Um lugar bem esquecido de São Paulo, mas que tem uma história importantíssima na cidade, é a Casa Modernista da Rua Santa Cruz. Patrimônio histórico desde os anos 80, ela é a primeira casa brasileira de estilo modernista.
A Casa foi construída em 1928 pelo arquiteto Gregori Warchavchik para ser sua residência junto com sua esposa Mina. Sob a influência modernista da escola de Bauhaus, não só a estrutura como também os móveis e as luminárias tem total assinatura do arquiteto. Mina também contribuiu com a construção da casa. Ela foi responsável por cuidar do jardim, tornando o exterior da casa o primeiro projeto paisagístico modernista do país, com suas espécies tropicais de plantas.
Na época, a arquitetura modernista era algo desconhecido pelos brasileiros, portanto, as obras da casa passaram por alguns obstáculos. Quando Gregori apresentou o projeto para a aprovação da prefeitura, ele precisou desenhar alguns ornamentos na planta. Quando as obras terminaram, o arquiteto alegou que houve falta de recursos para tal acabamento, deixando assim a casa do jeito que ele queria, minimalista.
Fora a dificuldade em encontrar materiais e a falta de preparação da mão de obra para receber o modernismo no país, a casa recebeu críticas negativas do arquiteto Dácio de Morais publicadas em artigos do Correio Paulistano. Logo, Gregori respondeu a essas críticas no artigo Arquitetura Nova, publicado no mesmo veículo.
“Não querendo copiar o que na Europa está se fazendo, inspirado pelo encanto das paisagens brasileiras, tentei criar um caráter de arquitetura que se adaptasse a esta região, ao clima e também às antigas tradições desta terra. Ao lado de linhas retas, nítidas, verticais e horizontais, que constituem, em forma de cubos e planos, o principal elemento da arquitetura moderna, fiz uso das tão decorativas e características telhas coloniais e creio que consegui idear uma casa muito brasileira, pela sua perfeita adaptação ao ambiente. O jardim, de caráter tropical, em redor da casa, contém toda a riqueza das plantas típicas brasileiras.”
Entretanto, o resultado da casa foi bem sucedida. Inclusive recebeu elogios de alguns nomes que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, alegando que a casa fugia dos padrões já existentes da época, mas não abria mão do nacionalismo.
Reforma de 1935
A década de 30 foi quando os filhos de Gregori e Mina chegaram. Portanto a Casa Modernista passou por reformas tanto na fachada como no desenho da planta. O acesso principal, que ficava na parte frontal da casa, passou para a parte lateral. A cozinha e a sala de estar foram ampliadas, assim como uma varanda acessada pelo quarto do casal foi adicionada. Há também a adição de mais um banheiro, um closet e a transição do quarto de costura para o quarto do filho.
Já a parte externa ganhou uma marquise na entrada da casa e uma ampliação no jardim, que também ganhou mais privacidade por conta do Hospital Santa Cruz que começava a se erguer em frente a casa.
A Casa Modernista da Rua Santa Cruz como patrimônio histórico de São Paulo
A família Warchavchik morou na casa até 1972, ano da morte de Gregori. Nos anos 80, seus filhos quiseram vender o imóvel para uma construtora, cujo objetivo era demolir a casa para dar lugar a um condomínio de apartamentos, o que foi combatido pelos moradores do bairro. A mobilização para preservar a casa e sua área verde levou a criação da Associação Pró-Parque Modernista.
Ainda na mesma década, o Condephaat do Estado de São Paulo tombou a Casa Modernista da Rua Santa Cruz e a tornou um patrimônio histórico. A história da casa terminaria por aí se os filhos de Gregori e Mina não tivessem entrado com uma ação na justiça contra o Estado por conta da inviabilidade de vender o imóvel.
O processo judicial demorou dez anos para ser concluído. Enquanto isso, a casa entrou em estado de abandono e foi gravemente se deteriorando. Terminado o processo em 1994, a casa só foi restaurada nos anos 2000, mas, por falta de verba, falta recuperar alguns detalhes, como a edícula.
Hoje, todo o jardim da casa foi transformado em um parque público, e a casa permanece lá para visitas, porém com horário reduzido para obedecer a Fase Amarela do Plano São Paulo, que tenta equilibrar a situação econômica do Estado com a pandemia do coronavírus.