Estreou no Theatro Net Rio, em Copacabana, a peça 60! – Década de Arromba!. Com o subtítulo Doc. Musical, o espetáculo que tem como estrela a cantora Wanderléa, a “ternurinha” da Jovem Guarda, realmente foi feito com a estrutura de um documentário. A obra passa por muitos dos momentos mais importantes da grande década, contados através de imagens e músicas. Com direção de Frederico Reder, a produção é de uma qualidade inquestionável, um nível muito acima do comum, que impressiona nas quase quatro horas de duração da montagem.
O palco foi montado com o design de uma TV antiga, daquelas retangulares com os cantos da tela arredondados. Há mudanças no cenário o tempo todo. Interessante é como são usadas as projeções, que ora aparecem na frente do palco – transformando o mesmo em um televisor – e ora ao fundo, servindo de background para a peça. No teatro, por onde o espectador anda, pode ver itens legítimos dos anos 1960: geladeiras Brastemp, máquinas de escrever Olivetti, scooters Vespa e aquelas vitrolas que eram verdadeiros móveis de madeira. Uma imersão incrível no clima da época.
O espetáculo começa, na verdade, após a apresentação da banda, com uma extensa retrospectiva dos anos 1950. Importante, porém não essencial, a cronologia podia ter a metade do tempo – estendeu em muito a duração da peça e não tratou do tema principal. Vemos a chegada da TV ao Brasil, Gene Kelly em Dançando na Chuva, Marilyn Monroe em Os Homens Preferem As Loiras, a morte de Carmen Miranda, a “Juventude Transviada” de James Dean e a primeira vitória do Brasil em uma Copa do Mundo.
60! – Década de Arromba segue dividido ano a ano. Os momentos mais destacados pelo roteiro vão para o palco. Os outros aparecem nas telas em recortes de revistas e jornais, vídeos com comerciais de TV e todo tipo de imagem. Comportamento e cultura pop são os mais citados. O lançamento da boneca Barbie, em 1959 marca o primeiro número, com uma reprodução fiel da caixa original da boneca no palco, onde diversas atrizes saem caracterizadas como o brinquedo, atuando com a movimentação característica e cantando o clássico Banho de Lua.
A Barbie é um elemento que será repetido por mais vezes no espetáculo. Ícone da época, assim como também a corrida espacial, a insistência em alguns temas como esses deixa o questionamento do porquê outros tão importantes, como a explosão da Bossa-Nova e o golpe que gerou a Ditadura Militar no Brasil, terem tido destaque tão pequeno, mesmo não sendo esquecidos.
Os 24 atores não deixam em momento algum a desejar. Fica claro a cada cena o talento dos artistas que sapateiam, cantam, dançam e atuam sem perder o ritmo ou desafinar. O timing da peça é perfeito, mesmo com uma constante troca de figurinos e cenário. “60!” tem momentos hilários como o clipe de Biquini de Bolinha e O Calhambeque, tocantes como a interpretação de Opinião, as mortes de Edith Piaf e Marilyn Monroe e verdadeiros banquetes de nostalgia para quem viveu a década, com exibição de trechos de desenhos animados e o figurino, muito fiel em cores, cortes e combinações de roupas.
Wanderléa – A estrela da festa
Aos seus 70 anos, a cantora mineira Wanderléa, que nos tempos do programa Jovem Guarda era destaque junto de Erasmo e Roberto, continua uma diva. A sua primeira aparição, antes do único intervalo da peça, é um baque para o público. A artista surge no topo de uma grande escada interpretando Ternura, ovacionada.
Vestida de forma divina a cada vez que aparecia, com uma roupa diferente, a “Ternurinha” da Jovem Guarda mostra que ainda está em grande forma na bem montada Pare O Casamento, em que todos os atores se vestiram de casais de noivos, e em Prova de Fogo, em que aparece pilotando uma moto.
A volta do intervalo é bem mais curta, porém com grandes surpresas. A cada número fica no ar aquela expectativa de “quando a Wanderléa volta?” ao lado dos outros comentários como “nossa, como me lembro desse produto!”, “a gente dançava muito essa música!”, “essa você lembra?”. Formada em sua maioria por pessoas que, assim como a protagonista, já passaram dos 60 anos, a plateia se sentia muito nostálgica e em casa a cada novidade.
O submarino amarelo dos Beatles, os grandes festivais de música, a Tropicália, o Verão do Amor, os momentos pesados e revolucionários de 1968 e o surgimento da primeira Barbie negra aparecem para mostrar como a segunda metade da década trouxe enormes mudanças ao mundo. O poder das mulheres e a força do feminismo também está na montagem com o surgimento da pílula anticoncepcional e uma cena sobre a famosa “queima dos sutiãs”.
O espetáculo é encerrado com Wanderléa cantando o clássico É Preciso Saber Viver, de Roberto e Erasmo. 60! – Uma Década de Arromba é imperdível, apesar de ter uma duração exaustiva (três horas e meio de espetáculo) e ser superficial em alguns assuntos – por não abordar os temas da década de uma forma mais seletiva. A (super) produção é de cair o queixo, o talento dos atores é inquestionável e a peça te entrega mais de cem músicas que são a cara dos anos 1960. Com a peça é impossível não se transportar para essa década que nunca terminou.
Serviço:
Datas e preços: Até 18 de dezembro. Quinta e sexta, 21h; Sábado, 18h30 e 21h30; Domingo, 20h. R$ 50 a R$ 160 (Quinta e Sexta), R$ 50 a R$ 180 (Sábado e Domingo).
Duração: 210 min.
Classificação: 12 anos.
Local: Theatro Net Rio – Rua Siqueira Campos, 143 – Copacabana. Tel: 2147-8060.