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Conheça a história de Lilian Fernandes: A vedete das noites paulistanas

25 de novembro de 2015, por Aurora D'Vine
Lifestyle
Lilian Fernandes

Conquistando grande sucesso na década de 1950, Lilian tornou-se a grande sensação das revistas, viajando por todo o Brasil e arrastando multidões com sua beleza exuberante.

Entre as décadas de 1940 e 1950, um requisito básico para tornar-se uma Vedete era ter um corpo escultural, belas pernas, uma cintura marcada e um rosto bonito. A priori, não era necessário saber cantar, dançar ou interpretar, mas a experiência nos palcos permitia aprender tudo isso e muito mais. Tanto que Mara Rúbia, a loura infernal, como ficou conhecida, encantava ao público com suas gargalhadas, o que levava a plateia ao delírio. Mas hoje, vamos falar, especialmente, de uma vedete que iniciou sua trajetória nos teatros de São Paulo; seu nome é Adieme, mas o Brasil a conheceu como Lilian Fernandes.

A beleza dessas mulheres abria muitas portas em uma época que não existia televisão. Tanto que, no teatro, muitos homens disputavam a fila do gargarejo. Não perdiam um espetáculo e todas as vedetes tinham os seus fiéis admiradores, exímios cavalheiros que gostavam de presenteá-las não só com flores, bombons e belas palavras. Estes galanteadores chegavam a comprar carros, apartamentos e joias, tamanha admiração que tinham pelas mulheres, que esbanjavam simpatia e desfilavam pela boca de cena, trajando maiôs de paetês à frente da companhia.

Vedete Lilian Fernandes

Em seus papéis, Lilian colecionava perfis de italiana e francesa (Foto: Reprodução)

Adieme foi convencida por uma amiga a se inscrever em um concurso de cinema. Entusiasmadas, quando chegaram para o teste, souberam que teriam de desfilar com traje longo, maiô e passeio. Com 17 anos de idade, Adieme se inscreveu e sua amiga a batizou com o nome artístico “Lilian Fernandes”. A jovem pegou gosto pela coisa e, junto com o material de escola e uniforme, levava uma roupa bonita e bem engomada para causar boa impressão nos testes, em Jaçanã.

As desculpas para os pais se repetiam a cada dia, pois Adieme precisava arrumar uma boa explicação do por quê voltava tão tarde para casa. Até que um dia, a reportagem de um jornal local chegou à sua casa procurando por Lilian Fernandes. Empunhando um revólver e furioso, o pai da moça colocou todos para correr.

Naquela época existia muito preconceito contra a mulher que queria se dedicar ao cinema e ao teatro. O pai de Adieme tentou convencê-la de que aquela não era a área de atuação que havia sonhado para a filha. Chegou a levá-la para uma viagem de seis meses à Itália, mas, quando voltou ao Brasil, os convites para uma estreia eram incontáveis.

Renata Fronzi, grande vedete do Teatro de Revista, lhe fez um convite pessoal. Para facilitar seu ingresso no mundo artístico, Lilian também fez as vontades de seu pai, frequentando aulas de corte e costura, piano e datilografia. “Os ambientes que eu frequentava naquela época eram muito familiares e eu continuava achando que o meu pai não me deixaria participar de um espetáculo no teatro. Renata Fronzi se propôs a conversar com ele e prometemos que eu ficaria só uma temporada”, disse.

Carreira em Ascensão

Vedete Lilian Fernandes

Com pose de vedete e uma cintura milimétrica, Lilian viajou por todo o Brasil como uma das mais importantes vedetes (Foto: Arquivo Pessoal)

Lilian estreou na revista “Brasil 3000”, no Teatro de Alumínio, na Praça da Bandeira. Ela lembra que todas as garotas do teatro eram virgens, apesar dos homens alucinados atrás das artistas. Conforme explicou, a má profissional era multada e o sistema rígido do teatro lembrava um colégio interno.

Lilian interpretou uma francesa em seu primeiro papel no teatro, trejeitos que lhe renderam, mais tarde, destaque no longa “Marido de Mulher Boa”, em 1960, ao lado de Zé Trindade, Renata Fronzi, Otelo Zeloni, entre outros. Assim como todas as outras vedetes contam, apesar do tratamento rígido dentro dos espetáculos, as artistas eram tidas como prostitutas, já que as profissionais do sexo se utilizavam da mesma estética das vedetes para atrair clientes.

Dentro de 11 meses, desde sua estreia, Lilian já despontava como uma das mais importantes atrizes. Ela viajou por todo o Brasil como uma das principais vedetes das companhias de revistas, estrelando peças de Carlos Machado.“O Teatro é um celibato. Entrávamos às 13h e saíamos às 3h e, para complementar o salário, dançávamos em boates”, contou Adieme.

Entre os trabalhos na telona estão “Viúvas Precisam de Consolo”, de 1979; “Salve-se Quem Puder”, 1973; “Som, Amor e Curtição”, 1972; “Adorável Trapalhão”, 1967; “Jerry – A Grande Parada”; “Aí Vêm os Cadetes”, 1959; “Garota Enxuta”, 1959, e “Crepúsculo de Ódios”, 1958. Em 2006, a artista fez uma participação no último capítulo da novela Belíssima, da rede Globo, com a presença de diversas vedetes, antigas colegas de trabalho.

Lilian Fernandes, vedete

O passado e o presente, Adieme em sua casa, no bairro do Ipiranga, e um retrato na praia, onde ela considera ser sua segunda casa (Foto: Reprodução)

Aposentada e, ainda, recebendo alguns convites para televisão, Lilian está com 80 anos de idade e mora em uma rua tranquila do bairro Ipiranga, em São Paulo. Em um baú, guarda todas as lembranças de uma carreira brilhante que atravessou décadas e que, até hoje, encanta muita gente.

“Eu não aceito falar mal de artista, é uma classe sensível, amiga, existe um pouco de inveja, mas isso é compreensível e existe em qualquer lugar. É uma profissão maravilhosa, muito dura, mas gratificante”, observou a eterna vedete. Lilian foi casada com o ator, dramaturgo e diretor de teatro brasileiro, Petrônio Rosa de Santana, que ficou conhecido como Colé Santana.

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3 Responses

  1. olá, Aurora… adorei essa pagina sobre a Lilian Fernandes… sempre a adorei, mas nunca tinha achado dados biográficos sobre ela… gostei de vê-la aos 80 anos… está muito bem ainda… parabéns a você e a Lilian…

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