questões como racismo, feminismo, entre outros. 

(Abertura de All in the Family)

Era muito comum nos diálogos entre os personagens um certo linguajar que até então não estava presente na televisão americana. Archie (Carroll O’Connor), o tal “chefe da família”, usava frequentemente palavras pejorativas como “fag” (“bicha”) para os gays e “nigger” (“preto”) para os negros. 

O público conservador se preocupava com a presença desses termos em rede nacional. Mas os defensores da série alegavam que o uso dessas palavras servia para seus espectadores refletirem sobre a ignorância do personagem, já que ele sempre perdia as discussões na trama devido a sua própria estupidez. 

O pioneirismo de All in the Family em relação à causa LGBT+

A sitcom não foi a primeira a abordar temas polêmicos com uma linguagem vulgar e refletir sobre o padrão de família tradicional na televisão. Antes dela, a sua série inspiradora, a britânica Till Death Us Do Part, lançada em 1965 pela BBC, possuía o mesmo enredo e os mesmos personagens, porém com nomes diferentes. 

Mas All in the Family foi a primeira em um detalhe: abordar a causa LGBT+ e apresentar o primeiro personagem homossexual televisivo da história. O pioneirismo se deu em um episódio em que Archie recebeu o amigo Steve (Phillip Carey) em sua casa.

Todos da família desconfiava que ele era gay, mesmo o genro Michael (Rob Reiner) insistindo que seu comportamento não era o suficiente para rotulá-lo. Após muitas discussões, Archie desabafa com Steve e o amigo revela que, de fato, ele era gay. 

All in the Family
(Archie – esq. – e o amigo Steve. | Foto: Getty Images)

A situação chocou Archie, assim como chocou o público que assistia a série e via o episódio como um alerta de que “eles podem estar entre nós sem nem percebermos”. Até essa exibição, os homossexuais eram encarados como marginais ou vilões, e ainda bem que essa má imagem vem cada vez mais se desintegrando. 

O sucesso da sitcom em uma sociedade mais conservadora

Os produtores de All in the Family tinham um segredo para abordar temas considerados tabus e manter seu sucesso ao mesmo tempo, segredo este que foi usado em outras séries lançadas até os anos 90. Personagens que geravam muita polêmica nunca eram protagonistas, mas sim coadjuvantes que apareciam em apenas um episódio e nunca mais eram lembrados nos outros.

Essa tática agradou as duas metades da audiência da série – a conservadora, que encarava o personagem transitório e a série como uma simples descontração, e a mais liberal, que entendia o desejo do programa de passar uma mensagem importante para seu público. 

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2 Responses

  1. Luiz Domingos

    Duas curiosidades sobre All In The Family:
    1) A série só viria a ser exibida no Brasil, no final dos anos 1980, na TV Bandeirantes.
    2) A série chegou a ser adquirida pela Rede Globo, nos anos 1970, No entanto, por conta de alguns pontos e episódios polêmicos, para evitar problemas com a censura do regime militar, a Globo decidiu fazer uma versão brasileira, criada pelo dramaturgo e escritor Oduvaldo Vianna Filhochamada A Grande Família,que estreia em 1972,tornando- se um grande sucesso. O viés político da versão brasileira era mostrado através dos dois filhos de Lineu e Nenê, Tuco, o mais velho (Luiz Armando Queiroz) e Júnior,o filho do meio (Osmar Prado), que representavam as duas facetas da juventude brasileira durante os anos de chumbo; por um lado, Tuco representava a juventude hippie e “alienada”, enquanto Júnior representava a juventude intelectual e “engajada”. Na aclamada versão de 2001, Júnior foi “deletado”, ficando apenas o Tuco e a Bebel.

    1. Leila Benedetti

      E, pela saída de Júnior na versão de 2001, quem ficou com a personalidade intelectual foi o pai de família Lineu, que, na versão anterior, era aquele “chefe de família” ranzinza e retrógrado. Muito interessantes as duas curiosidades, obrigada! :)

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