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Casa Modernista da Rua Santa Cruz, a primeira estilo Bauhaus no Brasil

26 de fevereiro de 2021, por Leila Benedetti
Design
Casa Modernista da Rua Santa Cruz

Um lugar bem esquecido de São Paulo, mas que tem uma história importantíssima na cidade, é a Casa Modernista da Rua Santa Cruz. Patrimônio histórico desde os anos 80, ela é a primeira casa brasileira de estilo modernista. 

A Casa foi construída em 1928 pelo arquiteto Gregori Warchavchik para ser sua residência junto com sua esposa Mina. Sob a influência modernista da escola de Bauhaus, não só a estrutura como também os móveis e as luminárias tem total assinatura do arquiteto. Mina também contribuiu com a construção da casa. Ela foi responsável por cuidar do jardim, tornando o exterior da casa o primeiro projeto paisagístico modernista do país, com suas espécies tropicais de plantas.

Hall e Jardim
(A casa, bem como a mobília, foi assinada por Gregori, enquanto que o jardim por Mina. | Foto: Reprodução)

Na época, a arquitetura modernista era algo desconhecido pelos brasileiros, portanto, as obras da casa passaram por alguns obstáculos. Quando Gregori apresentou o projeto para a aprovação da prefeitura, ele precisou desenhar alguns ornamentos na planta. Quando as obras terminaram, o arquiteto alegou que houve falta de recursos para tal acabamento, deixando assim a casa do jeito que ele queria, minimalista. 

Fora a dificuldade em encontrar materiais e a falta de preparação da mão de obra para receber o modernismo no país, a casa recebeu críticas negativas do arquiteto Dácio de Morais publicadas em artigos do Correio Paulistano. Logo, Gregori respondeu a essas críticas no artigo Arquitetura Nova, publicado no mesmo veículo.

“Não querendo copiar o que na Europa está se fazendo, inspirado pelo encanto das paisagens brasileiras, tentei criar um caráter de arquitetura que se adaptasse a esta região, ao clima e também às antigas tradições desta terra. Ao lado de linhas retas, nítidas, verticais e horizontais, que constituem, em forma de cubos e planos, o principal elemento da arquitetura moderna, fiz uso das tão decorativas e características telhas coloniais e creio que consegui idear uma casa muito brasileira, pela sua perfeita adaptação ao ambiente. O jardim, de caráter tropical, em redor da casa, contém toda a riqueza das plantas típicas brasileiras.”

Entretanto, o resultado da casa foi bem sucedida. Inclusive recebeu elogios de alguns nomes que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, alegando que a casa fugia dos padrões já existentes da época, mas não abria mão do nacionalismo. 

Reforma de 1935

A década de 30 foi quando os filhos de Gregori e Mina chegaram. Portanto a Casa Modernista passou por reformas tanto na fachada como no desenho da planta. O acesso principal, que ficava na parte frontal da casa, passou para a parte lateral. A cozinha e a sala de estar foram ampliadas, assim como uma varanda acessada pelo quarto do casal foi adicionada. Há também a adição de mais um banheiro, um closet e a transição do quarto de costura para o quarto do filho.  

Já a parte externa ganhou uma marquise na entrada da casa e uma ampliação no jardim, que também ganhou mais privacidade por conta do Hospital Santa Cruz que começava a se erguer em frente a casa. 

Casa Modernista após a reforma de 1935
(A entrada principal foi transferida para a lateral da casa e ganhou uma marquise. | Foto: Fabio Cintra)

A Casa Modernista da Rua Santa Cruz como patrimônio histórico de São Paulo

A família Warchavchik morou na casa até 1972, ano da morte de Gregori. Nos anos 80, seus filhos quiseram vender o imóvel para uma construtora, cujo objetivo era demolir a casa para dar lugar a um condomínio de apartamentos, o que foi combatido pelos moradores do bairro. A mobilização para preservar a casa e sua área verde levou a criação da Associação Pró-Parque Modernista

Ainda na mesma década, o Condephaat do Estado de São Paulo tombou a Casa Modernista da Rua Santa Cruz e a tornou um patrimônio histórico. A história da casa terminaria por aí se os filhos de Gregori e Mina não tivessem entrado com uma ação na justiça contra o Estado por conta da inviabilidade de vender o imóvel. 

Casa restaurada
(Casa Modernista após restauração. | Foto: Pedro Kok/Vimeo)

O processo judicial demorou dez anos para ser concluído. Enquanto isso, a casa entrou em estado de abandono e foi gravemente se deteriorando. Terminado o processo em 1994, a casa só foi restaurada nos anos 2000, mas, por falta de verba, falta recuperar alguns detalhes, como a edícula.

Hoje, todo o jardim da casa foi transformado em um parque público, e a casa permanece lá para visitas, porém com horário reduzido para obedecer a Fase Amarela do Plano São Paulo, que tenta equilibrar a situação econômica do Estado com a pandemia do coronavírus.  

Parque Modernista
(Hoje a casa está aberta para visitas, enquanto seu jardim abriga um parque. | Foto: Fabio Cintra/Museu da Cidade de São Paulo)

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